Militarização das escolas públicas é debatida na UFG
Expositores levantaram questões sobre a legitimidade da gestão militar na educação
Texto: Anna Carolina Mendes
Fotos: Carlos Siqueira
Debate realizado no auditório da Faculdade de Letras da UFG nesta sexta-feira (4/9) teve como tema Educação Sitiada: o Processo de Militarização das Escolas Públicas de Goiás. Com organização do Comitê Contra a Militarização do Waldemar Mundim e do Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid) da Faculdade de Letras da UFG, o encontro teve a presença do professor Rafael Saadi, da Faculdade de História, Francisco Tavares, da Faculdade de Ciências Sociais e ex-estudantes de colégios militares.
Para o professor Francisco Tavares, a questão principal a ser levantada sobre o tema é se é lícito, do ponto de vista constitucional, a existência de escolas geridas por militares. Para responder à pergunta, Tavares apresentou dois itens que, juridicamente, são de direito dos estudantes: gestão escolar democrática e gratuidade absoluta. Tendo em vista que, a partir de relatos dos estudantes, escolas militares cobram uma taxa, concluiu que a gestão militar fere a legislação. “Não há juridicidade na militarização das escolas”, denotou.
Questão pedagógica
Em relação à forma pedagógica dos colégios militares, Tavares utilizou a expressão “soldado-criança” para afirmar que rituais específicos dos militares, como “bater continência”, são uma forma de colocar os estudantes em contato com um universo que não diz respeito às suas necessidades socioeducativas. Um estudante de escola militar de Goiânia, que prefere não ser identificado, contou sua experiência no colégio, o qual ele alega não possuir diferença alguma em relação a um quartel militar: “Nós estamos vivendo em um quartel onde ensinam português, matemática e física”, afirmou.

Segundo o professor Francisco Tavares, a gestão militar de escolas fere a Constituição
Segundo o professor Rafael Saadi, os colégios militares atuam em rede, com uma gestão coordenada. Para ele, apesar de muitas práticas de tais colégios serem inconstitucionais, “é muito difícil lutar institucionalmente contra esses colégios”, alegou. Saadi ainda propôs que o que vem legitimando o discurso da militarização é a ideia da disciplina, corroborada por uma sociedade que enxerga o jovem como violento e indisciplinado. De acordo com ele, são criados mecanismos para a elitização de tais escolas, com 50% das vagas destinadas a filhos de militares, e 10% destas para alunos que passarem em um processo seletivo antes de serem aceitos na instituição.
Source: Ascom/UFG
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