
Mesa-redonda discute investimentos em profissionais da saúde
Especialista apresentou dados que revelam baixos investimentos em recursos humanos em regiões com surtos de doenças como o ebola
Texto: Roseneide Ramalho
Fotos: Camila Caetano
Com 28 mil casos registrados e 11 mil óbitos, o impacto do vírus ebola em países do continente africano embasou a discussão sobre a gestão de recursos humanos frente às epidemias e surtos no último dia do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), realizado no Câmpus Samambaia, Regional Goiânia. O debate teve a presença de James Campbell, da Global Health Workforce Alliance, especialista de renome mundial na área.
A mesa-redonda, coordenada pelo pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), Francisco Eduardo de Campos, mostrou panorama sobre o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação das políticas públicas nas questões voltadas à força de trabalho na área de saúde.
Francisco Eduardo de Campos apresentou políticas públicas voltadas à força de trabalho na área de saúde
Campbell apresentou dados dos Relatórios Mundiais da Saúde entre 2000 a 2010 e enfatizou a vantagem que uma resposta rápida das autoridades de saúde no combate às epidemias pode gerar. O pesquisador alertou que algumas doenças, mesmo sendo problemas conhecidos, reapareceram. “O ebola pode ter ganhado manchetes, mas não é uma questão nova”, pontuou ao lembrar que, em 2007, houve um alerta para a possibilidade de nova epidemia da doença. “Se queremos lidar com doenças e atender metas em saúde, temos que educar e treinar com agilidade”, afirmou.
De acordo com o pesquisador do Reino Unido, vários problemas históricos são negligenciados e, no caso do ebola, houve “condescendência”, apesar das previsões em contrário. Campbell explicou que uma ação emergencial, depois do primeiro caso de infecção notificado, poderia ter minimizado os impactos do surto. “Vimos o maior surto com quase 28 mil casos, entre confirmados e suspeitos, além de 11 mil óbitos informados”, completou.
Campbell destacou a morte de 510 profissionais da saúde contaminados com o ebola, a maioria enfermeiros, auxiliares de enfermagem, seguidos de motoristas de ambulância e trabalhadores que atuam nas barreiras. “Não alcançamos êxito para evitar novos casos entre profissionais da saúde. É um problema global que acometeu pessoas não só na África, mas também nos Estados Unidos e na Espanha”. Ele lembrou ainda que a falta de treinamento da força de trabalho em saúde e as falhas nos registros também agravam situações de epidemias e surtos.
Campell afirmou que houve condescendência no caso do ebola, apesar das previsões em contrário
Desafios e perspectivas
“Não estamos conseguindo manter talentos no país de origem”, alertou Campbell. Para o especialista, são escassos os investimentos em educação e falta capacitação de profissionais. Além disso, o representante da Global Health Workforce Alliance lembrou que, na África, 40% dos profissionais com formação na área da saúde não atuam no setor.
O pesquisador também destacou que os investimentos em recursos humanos em saúde contribuem para a agenda global de sustentabilidade. “Aumento no número de trabalhadores da saúde e recrutamento de força de trabalho têm impacto nos objetivos do desenvolvimento sustentável para além da área”, relatou ao lembrar que as ações não podem ser pensadas de forma isolada.
Palestra, que reuniu diversos participantes do Abrascão, reforçou a importância dos investimentos em recursos humanos na saúde
Quelle: Ascom UFG
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