Palestra aproxima Robótica e Sociologia
Yurj Castelfranchi expõe como os desenvolvimentos da robótica têm acompanhado mudanças profundas na política e na economia
Texto: Raniê Solarevisky
Fotos: Vitor Martins
A UFG recebeu ontem (25/02) o professor Yurj Castelfranchi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para a conferência Sociologia do Robô – Corpos, consciências, sociabilidades na inteligência artificial contemporânea. O evento foi realizado pelos grupos de pesquisa Lumus - Pesquisas em Comunicação Científica e Olhares - Corpo, ciência e tecnologia, vinculados à Faculdade de Informação e Comunicação da UFG.O palestrante, que tem formação em Física Quântica e Sociologia, demonstrou como os desenvolvimentos recentes na área da automação e da inteligência artificial estão alinhados com mudanças na cultura, na política e na economia de nossos dias. “É interessante observar que sempre que falamos em robôs, parece algo que pertence ao futuro, quando, na verdade, eles têm assumido formas cada vez mais diversas em produtos e processos com os quais lidamos todos os dias”, explicou o professor.
Segundo o pesquisador, embora filmes como Alien, Transformers, Matrix, Wall-e e Metropolis associem a figura do robô com retratos de ficção, os carros que utilizamos para nos locomover e os remédios que tomamos todos os dias são fabricados tão somente por robôs. Castelfranchi lembra que a ideia de Robótica vai além da construção de humanóides autônomos: softwares que utilizam inteligência artificial, como o programa de buscas personalizadas do Google, também são chamados de “robôs”.
Exploração de fronteiras
Para o pesquisador, os extremos associados à robótica – ora vista como a redenção da humanidade, ora como a responsável pelo apocalipse – têm relação com a maneira como o Conhecimento é visto desde os tempos antigos. “Aprender, conhecer e explorar novas possibilidades é a aventura e o dever do ser humano e, ao mesmo tempo, a violação de limites e a perda de controle. Essa ideia é recorrente desde mitos antigos como o de Prometeus até filmes como Frankenstein”, ilustrou.
De acordo com Castelfranchi, o desenvolvimento da inteligência artificial caminha para atingir a Singularidade: Um estágio de processamento de informações em velocidade e volume sem precedentes, capazes de até de superar o cérebro humano. “As previsões de datas variam bastante, mas já sabemos que essa máquina será a última criada pelo ser humano, já que ela será capaz de criar suas próprias máquinas”, destacou.
Frente a essa realidade, coloca-se em questão o que é ser humano: “O Ocidente tem criado várias concepções para isso, mas parece haver um consenso geral de que uma pessoa pode ser representada pela soma de um corpo humano e uma consciência”, declarou. “Por isso, sempre que vemos uma das duas coisas em separado, é assustador. Zumbis e robôs são corpos sem consciência, e supercomputadores com inteligência avançada são consciências sem corpos”, explicou.
O pesquisador defende que os seres humanos têm assumido comportamento cada vez mais robóticos
Robotizando a política
O professor destacou que as decisões políticas e econômicas de nosso tempo não têm sido tomadas com base em reflexões morais ou um senso ético de justiça, mas por meio de evidências científicas. “Vejam o exemplo do aborto: Nos debates políticos, não há menção à ideia de assassinato ou à concepção de ‘vida’, mas discursos que usam números de pesquisas para justificar ou coibir a prática do aborto”, explicou.
Nesse sentido, seres humanos têm assumido comportamentos cada vez mais robóticos. “É isso que é realmente assustador: Decidimos robotizar a política; abrimos mão de tomar decisões importantes e assumir posicionamentos com implicações éticas, por exemplo, para algoritimizar a política”, concluiu.
Professora Suely Henrique da Faculdade de Informação e Comunicação apresenta o palestrante convidado
Source: Ascom/UFG
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