
Música brasileira urbana é tema de debate na UFG
Assunto foi tema de mesa-redonda no VI Simpósio Internacional de Musicologia, que reuniu pesquisadores da UFG, UFU e Umesp
Texto: Camila Godoy
Fotos: Ana Fortunato
A música popular brasileira urbana, com suas diversas nuances, foi tema de uma mesa-redonda que ocorreu na manhã desta terça-feira (14/6), no Centro Cultural UFG. Na ocasião, a professora da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, Magda de Miranda Cimaco, o professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Adalberto Paranhos, e o docente da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Herom Vargas, apresentaram suas pesquisas sobre o assunto, abordando o choro de Brasília, o samba carioca na época do Estado Novo e as capas de discos dos anos 70. O debate faz parte da programação do VI Simpósio Internacional de Musicologia, que promove diversas atividades até o final desta semana.
Mediado pela doutoranda Andrea Luiza Teixeira, a primeira exposição da mesa-redonda ficou a cargo da professora Magda de Miranda Cimaco. A docente tem como objeto de estudo a música instrumental no cenário brasiliense e sua interação com a música carioca choro. Para tanto, Magda de Miranda Cimaco analisou três fases do desenvolvimento desse gênero musical em Brasília: a década de 60 e 70, em que predominou o choro tradicional, importado do Rio de Janeiro pelos servidores públicos da antiga capital brasileira; a década de 90, com o choro moderno, marcado pelo diálogo com outros gêneros musicais; e, finalmente a fase pós-moderna, atual, em que o global se mistura com o regional.
A pesquisadora trouxe registros fotográficos e audiovisuais de apresentações musicais ocorridas em Brasília e analisou o trabalho de alguns artistas reconhecidos nacionalmente por suas contribuições ao gênero, como Hamilton de Holanda. Segunda ela, o artista cresceu no Clube do Choro, fundado nos anos 90 na capital brasiliense, onde teve sua base de formação musical, mas que anos mais tarde rompeu com o tradicionalismo e hoje é um dos principais nomes da era pós-moderna. “O choro é considerado por muitos a música genuína brasileira. O interesse da juventude por esse gênero foi fundamental para que ele ganhasse força no país e se transformasse ao longo dos anos”, afirmou.
A pesquisadora Magda de Miranda Cimaco despertou a interesse de músicos que estavam na plateia ao analisar o choro desenvolvido em Brasília
Samba
Objeto de análise dos estudos de Adalberto Paranhos, o samba urbano carioca da década de 70, época da Ditadura do Estado Novo e da censura coordenada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), também foi tema do debate. Na ocasião, o professor fez uma análise sobre como algumas canções destoaram do comportamento e do discurso imposto pelo sistema. “A ditadura quis construir o samba de exaltação, que aclamava a pátria, o trabalho e a submissão feminina, valores opostos ao samba ao malandro, estilo que historicamente se estabeleceu no Rio de Janeiro”, explicou.
O pesquisador estudou centenas de músicas da época e concluiu que, apesar dos esforços do Estado para monopolizar a música, diversos artistas resistiram e driblaram a censura. “Muitos estudiosos se apegam somente a parte escrita das músicas, assim como o DIP fez por muito tempo, e não analisam a composição sonora”, defendeu. Assim, o professor trouxe letras e gravações de canções que demostravam como artistas introduziam recursos na hora de cantar que desconstruíam o discurso “aparentemente” alinhado aos interesses do Estado. A pesquisa completa de Adalberto Paranhos está descrita no livro Os desafinados: sambas e bambas no ‘Estado Novo', que foi lançado no Centro Cultural UFG, logo após o debate.
Apresentação de Adalberto Paranhos foi um recorte do livro de sua autoria que analisa o samba carioca da época da Ditadura Militar
Design dos discos
Para finalizar as apresentações da mesa-redonda, o professor Herom Vargas analisou como as capas de discos das gravadoras Philips e Continental, nos anos 1970, traduziam os interesses do público, dos artistas e das produtoras, em meio à Ditadura. “As capas de discos representaram novos suportes para artistas plásticos e fotógrafos dialogarem com a música, por meio do design”, afirmou. Para exemplificar, Herom Vargas analisou capas de discos dos cantores Caetano Veloso, Tom Zé, Walter Francom, entre outros. Ao final, o público pôde fazer perguntas, observações e conversar com os pesquisadores.
Plateia interagiu com os pesquisadores e elogiou as apresentações
Fuente: Ascom UFG
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