Honório Ângelo da Rocha recebe título de Servidor Emérito da UFG

 

Texto: Versanna Carvalho

Fotos: Carlos Siqueira

A outorga do título de Servidor Emérito entregue na quarta-feira (15/12) na Universidade Federal de Goiás (UFG) teve um caráter diferente das anteriores. Desta vez, o homenageado, o técnico-administrativo em educação (TAE) aposentado da Escola de Agronomia (EA/UFG), Honório Ângelo da Rocha, recebeu a honraria não apenas pelo seu trabalho na unidade acadêmica, mas sobretudo pela vida dedicada à defesa da carreira do servidor público e da universidade pública federal. 

Acredita-se que esta foi a primeira vez que um servidor público de uma universidade federal tenha reconhecida a sua trajetória na luta sindical pelos direitos de sua categoria. 

A história de Honório, de 66 anos, mistura-se a da UFG, com recém-completados 61 anos. Apesar de ter começado a trabalhar na Instituição em 1974, por meio de concurso público, como técnico de laboratório em análise de solo, ele já vivia no Câmpus Samambaia desde os 8 anos de idade, quando os seus pais, Vitor e Silvia, foram trabalhar na então Escola de Agronomia e Veterinária (Agrovet). O pai foi técnico de laboratório e a mãe trabalhou na cantina.

 

Trajetória

Em sua trajetória como técnico-administrativo, Honório foi o primeiro coordenador da comissão representativa dos funcionários da Agrovet. Depois de 15 anos de atividades na unidade acadêmica, foi eleito secretário-geral da então Associação dos Servidores da UFG (Asufego), entidade representativa dos técnico-administrativos e professores. Em 1986, assumiu a vice-presidência da Federação das Associações de Servidores das Universidades Brasileiras (Fasubra).

A saudação ao novo Servidor Emérito ficou a cargo da TAE e membro do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (Sintifesgo), Fátima dos Reis, sua colega de Universidade e de trabalho sindical. Ela lembrou que tanto as crianças que cresceram na Agrovet e arreadores quanto as que como ela foram criadas no Setor Universitário, próxima às Faculdades de Direito e de Odontologia, frequentavam muito os ambientes da UFG. "A gente brincava na Faculdade de Direito, na de Odontologia. Menino não tem fronteira. Aí veio o golpe militar e as coisas começaram a mudar", recorda-se.

Lutas

Fátima conta que os primeiros dez anos de regime militar enfraqueceram o movimento estudantil e de trabalhadores, mas que em meados da década de 1970 a situação começa a mudar. Período que coincide com a entrada de Honório como servidor da UFG.

"As lutas por direitos e planos de carreira tornaram-se constantes nos anos 1980. Houve muita luta e muita greve. Ninguém nunca deu nada de graça para nós", enfatiza. "Até o reconhecimento do nosso saber, por meio do título de Servidor Emérito, foi conquistado. E nós precisávamos desse reconhecimento", diz. 

Distinção

Fátima lembrou que de 2003 até 2021, apenas seis servidores da UFG obtiveram a distinção: o primeiro foi Paulo Afonso de Araújo Carvalho (Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - Propessoas)  em 2003, Winston Garcia (Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - Propessoas e ) em 2013, Marina Maria Porto de Castro (Instituto de Matemática e Estatística - IME) e Alcione Oliveira de Melo (Faculdade de Artes Visuais - FAV) em 2018, Izildinha Alves da Silva Jorge (Faculdade de Medicina - FM) e Honório Ângelo da Rocha (Escola de Agronomia - EA) em 2021.

"Em geral, os técnicos-administrativos em educação recebem o título pelo destaque em sua vida funcional. O Honório se dedicou à organização da categoria, na defesa da Instituição e dos direitos. Eu fiz uma pesquisa e não vi um técnico com o perfil do Honório receber esse título. A UFG dá um grande salto nesse sentido por reconhecer esse outro lado da nossa atividade", observa.

Colegas

O diretor da Escola de Agronomia (EA), Marcos Gomes da Cunha, comentou que sempre admirou o movimento dos técnico-administrativos, que na sua concepção sempre foi "mais sólido, unido, forte e com mais vitórias". Para falar na solenidade de titulação, ele consultou os servidores da Agronomia com mais de 40 anos de atuação para saber um pouco mais sobre o Honório. "A percepção que tive é de que todos são gratos e reconhecem o seu trabalho", comentou. "Os técnico-administrativos estão em diferentes atividades e é importante reconhecer quem contribuiu em todos os aspectos".

A reitora da UFG no período de 1998 a 2006, Milca Severino Pereira, parabenizou Honório pela honraria e cumprimentou alguns dos presentes que se dedicam a lutar pela garantia de direitos. "Às vezes as pessoas não se dão conta do quanto é desafiador esse papel da defesa do coletivo".

