
Qualidade de vida da pessoa surda é tema de trabalho de mestrado
Professora da Faculdade de Letras, Renata Garcia, é a primeira estudante surda a defender sua dissertação em um programa de pós-graduação da UFG
Texto e fotos: Angélica Queiroz
Uma defesa de mestrado na manhã desta quinta-feira (18/2) foi um marco para o Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, da Faculdade de Medicina, e para a UFG. Renata Garcia, que estudou qualidade de vida da pessoa surda no ambiente familiar, é a primeira estudante surda a concluir uma pós-graduação na instituição. A apresentação, assim como as aulas e orientações, foi feita na Língua Brasileira de Sinais (Libras), com o auxílio de intérpretes, e emocionou a banca, a mestranda e o público, de surdos e ouvintes, que acompanhou o momento.
A estudante, graduada em Letras-Libras e professora da Faculdade de Letras da UFG, foi orientada pelo fundador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, professor Celmo Celeno Porto, que fez questão de destacar a importância da ocasião para o Programa, que é o maior da Universidade, com mais de 300 alunos de várias áreas do conhecimento. “É um momento muito especial para o Programa, que se inspirou na ideia de que o processo saúde-doença não pode ficar prisioneiro das Ciências Biológicas; para mim, que aprendi muito; e pela Renata que, sem nenhuma diferença dos demais alunos, conseguiu fazer tudo o que foi exigido, inclusive ministrar aulas, e por esse talento, perseverança e brilho nos olhos que a diferencia dos demais”, declarou o professor, que fez questão de passar a palavra para a orientanda em Libras.
Professora da banca avaliadora fez a arguição em Libras
Em sua apresentação, Renata Garcia, destacou a importância da língua de sinais na família e na área da saúde e ressaltou que seu trabalho é o primeiro projeto no Brasil a tratar a temática. O trabalho foi dividido em dois artigos. O primeiro é um relato de vivência da própria Renata, como surda, a partir de suas memórias e de conversas com a mãe. Quando criança, ela chegou a usar aparelhos auditivos e fazia leitura labial porque as pessoas do seu convívio não conheciam a língua de sinais. Só aos 19 anos, escolheu e começou a aprender Libras. “Ela sim é a minha língua natural, que consegue abrir a minha mente. Hoje me sinto feliz de ser surda e me comunicar em Libras”, afirmou.
A segunda parte do trabalho foi uma pesquisa feita com 194 pessoas – 100 surdas e 94 ouvintes, sobre o convívio familiar e a comunicação em língua de sinais. Segundo Renata Garcia, o preconceito causado, principalmente, por falta de informação dificulta o convívio e faz com que as pessoas surdas tenham uma qualidade de vida pior que as ouvintes. “As relações nem sempre ocorrem de forma harmoniosa e o problema está na comunicação e não na surdez”, esclareceu.
Trabalho foi apresentado em Libras, com o auxílio de duas intérpretes
资源: Ascom UFG