UFG e Sesi Canaã se unem para ajudar portadores de discalculia

Texto: Silvânia Lima

Fotos: Carlos Siqueira

Projeto com base em conhecimentos matemáticos, desenvolvido por jovens estudantes do ensino fundamental da Escola Sesi/Canaã vira referência para profissionais, em Goiânia. Uma das vertentes do projeto Avatar (Ambiente Virtual de Aprendizagem e Tecnologias Associadas em Rede) que visa auxiliar discalcúlicos tem sido mais um motivo de vitória da equipe Robots, bi-campeã (2013 e 2014) do Torneio de Robótica FLL (First Lego League) – Região Centro-Oeste. O grupo inaugurou esta semana, nas dependências do Sesi, o laboratório intitulado “Espaço Conte Comigo”, um ambiente equipado com jogos e dinâmicas desenvolvidos pelos próprios alunos para pessoas com discalculia.

A discalculia é definida pelo transtorno neurológico crônico que afeta a habilidade de uma pessoa de compreender e manipular números e sinais matemáticos, muito próximo da dislexia – dificuldade na área da leitura e escrita. Os primeiros usuários do Conte Comigo serão alunos do 4º ao 6º ano da própria escola com dificuldade de aprendizagem, que terão o apoio de membros da equipe Robots, coordenados pelas professoras de apoio e de uma psicóloga.

A psicóloga Flávia Spíndola explica que tanto a discalculia quanto a dislexia são dificuldades que podem ser sanadas. “Nós trabalhamos com a chamada ‘fisioterapia cerebral’, focada na capacidade do cérebro de evoluir. As atividades visam estimular a maior aprendizagem para a matemática e a socialização. Como elas são de cunho prazeroso, esperamos obter resultados mais rápidos”, afirmou.

Seguindo o lema da equipe Robots, a proposta do laboratório é promover a aprendizagem brincando. “Sem pressão de horário ou de nota, acreditamos estar ofertando ao educando uma nova perspectiva de aprendizagem”, disse Flávia Kênia de Jesus Sousa, que atua em conjunto com Monamar Alves Finotti de Azeredo, professoras de apoio.

Espaço Conte Comigo: aluno ajuda aluno a aprender brincando

Parceria - A solenidade de inauguração do Conte Comigo contou com a presença de membros do Laboratório de Educação Matemática (Lemat), ligado ao Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal de Goiás (IME). No segundo contato das equipes – no início de fevereiro, a equipe Robots visitou o Lemat – a professora Janice Pereira Lopes, coordenadora do Lemat, afirmou que estão sendo acertados os termos da parceria da UFG, inclusive para o envio de estagiários do curso de Matemática, no próximo semestre, para atuar tanto com a equipe do Sesi quanto junto aos professores do ensino fundamental.

Brincando com a matemática - Os estudantes criaram sete jogos (Conte com dado, Localizando, Caça formas, Ligue-nigue, Recordando, Operacionando, Pique animal) e seis dinâmicas (Florestal, Geométrica, Numerix, Escrevendo, Exercitando) para ajudar pessoas com discalculia a ampliar a cognição e o raciocínio matemático.  O jogo de cartas Conte Comigo também é ofertado no meio virtual. Maria Eduarda Silva Cartão, membro da equipe Robots, informa que os jogos e dinâmicas foram pensados para atender os diferentes níveis de dificuldade das pessoas portadoras de discalculia.

O coordenador da equipe José Rodrigues Nazaré de Barros Júnior, professor de Robótica do Sesi Canaã, informa que utiliza peças montáveis para ensinar conceitos de geometria e lógica. Ao lado dele, Thyago Souza Independência, professor de História, trabalha com os alunos conceitos das Ciências Humanas. A criação dos jogos físicos e virtuais do laboratório Conte Comigo resultou da aplicação de conhecimentos matemáticos após ampla pesquisa sobre a discalculia, tema eleito pelo grupo para o desenvolvimento de trabalho social.

Equipe Robots - A atuação do grupo de alunos tem ganhado repercussão pelos bons resultados em tão curto tempo. Há um ano e meio, a equipe de dez alunos foi formada com o objetivo inicial de competir em torneios de robótica. As exigências das competições levaram o grupo a trabalhar em outras frentes, como a informática, a realização de pesquisa de tema social e a criação de jogos e dinâmicas.

Com todo custo financiado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), o projeto oportuniza ações multidisciplinares. Um sonho para educadores e educandos, que respondem com alto desenvolvimento do seu potencial. Além da criação de um robô e da programação de sua performance, o grupo administra um site próprio, mantém contatos nas redes sociais, onde documentam e divulgam  suas atividades. A equipe também criou sua própria música, encena sobre o trabalho que desenvolve e passa pela experiência de orientar outros colegas.

“A gente aprende na prática e buscar transmitir o que aprende em sala de aula. O projeto é inovador, em nossa pesquisa encontramos algumas iniciativas que estimulam apenas a atenção do aluno em diferentes formas de aprender, mas não diretamente para a matemática”, afirma Maria Eduarda Silva Cartão, membro da equipe Robots. A colega Sabrina Rodrigues Vieira lembra que alguns membros da equipe faziam tratamento psicológico e tiveram alta depois de participar do projeto. As estudantes esperam essa experiência evolua e que realmente ajude pessoas com discalculia.

A equipe Robots estará em Brasília nos dias 13 e 15 de março, participando do Campeonato Nacional da FLL, que elegerá as três melhores equipes para o campeonato mundial, a ocorrer nos Estados Unidos, em abril. Mais informações: Robotscanaa.wix.com/avatar ou canaarobots@hotmail.com