Já o diretor do Sintifesgo, Fernando Cesar Silva da Mota, observou que o reconhecimento à contribuição do Honório começa já com a composição da mesa diretiva que conta com dois reitores da UFG, um no exercício do mandato, Edward Madureira, e Milca Severino Pereira, que administrou a UFG em uma gestão anterior. "Esta é uma homenagem diferenciada tanto pelo perfil do Honório quanto pela presença de dois reitores", afirma. 

 

 

Honório diz que solenidades como essa sempre despertam grandes emoções. "É também o momento em que fazemos uma síntese de uma vida na UFG. O que me enche de emoção, orgulho e alegria. Eu quero agradecer a UFG pela oportunidade de fazer o concurso e de trabalhar desde o dia 22 de agosto de 1974", que também agradeceu à Fasubra, ao Sintifesgo e ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ao qual é filiado. 

O Servidor Emérito diz ainda que a iniciativa do Marcos Gomes de ouvir os colegas mais antigos da EA também lhe trouxe alegria. "A resposta dada por eles me enobrece e indica que estive no caminho certo", afirma Honório que também agradeceu aos pais Vitor Gomes da Rocha, à mãe Silvia, que estava presente à cerimônia, à mulher, às filhas e a outras pessoas que marcaram a sua trajetória.

Democracia

O homenageado citou uma fala sobre educação pública atribuída ao jurista, educador e escritor baiano Anísio Spínola Teixeira que diz que 'só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no País a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública'. "A universidade pública, a UFG pública, gratuita, de qualidade, socialmente engajada, com compromisso, buscando excelência, realizando, o quanto ela realiza até hoje, isso é máquina que prepara a democracia", em seguida Honório lembrou o crescimento experimentado pela UFG de 2002 a 2014, no número de cursos, prédios, estudantes e servidores. Ele destacou ainda o fato de que, atualmente, 70% dos discentes da Instituição são de baixa renda.

"Pertencer a essa Universidade é uma honraria que nos enobrece muito", diz e em seguida argumenta sobre qual é o mérito ou o grande resultado produzido para a escolha do seu nome como Servidor Emérito. "Foi o resultado de lutar para que a universidade pública continuasse a fazer aquilo que é papel dela fazer", diz sob aplausos. "Esse resultado o reitor enxergou. Embora a Universidade esteja na ponta de pesquisas, da extensão, do ensino de qualidade, da inclusão, ela precisa ser defendida. Os seus servidores, os seus professores, a sua comunidade precisa ser defendida para que ela continue fazendo isso. Há méritos visíveis nessa caminhada", conclui.

 

Destaques

No encerramento da cerimônia, o reitor da UFG, Edward Madureira, avalia que quando se faz uma homenagem como a de entrega de um título de emérito, é a própria Universidade que é homenageada. "Por que ela põe na galeria dos seus destaques as pessoas que ajudaram a construí-la. Representa os trabalhadores e nós somos todos servidores da Universidade. Professores, técnicos-administrativos   estamos aqui para servir e honrar o serviço público de qualidade. Você [Honório] representa uma face desse servidor [que defende direitos e a própria Universidade] que foi fundamental como já foi relatado".

Edward destaca que é o servidor público que lidera essa defesa da Universidade e de tudo o que ela representa para o País. "É o servidor público que tem a compreensão de toda a situação que vem ocorrendo com as universidades públicas federais nos últimos anos".

 

Para o reitor, é preciso desconstruir a dicotomia entre técnicos-administrativos e professores. "Talvez a diferença seja apenas no tipo de trabalho que cada um faz, pois todos estamos aqui pela educação, formando gente, ajudando a construir a sociedade. Não há diferença, por isso precisamos trabalhar cada vez mais para superar essas dificuldades". Edward conta que isso tem sido exercitado com mais técnicos nas pró-reitorias e em cargos de direção. "Até o dia em que não precisará falar mais quem é técnico, quem é professor. Somos todos UFG, somos todos servidores públicos", finaliza.  

Fizeram parte da mesa diretora o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil; o diretor da Escola de Agronomia (EA), Marcos Gomes da Cunha; a técnica-administrativa, Fátima dos Reis; a professora aposentada pela UFG e reitora da Instituição no período de 1998 a 2006, Milca Severino Pereira; o técnico-administrativo João Pires Júnior; e o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (Sintifesgo), Fernando Cesar Silva da Mota. 

Para ver o álbum de fotos da cerimônia de entrega do título de Servidor Emérito a Honório Ângelo da Rocha, clique aqui. 

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