Festival começa abordando práticas de afeto e amores desviados
Primeiro dia do II Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo) foi marcado por manifestações artísticas e debates
Texto: Luciana Gomides
Fotos: Ana Fortunato
No início da tarde desta quinta-feira (1/6), quem passou pela Praça Universitária se deparou com uma procissão. Trajados com vestidos de noiva ou trazendo pinturas pelo corpo, artistas participantes do II Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo) romperam com o cotidiano automatizado da cidade, desviando a atenção e sentindo os olhares do público com a intervenção urbana Eu te Aceito. A caminhada foi encerrada com apresentação performática que explorou as práticas de afeto e amores desviados.
Ivan Martins, um dos organizadores do Digo, explica que os trajes foram pensados também como forma de provocar as convenções sociais impostas, além do preconceito ainda arraigado em todas as esferas da sociedade, inclusive no meio educacional. Discutindo a respeito dessas questões, ele recordou as represálias sofridas pelo grupo ao levar a performance a duas instituições de ensino da capital, quando os artistas chegaram a ser expulsos.
Performance Eu te Aceito abriu as atividades do Festival, na Praça Universitária, questionando convenções sociais
"Eu não quero ser tolerado, mas respeitado"
As performances de rua foram seguidas pela projeção do longa Sobre Nós. Dirigido por Mauro Carvalho e Thiago Cazado, o filme traz as lembranças da história de amor vivida por Diego (representado por Cazado), em que são tratados os problemas, alegrias e sonhos divididos pelo casal. Após a exibição, os diretores promoveram um debate, mediado por Ivan, abrindo espaço para perguntas e comentários dos espectadores. Ao comentar sobre a repercussão desta e outras obras produzidas por ele, Thiago comparou a hostilidade sofrida por uma minoria ao respeito demonstrado pela maior parte do público do festival, o que, para ele, representa a esperança de um futuro melhor.
Diretores do filme Entre Nós, Mauro Carvalho e Thiago Cazado, participaram de um debate ao fim da exibição
O bate-papo foi encerrado com o depoimento marcante de um dos espectadores. Elogiando o trabalho dos diretores, o jovem contou a sua insatisfação em sempre assistir a peças e filmes sem conseguir se imaginar dentro das histórias, o que não aconteceu naquela tarde. "Poxa, como é bom assistir a um filme e sentir-se representado", desabafou. Emocionados, Mauro e Thiago assumiram que aquele tipo de fala demonstrava terem alcançado o objetivo dos longas e peças dirigidos por eles, que sempre quiseram trazer ao público a consciência de que todos têm direito à representação. "Como dizem as palavras proferidas por Cazado, 'não quero ser tolerado, quero ser respeitado'".
Teologia Inclusiva
O respeito à liberdade religiosa também foi garantido com a participação das chamadas igrejas inclusivas, como a Comunidade Cristã Renascer. Thiago Aires, representante da comunidade, explicou que esta é uma das cinco igrejas atuantes em Goiânia que estimulam a Teologia Inclusiva, cujo conteúdo é a discussão do conteúdo bíblico sem a interpretação costumeira das igrejas tradicionais. Além da bíblia, também são lidos textos e obras de autores diversos.
Aires assumiu que, apesar do uso frequente e, de certa forma, inevitável, não gosta, propriamente, do termo "inclusivo", a partir do momento em que uma instituição religiosa não deveria incentivar a exclusão. "Deus é todos ou é ninguém", afirmou. Tanto que, ao longo da conversa, fez questão de frisar a heterogeneidade do público que participa dos cultos. "Eles são frequentados por homossexuais, transexuais, bissexuais e suas famílias, além de todos aqueles que têm interesse em conhecer o que é a Teologia Inclusiva", detalhou Thiago.
Digo
O II Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo) ocorre de 1 a 4 de junho, no Centro Cultural da UFG, na Praça Universitária. Ao longo dos quatro dias do evento serão desenvolvidas atividades diversas, como dança, filmes e debates. O evento tem como objetivo promover e estimular a conscientização do público nas questões relacionadas aos Direitos Humanos e inclusão das minorias articulando tecnologias, educação e audiovisual abordando a sexualidade e a realidade do ser humano e suas nuances. Confira aqui a programação completa do festival.
Source: Ascom UFG
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