
Debate apresenta diagnósticos e soluções para crise hídrica no Brasil
Mesa-redonda realizada durante 20º Simpósio Ambientalista do Cerrado promoveu discussão sobre a importância do bioma para futuro hídrico
Texto: Italo Wolff
Fotos: Camila Caetano
No Dia Nacional do Cerrado, celebrado nesta sexta-feira (11/09), a importância do bioma para o abastecimento hídrico no Brasil foi debatida por representantes de órgãos federais, estaduais, municipais, da sociedade civil e pesquisadores, durante o 20º Simpósio Ambientalista do Cerrado. De acordo com os debatedores, a atual escassez de água de proporções nacionais tem origem no Cerrado. O assunto foi tema da mesa-redonda Propostas de um Futuro Hídrico Viável para o Cerrado, que ocorreu no Auditório da Faculdade de Direito da UFG.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Altair Sales Barbosa, iniciou a discussão justificando geologicamente as razões para o Cerrado ser chamado de “o berço das águas”. Segundo ele, o bioma abastece os demais aquíferos brasileiros por permitir que a água se infiltre e flua pelo subsolo até outras regiões.
Entretanto, o professor alertou: “Não é raro que águas se esgotem”. Segundo Altair Sales Barbosa, o esgotamento pode ocorrer por causas naturais ou por ação do homem. Para ele, a situação pode se tornar ainda mais difícil ao se levar em consideração a grande quantidade de fragmentos de minerais ou rochas, chamados de silte, presentes no solo do cerrado. O professor explicou que, caso esses fragmentos passem longos períodos sem receber água, eles se solidificam e impermeabilizam. A alternativa, para Barbosa, é investir em pesquisa para descobrir tecnologias que revertam este quadro.
Outros participantes da mesa-redonda reforçaram a necessidade de investimentos em conhecimento científico. A especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (Ana), Consuelo Franco Marra, o representante da Secretaria das Cidades e do Meio Ambiente (Secima), Marcos Francisco Cabral, e o gerente de manejo de Resíduos Sólidos da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Pedro Baima, também apontaram a falta de integração entre as instâncias do governo no gerenciamento dos recursos hídricos como um dos principais problemas para a boa gestão da água.
“A mesma água tem dois donos – a União e o Estado –, e por isso é usada em dobro”, argumentou Consuelo Franco Marra. Já Marcos Francisco Cabral alertou que, embora tenham ocorrido muitos avanços na forma da Secima dar a outorga de córregos, rios e ribeirões a requerentes, ainda há irresponsabilidade por parte desses. Por fim, Pedro Baima destacou a falta de interesse da população, que, segundo ele, deveria comparecer em maior número aos conselhos populares e audiências públicas para a elaboração de planos ambientais.
Especialistas abordaram diversos aspectos da crise hídrica
Lívia Maria Dias, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), e Luzia da Cunha Neves, representante da rede Grita Cerrado, também fizeram suas considerações. Segundo Lívia Maria Dias, o imediatismo dos tempos atuais é um obstáculo para superação da crise hídrica, visto que muitas atitudes cotidianas são necessárias, mas só renderão frutos para as gerações seguintes. Luzia da Cunha Neves citou e explicou projetos de lei que devem ser apoiados para o benefício do bioma do Cerrado.
As participantes aproveitaram a ocasião para parabenizar a atitude do advogado Fábio de Paula Santos que, momentos antes da mesa-redonda, expôs como recuperou ambientalmente sua propriedade rural, através de reflorestamento e curvas de nível. Fábio de Paula Santos conseguiu recuperar um córrego seco, afluente do rio Tocantins, e reflorestar 22 hectares de terra com árvores nativas.
Representantes de diversos setores da sociedade se posicionaram sobre como o Cerrado influencia a crise hídrica
Fonte: Ascom UFG
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