“Brasil precisa incluir a ciência na sociedade”
A avaliação do pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, Jesiel de Freitas, foi realizada ao longo do Seminário do IQ
O Brasil ainda não incluiu, de fato, a ciência na vida nacional. A ciência não é considerada um elemento fundamental para a promoção do desenvolvimento econômico e social do país. A avaliação foi realizada pelo pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, Jesiel de Freitas Carvalho, durante a primeira atividade dos Seminários do Instituto de Química (IQ), no segundo semestre, realizada na última sexta-feira (18/8).
Conforme apresentou o professor Jesiel, o país está em um grupo de nações que possuem área maior do que sete milhões de quilômetros quadrados, mais de 100 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) maior do que um trilhão de dólares. Os quatro países principais que se enquadram nesse cenário são Rússia, Estados Unidos, Brasil e China. “Se olharmos os Estados Unidos e China são inquestionáveis nesse setor da Ciência e Tecnologia, assim como a Rússia. Já o Brasil não tem o mesmo protagonismo”, afirmou.
Pró-reitor de Pós-Graduação, Jesiel de Freitas, foi o primeiro convidado dos Semináiros do IQ
A capacidade de ciência e tecnologia brasileira é pequena, na avaliação do pró-reitor, a uma série de fatores culturais, econômicos e políticos. Entre eles, valores religiosos e sociais herdados da colonização; pouco valor às profissões de ofício e ao trabalho manual; a baixa escolaridade da população; a atividade econômica de pouco valor agregado; universidades tardias e que valorizam as Artes, as Letras e as profissões liberais. “Para se ter ideia, até mesmo empresários tem a mentalidade de que a ciência vem do exterior, de que ciência se compra”, disse.
O desafio, segundo o pró-reitor Jesiel de Freitas, é fazer a inclusão da ciência na sociedade brasileira e não se pode ter ciência sem educação de qualidade. “Essa receita não é nova, mas foi o caminho seguido inclusive pela Coréia do Sul que ao longo do século XX conseguiu superar sua condição de país subdesenvolvido, assim como o Japão”. De acordo com ele, para se ter Ciência, Tecnologia & Inovação (CTI) é necessária decisão da sociedade, que deve ser refletida em políticas de governo. “É preciso investimento, recursos humanos e ambiente empreendedor”.
Investimento
O PIB investido em pesquisa e desenvolvimento tecnológico no Brasil é em torno de 1%. A média mundial é de 2%. A Coréia do Sul investe mais de 4%, o Japão em torno de 3%, e Estados Unidos e China investem uma média de 2%. Os dados apresentados pelo palestrante ilustraram a constatação de que os países com mais desenvolvimento são os que mais investem na área.
“No Brasil, a partir do início do Milênio tivemos uma mudança de investimentos nessa área o que fez com que em 2014 ocupássemos a 13ª posição entre os países que mais publicam artigos científicos internacionais. Em 1993 ocupávamos a 24ª, em 2003 17ª”, afirmou Jesiel de Freitas.
Evento é direcionado para a comunidade acadêmica
Segundo o pró-reitor, especificamente na UFG, a evolução da pós-graduação e produção científica, em 17 anos, gerou o crescimento no número de artigos publicados. “Saltamos de uma centena para a casa dos mil artigos científicos publicados em revistas internacionais”. Os indicadores de produção científica da UFG, em 2017, mostram que 9,1% dos artigos científicos publicados pela instituição estão entre os mais citados no mundo. Ou seja, a repercussão dos artigos da UFG tem a mesma média brasileira. Por sua vez, segundo o pró-reitor, o percentual de artigos da UFG publicados nas revistas de maior impacto do mundo é de 18,4%. A média nacional é de 19,1%. “Esses são números para comemorar, pois demostram o potencial enorme que temos. E quando há condições adequadas, investimento, os resultados aparecem muito rápido”, afirmou.
Universidade
Segundo os dados citados pelo professor Jesiel Freitas, com base no ano de 2008, o número de pesquisadores no Brasil para cada 100 mil trabalhadores é de 1,3%. Em comparação, nos Estados Unidos e na Coréia do Sul, para cada 100 mil trabalhadores, quase 10% são pesquisadores. Segundo o pró-reitor, a maior parte desses pesquisadores brasileiros está na universidade. “Esses pesquisadores precisam estar nas indústrias, nas empresas, e também nos governos”. Essa realidade demostra uma fragilidade do sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Informação, mas também, segundo o palestrante, amplia o papel e a responsabilidade social das Instituições do Ensino Superior (IES), que devem se envolver nos esforços de transferência do conhecimento e de formação de atitude empreendedora.
“Precisamos encontrar mecanismos para a conversão do conhecimento avançado em desenvolvimento econômico e social. Precisamos nos abrir mais às empresas e, por sua vez, no espaço das empresas é necessária adquirir a cultura da inovação, a confiança na capacidade científica e técnica do país”, afirmou professor Jesiel Freitas.
Segundo o pró-reitor de Pós-Graduação, a UFG apresenta bons exemplos de aproximação às empresas, além de decisões de investimento. O Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CRTI), por exemplo, atendeu cerca de 50 empresas públicas e privadas entre 2014 e 2017. Por sua vez, o Parque Tecnológico Samambaia, segundo ele, vai abrigar centros integrados de pesquisa e inovação e será um espaço aberto à comunidade externa.
Source: Ascom UFG
Catégories: Última Hora