OS na educação em Goiás volta a ser assunto de debate na UFG
Evento é parte da programação de Boas-vindas UFG 2016
Texto: Angélica Queiroz
Fotos: Adriana Silva
Calouros e veteranos, em especial dos cursos de licenciatura, professores, mestrandos e comunidade compareceram em grande número ao primeiro evento da programação de Boas-vindas UFG 2016, na noite desta terça-feira (5/4). Promovido pelo Fórum de Licenciatura da Regional Goiânia, a mesa-redonda discutiu a relação público e privado na educação básica e suas implicações para a formação de professores, com foco na proposta de implantação de organizações sociais (OSs) na educação em Goiás, tema que vem sido amplamente discutido na Universidade desde o ano passado.
Pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello de Almeida Neto, mediou o debate que considerou extremamente importante no contexto da acolhida aos novos estudantes. Luiz Mello lembrou a conjuntura das ocupações, conflitos e prisões relacionadas à implantação das OSs no ano passado e ressaltou a importância da presença do público no evento. “Ver essa sala cheia de pessoas interessadas nesse debate enche o meu coração de alegria e esperança”, destacou.

Pró-reitor destacou currículo de convidados, importantes e respeitados intelectuais goianos

Todo o evento contou com a presença de intérpretes de Libras
Contexto internacional
Professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), José Carlos Libâneo, deu boas-vindas aos novos estudantes de licenciatura. “Daqui a dois anos completo 50 anos de professor e continuo muito animado com a profissão. Espero que também se animem porque a escola pública precisa muito de nós”, afirmou. Em seguida, iniciou a discussão situando a problemática das organizações sociais nos contextos nacional e internacional, sua área de especialidade.
Segundo José Carlos Libâneo o modelo de gestão proposto no projeto das OSs em Goiás faz parte das políticas internacionais do Banco Mundial que tem ocupado papel central na educação dos países emergentes. O professor criticou o currículo instrumental, como foco em resultados, adotado pelas escolas goianas e que, segundo ele, treina os alunos para fazer testes. “Fico muito triste que vocês professores estudem por vários anos e reduzam seu trabalho a treinar meninos para fazer testes, sem pensar no papel que a educação tem de reduzir desigualdades sociais e não ser a causadora delas. O ensino fica transformado em um treino para testes para aumentar a média da escola e fazer bonito na placa do IDEB, de maneira falsa”, comentou.
José Carlos Libâneo afirmou que as OSs não são algo isolado dentro desse modelo de educação e que elas visam transferir para o setor privado as atividades que são de responsabilidade do poder público. “Isso contraria concepções muito caras de educação, pelas quais lutamos. Escola não é empresa. Esse modelo causa um prejuízo incalculável porque se trata de ensino pobre para pessoas pobres. O ensino deve ser público porque somente assim é possível garantir escola boa para todos”, opinou.

Para Libâneo, OSs estão inseridas no modelo de educação que adota um currículo focado em resultados
Cenário goiano
Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Mirza Seabra Toschi, começou sua fala deixando claro seu posicionamento contrário ao modelo de gestão por OS. “Gestão compartilhada é terceirização. As OSs fazem parecer que são os professores que atrapalham as escolas”, opinou. Segundo Mirza Toschi, faltam nove mil professores em Goiás e o cenário das escolas é precário. “Essa proposta é um abandono das escolas com dificuldades”, opinou.
Para Mirza Toschi está sendo feita uma manipulação jurídica da lei das OSs em Goiás. Ela lembrou que nenhuma das OSs que concorreram ao edital foi aprovada e que, mesmo com todos os pedidos feitos por diversos atores, o processo não foi suspenso. A professora criticou a falta de diálogo e lembrou que o Coletivo de Professores já encaminhou ao Ministério público uma carta apresentando os argumentos contrários ao projeto, que conta hoje com mais de 800 assinaturas. Segundo Mirza Toschi, a solução passa pelo aumento de recursos para a educação e valorização dos professores. “Os professores não são parte do problema, eles são a solução”, concluiu.

Mirza Toschi lembrou baixa atratividade da carreira de docente

Centenas de pessoas compareceram ao debate
Fonte: Ascom UFG
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