UFGInclui recebe maior número de estudantes desde sua criação
Em 2016, a Universidade recebeu 84 indígenas e quilombolas, mais que o dobro de 2015
Texto: Angélica Queiroz
Fotos: Carlos Siqueira
Criado para democratizar o acesso à Universidade, o Programa UFGInclui tem crescido a cada ano. Em 2016, recebeu 84 estudantes indígenas e quilombolas, nas regionais Goiânia, Goiás, Catalão e Jataí, o maior número desde a sua criação, em 2009. Em 2015, foram 35. Com o ingresso dos novos estudantes, a Universidade Federal de Goiás (UFG) conta agora com mais de 60 indígenas e mais de 100 quilombolas. O UFGInclui prevê uma vaga extra em cada curso de graduação em que houver demanda indígena e quilombola, quando oriundos de escola pública, a partir da pontuação obtida pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), bem como 15 vagas para candidatos surdos na graduação Letras Libras.
Coordenador de Inclusão e Permanência da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFG) e do UFGInclui, o professor Jean Baptista ressalta que esse crescimento se deve principalmente ao projeto “UFG nas comunidades”, com oficinas que esclarecem como ingressar na UFG, e que tem o envolvimento de professores e alunos. Outro fator, segundo Jean Baptista, é a ajuda dos estudantes veteranos que se tornam porta-vozes do programa em suas comunidades e fora delas. “Eles viram multiplicadores e assumem o protagonismo do UFGInclui”, completa. Pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello de Almeida Neto, ressalta que a Universidade deve ser um espaço de diversidade e pluralidade. “A recepção desses estudantes é a expressão do compromisso da UFG com esses grupos que, tradicionalmente, foram excluídos e tiveram seus saberes e sua cultura também excluídos do universo acadêmico”, afirma.
Apesar da possibilidade de acesso, os estudantes ainda vivem muitas dificuldades para permanecer na Universidade. Uma das razões é a desinformação sobre seus direitos. Todos os indígenas e quilombolas que ingressam na UFG, assim como nas demais universidades brasileiras, têm direito a uma bolsa de 900 reais, paga, desde 2010, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) via Ministério da Educação (MEC). Por esse motivo, a Coordenação de Inclusão e Permanência da UFG está presente no ato da matrícula para informar aos estudantes sobre seus direitos e identificar casos que mais precisam de acompanhamento, além de realizar mediações em cursos de formação de novos professores, conselhos diretores e semanas pedagógicas, para tentar contribuir na formação de profissionais mais preparados para lidar com as especificidades dos alunos do UFGInclui.
Estudantes ingressam até nos cursos mais concorridos
O UFGInclui cria uma vaga extra em qualquer curso onde haja demanda, inclusive naqueles com maior concorrência na disputa por uma vaga. O indígena Leomar Waynê Xerente, 24 anos, estuda Direito na UFG. Ele, que iniciou o curso em 2014, acredita que o UFGInclui tem ajudado bastante os indígenas a ingressarem na universidade. O estudante afirma que, no início, sofreu com o choque cultural mas, com a ajuda dos colegas, está se adaptando e já tem planos para quando concluir o curso. “Quero me especializar em Direito Indígena, em causas de terra, educação, saúde e meio ambiente. Há poucos advogados atuando nessas causas”, relata.
A quilombola Hellen Stephanye Rosa de Oliveira, 26 anos, estuda Medicina na UFG. Este é o segundo curso da estudante na Universidade. Ela já concluiu Biomedicina mas, com o UFGInclui viu sua chance de realizar o sonho de ser médica. Segundo ela, o programa ajuda muito a comunidade Kalunga. “Na minha família poucas pessoas têm Ensino Superior. Agora, com o UFGInclui, existe a possibilidade de ingressarmos nesse mundo que a gente nem conhecia”, relata. A estudante afirma que enfrenta muitas dificuldades, especialmente com as disciplinas mais específicas, mas que estuda dobrado para compensar. “Me viro enfiando a cara nos livros e sei que vai valer a pena”, conclui.
Hellen é estudante do curso de Medicina
Histórico
Antes da aprovação da Lei de Reserva de Vagas (Lei 12.711/2012) - que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas instituições federais de ensino superior para alunos que cursaram o Ensino Médio integralmente em escolas públicas, estudantes de baixa renda e pretos, pardos e indígenas - o Programa UFGInclui beneficiava estudantes de escolas públicas, negros, quilombolas e indígenas. A partir do vestibular de 2013, o UFGInclui se adequou à lei e passou a abranger apenas quilombolas e indígenas de escolas públicas, além de estudantes surdos no curso de Libras. Os demais estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e querem optar pelas cotas, agora são incluídos na Lei de Reserva de Vagas.
Após formado, o estudante quer atuar na área de Direito Indígena
Source: Ascom/UFG
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