Militantes da década de 1960 analisam as manifestações populares atuais

En 03/07/13 06:25 .
Na ocasião foi lançado o livro _68: a geração que queria mudar o mundo _ Relatos_
Jovens da década de 1960 e jovens dos tempos atuais se reuniram na manhã desta terça-feira, 2 de julho, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) para o lançamento do livro “68: a geração que queria mudar o mundo – Relatos” e debate público sobre as recentes manifestações populares no Brasil.

Organizado pelo professor do curso de Jornalismo da UFG e militante dos anos 1960, Juarez Ferraz de Maia, o evento foi realizado com o apoio do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg Sindicato), Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (SINT-IFESgo), Diretório Central dos Estudantes da UFG (DCE-UFG), Associação dos Anistiados pela Cidadania e Direitos Humanos do Estado de Goiás (Anigo) e Fórum Goiano das Entidades dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (FOGEF). O debate contou com a presença de estudantes, presidentes de entidades e ex-militantes.

Mediados pelo presidente da Anigo, Élio Cabral, os professores e militantes políticos Juarez Ferraz de Maia e Eliete Ferrer, do Rio de Janeiro, abordaram a resistência contra a Ditadura Militar e as formas de protesto contra a repressão na década de 1960. Em seguida, os professores Romualdo Pessoa (UFG) e Silvio Costa (PUC-GO) analisaram o cenário atual das manifestações populares no país e no mundo.


A resistência dos jovens em 1968

Em sua fala, o presidente da Anigo, Élio Cabral falou sobre sua participação nos protestos em 1968 e incentivou a continuidade das manifestações atuais. Ele afirmou ainda estar emocionado com a presença de tantos jovens no evento. “Democracia é participação, é o povo tendo voz e tendo condições de se manifestar”, defendeu.

Juarez Ferraz de Maia, autor de um dos relatos presentes no livro “68: a geração que queria mudar o mundo – Relatos”, afirmou que Goiânia e seu movimento estudantil também foram exemplos de mobilização popular na década de 1960, mas lembrou que naquela época não existia a internet e as mídias sociais como facilitador para organizar as manifestações. Tudo era combinado pessoalmente ou por telefone.

Eliete Ferrer, organizadora do livro “68: a geração que queria mudar o mundo – Relatos”, falou sobre a importância da publicação que, segundo ela, faz o resgate da memória e denuncia a repressão vivida durante a Ditadura Militar. Ela, uma militante política da época, por mais de um ano incentivou outros militantes de sua geração a relatarem o que viveram. Posteriormente, conseguiu o financiamento do Ministério da Justiça para a publicação da obra.

Segundo a militante, os jovens de hoje devem reconhecer e respeitar a luta dos jovens de 1968. “Se eles saem nas ruas hoje é por causa do caminho que nós já deixamos costurado”, afirmou. Ela ainda comentou uma frase bastante popular nas manifestações atuais: “Se alguém estava dormindo, nos militantes estávamos militando e estamos até hoje”, negando a afirmativa de que o “gigante acordou”.

Ferrer falou sobre as torturas praticadas nas prisões durante a Ditadura Militar e foi aplaudida quando pediu a responsabilização e julgamento dos torturadores. “Somos a favor da punição dessa gente, desses covardes que sequestravam famílias. Muitas crianças foram torturadas”, disse. Entretanto, lembrou que a tortura, de fato, nunca deixou de existir e afirmou que ainda hoje os “pobres e pretos” são vítimas dos mesmos terrores em muitas prisões.


As manifestações de hoje

Os professores Romualdo Pessoa (UFG) e Silvio Costa (PUC-GO) fizeram análises sobre o momento atual da democracia brasileira. Para Romualdo Pessoa, vivemos um momento de transição política no Brasil e no mundo, e somente no futuro conseguiremos entender os impactos das recentes mobilizações no sistema político.

Ele destacou ainda as diferenças entre as manifestações de hoje e as de décadas atrás. Segundo ele, antes as manifestações eram focadas em questões específicas e hoje a multidão é mais complexa, como demonstra a quantidade de cartazes com reivindicações variadas nos protestos. Um reflexo da infinidade de demandas existentes nas cidades atualmente, apontou Pessoa.

O professor Silvio Costa também rebateu a ideia de que as manifestações populares no Brasil recomeçaram agora, após décadas de sonolência. Ele fez um histórico das mobilizações no país e no mundo durante a década de 1990 e anos 2000 e lembrou sobre a importância dos movimentos antiglobalização no Brasil, Estados Unidos e Europa. “Onde há repressão e exploração, há resistência e luta”, defendeu.

Para Costa, as mobilizações atuais conseguiram a adesão de tantos cidadãos pouco acostumados aos protestos nas rua porque muitos se sentiram incomodados e também violentados pela dura repressão policial praticada contra os manifestantes.


Livro relembra a resistência contra a ditadura militar no Brasil

Durante o debate, aconteceu também o lançamento em Goiânia do livro “68: a geração que queria mudar o mundo – Relatos”, organizado pela professora Eliete Ferrer e publicado pelo Ministério da Justiça – Comissão de Anistia – Projeto Marcas da Memória. A obra reúne depoimentos de 100 brasileiros de diversas regiões do país que atuaram na resistência contra a ditadura militar no Brasil.

A narração dos fatos retrata as prisões, o exílio, a ação nas manifestações pelas eleições diretas e o sentimento de quem viveu e lutou contra a repressão. A resistência em Goiás é representada pelo relato de Juarez Ferraz de Maia, professor do curso de Jornalismo da UFG, organizador e participante do debate público desta terça-feira.

Fuente: Adufg