Tragédia em Mariana

Debate faz interpretação geográfica da tragédia da Mariana

Sur 03/12/15 11:27.

Professores avaliaram contexto do rompimento das barragens em diálogo com a comunidade acadêmica

Texto: Angélica Queiroz

Fotos: Carlos Siqueira

Na manhã desta quinta-feira (3/12) o professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e doutorando no Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa), Ricardo Assis e o professor do Iesa, Romualdo Pessoa, reuniram estudantes, professores e demais membros da comunidade acadêmica no auditório do Instituto de Matemática e Estatística da UFG para uma interpretação geográfica sobre o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, no município de Mariana, no último dia 12 de novembro.

Ricardo Assis iniciou a discussão explicitando como Goiás se insere no contexto brasileiro, como principal produtor de amianto e com mineradoras importantes, especialmente no Norte do Estado. O pesquisador alertou que o que aconteceu em Minas Gerais não é algo distante porque o nosso estado também possui mega barragens de rejeitos, com alto dano de potencial associado.

O professor destacou o que ele chamou de pressupostos da atividade de mineração: “apesar de existir esforço da governança ela é, por natureza, uma atividade destrutiva” e “não é possível dissociar a mineração das estratégias de acumulação de capital”. Ricardo Assis também ressaltou que a mineração é uma das atividades mais intensivas do uso de água e lembrou os lucros e o poder da Samarco, além das condições precárias às quais muitos trabalhadores do setor são submetidos.

Ricardo Assis, que visitou os distritos atingidos poucos dias após a tragédia e conversou com moradores, contou um pouco do que viu e ouviu das populações atingidas, destacando que já existia, por parte dos moradores da região, uma preocupação com os riscos de um possível rompimento e que, mesmo assim, não havia uma estrutura de alarme e mobilização da população no momento do desastre.

Interpretação geográfica de Mariana

Professor Ricardo Assis visitou as comunidades atingidas e contou sua percepção da tragédia

Em seguida, Romualdo Pessoa tentou, em suas palavras, dar “um choque de realidade” nos presentes. “Provavelmente daqui a alguns dias todo mundo vai esquecer essa tragédia, como já esqueceu tantas outras”, lamentou. Segundo o professor do Iesa, a lógica do sistema capitalista está por trás do que aconteceu em Mariana. Ele destacou a força e o poder que essas corporações exercem nas regiões onde exploram as riquezas, tendo, inclusive, as administrações municipais como reféns, porque, segundo ele, essas também dependem do dinheiro das empresas.

Para o professor, o capitalismo não é capaz de solucionar os problemas criados por ele próprio e, para uma discussão lúcida, é preciso começar enxergando essa contradição. Romualdo Pessoa destacou que o desenvolvimento é necessário, mas que não pode ser feito a qualquer custo, como tem acontecido. “O agronegócio e a mineração, justamente as atividades mais destrutivas que existem, são as bases do PIB do Brasil”, lastimou. O professor afirmou que esses desastres acontecem para manter o estilo de vida da população e provocou: “quantos estão realmente dispostos a mudar radicalmente seus estilos de vida?".

 

 

Source: Ascom UFG

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