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Saberes quilombolas e indígenas

Etnomatemática promove discussão de saberes

On 09/14/16 14:19 .

Encontro entre indígenas, quilombolas e acadêmicos gerou reflexões sobre educação

Texto: Natália Moura

Fotos: Ana Fortunado

Quando pensamos sobre o significado da palavra saber, muitas vezes só nos lembramos do saber acadêmico e, de forma despercebida, acabamos esquecendo dos saberes dos povos tradicionais, muitas vezes negligenciados pela academia. A mesa Saberes quilombolas e indígenas em diálogo com a Etnomatemática e Etnomusicologia, parte do 5° Congresso Brasileiro de Etnomatemática realizado na UFG entre os dias 11 e 14 de setembro, promoveu na noite desta terça-feira (13/9) uma discussão que saiu do campo da matemática e englobou os saberes como um todo. Composta pelo professor indígena Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé, pelo mestre quilombola Antônio Bispo dos Santos, e pelos professores Rosângela Pereira de Tugny da UFSB e Vanísio Luiz da Silva, veio para provocar essa reflexão.

 Saberes quilombolas e indigenas

Público assistiu palestra sobre saberes quilombolas e indígenas em diálogo com a Etnomatemática e a Etnomusicologia

Saber Indígena

Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé destacou a diferença entre a educação indígena e a educação escolar indígena. Segundo ele, na primeira, existe uma valorização da cultura da comunidade, como no caso do povo Tapirapé, habitante da serra Urubu Branco no Mato Grosso, onde também é valorizado o respeito aos anciões e aos costumes. Para Gilson, existem dois locais os mais jovens aprendem a educação indígena: no Takarã, o centro de organização da tribo – onde as mulheres não podem entrar–, e na própria casa dos habitantes, onde as mulheres são ensinadas. Essa divisão entre masculino e feminino também ocorre nas artes indígenas, a tecelagem, por exemplo, é feita apenas por mulheres.

Em contraponto, a educação escolar indígena ocorre na escola da comunidade. Nela, segundo o professor indígena, são ensinadas a prática de leitura, de escrita e de códigos escolares não indígenas. Ele explicou que, tudo referente ao ensino é decidido pela comunidade, como avaliações e calendário escolar. Também são trabalhados os conhecimentos de outras tribos e duas línguas (a língua da tribo e o português). “Estimulamos conhecimento e respeito entre os seres humanos para preparar cidadãos interculturais e bilíngues”, contou o professor Gilson Tapirapé que finalizou afirmando que o povo Tapirapé é ensinado para saber viver dentro e fora de sua comunidade.

Saber Quilombola

O mestre quilombola, Antônio Bispo dos Santos foi ovacionado ao trazer ao palco a discussão entre o saber orgânico (quilombola) e o saber sintético (acadêmico). Segundo ele, só em 1988 o saber quilombola foi certificado como um saber popular brasileiro e, mesmo assim, ainda não foi reconhecido. Para Bispo, os povos quilombolas tem o saber voltado ao ser e ao dialogo nas fronteiras de saber. “O saber sintético é perverso e incapaz de compreender fronteiras, só se reconhece um saber quando se dispõe a aprendê-lo, os pesquisadores podem até se certificar ou catalogar o saber orgânico, mas não se reconhece”, afirmou.

 professora Rosangela

Professora Rosângela Tungry da Universidade Federal do Sul da Bahia em sua fala sobre Etnomusicologia

Etnomusicologia

“Por que música?”, essa foi a indagação feita pela professora da UFSB, Rosângela Tugny. De acordo com ela, a música na sociedade ocidental é um debate importante para a matemática, já que o filosofo Platão na Grécia antiga catalogou os instrumentos musicais em números. “O que não podíamos transformar em Matemática, como tambores, foram banidos porque a sociedade ocidental queria ter o todo em suas mãos”. Rosangela Tugny relatou que foi aprendido a tocar os instrumentos exatamente por isso e que os que não “entravam no controle da forma” eram descartados.

Assim com nos outros saberes acadêmicos, a música se uniu ao saber sintético que esqueceu por séculos para dialogar com as fronteiras de outras músicas, como os cantos índigenas. “Cometemos uma violência epistêmica grande quando falamos que os povos tradicionais são da oralidade, nós só não aprendemos ainda a ler suas escritas e sua multiplicidade de currículos e formas de ensinar”, afirmou a professora ao dialogar sua fala com a de seus companheiros de mesa. 

Source: Ascom UFG

Categories: etnomatemática congresso Quilombola indígena Musicologia Última hora

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