Que África os africanos querem?
Semana da África está em sua nona edição e este ano discute a colonização e as independências de hoje
Texto: Angélica Queiroz
Fotos: Ana Fortunato
“Pensar para melhor agir”. Foi lembrando essa máxima que a professora do Programa de Pós Graduação em Estudos Étnicos e Africanos-Pós Afro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Patricia Alexandra Gomes, começou a provocação de sua palestra, que abriu a nona edição da Semana da África, evento organizado por estudantes africanos em Goiás, que acontece na UFG até o dia 4 de junho.
Patricia Alexandra Gomes defendeu a definição de uma agenda africana do século XXI face aos atuais desafios dos estados nacionais e convidou os presentes a refletir profundamente sobre as conquistas e as dificuldades, as capacidades e as fraquezas e para construir e desconstruir conceitos sobre o continente africano. “O desafio parece ser a necessidade de transformar o potencial africano em certezas, o saber em poder, com centralidade nas populações”, afirmou.
Para a pesquisadora, os 54 anos de independência do continente africano são tempo suficiente para um balanço do percurso e é necessário uma visão de longo prazo para pensar que África os africanos querem. “Esse tempo não pode ser visto como tempo perdido, mas como tempo de experiência e descobertas”, pontuou. Patricia também falou sobre as problemáticas e desafios da produção do conhecimento em África. “Será que a forma como o conhecimento é tabulado e transmitido satisfaz as demandas sociais? A quem beneficiam os resultados desses estudos e como eles são absorvidos pelas comunidades?”, questionou.
Professora Luciana Dias destacou necessidade de pensarmos sobre a África e também sobre a África no Brasil
“Colonização na África e as independências de hoje”
O presidente desta edição da Semana da África, o estudante de Odontologia Pavel Quade, foi quem deu início às atividades do evento. Ele lembrou a história da Semana da África, que celebra o Dia da África, 25 de maio, e tem se consolidado como um espaço de elucidação sobre o continente. Pavel destacou o tema do evento “Colonização na África e as independências de hoje”, observando sua importância neste momento. “Queremos refletir sobre nosso passado histórico e nosso presente para pensar em nosso futuro”, explicou. Pavel Quade lembrou ainda a luta de grandes líderes africanos por uma África verdadeiramente independente. “Nossa luta por descolonização não terminou. Por isso somos chamados a questionar que tipo de independência temos hoje e que tipo queremos ter”, pontuou.
O estudante Ivando de Jesus apresentou duas canções durante a abertura do evento
Coordenador do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) – destinado a estudantes estrangeiros da África, Ásia e América Latina – o professor Jean Baptista, destacou vitórias do programa, como a conquista de bolsas de assistência para esses estudantes e o Espaço de Convivência onde eles encontram, além de acolhimento, reforço acadêmico. Apesar disso, Jean ressaltou que muito ainda precisa ser feito. “Ainda não superamos de fato a colonização. Há muita luta pela frente!”, concluiu.
Pavel Quade (à direita) destacou a importância do tema desta edição
Semana da África
Criada em 2009, a Semana da África é um evento organizado por estudantes africanos residentes no estado de Goiás junto com o Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG (LaGENTE). O evento tem como principal objetivo desconstruir a noção, muitas vezes reforçada pela mídia, de que África é um país e apresentar o continente como um todo e não somente pelas suas precariedades e belezas naturais. A programação do evento é composta por mesas-redondas, roda de conversa, oficinas, campeonato de futebol e atividades culturais.
Fonte: Ascom UFG