Educação Física em apoio à luta antimanicomial
Texto: Patrícia da Veiga
Fotos: Carlos Siqueira
Na manhã ensolarada do último sábado (16/02), na praça de esportes da Vila Pedroso, estudantes do curso de bacharelado em Educação Física da UFG se encontraram com os moradores do bairro para uma atividade pouco corriqueira: uma confraternização com a equipe multiprofissional e com os usuários do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Novo Mundo. A ideia foi convidar a comunidade da região leste para rever um antigo preconceito. “Depois de um ano de estágio no Caps Novo Mundo, percebemos que ainda há muitas barreiras entre a vizinhança e os usuários do serviço de saúde mental. Esse evento, então, é parte da nossa proposta de intervenção”, explicou Denys Viana, do 6° período.
Cerca de 34 milhões de brasileiros sofrem com transtornos psíquicos. Desses, 60 mil ainda estão encarcerados em hospícios. Por isso, o evento foi intitulado Liberdade sim, manicômio não!. E para tratar o tema da saúde mental e da luta antimanicomial de forma ampla e atrativa, foram realizadas diversas atividades físicas e de expressão corporal, tais como luta, dança, ginástica e alongamento. Além disso, outros componentes do cenário tinham como objetivo despertar a atenção dos transeuntes: cartazes informativos, equipamento de som, mesa com café da manhã. No panfleto distribuído pelos bairros do entorno, uma indagação convidava: “você sabia que no seu bairro existe um centro de atenção a pessoas com transtorno mental que faz um trabalho muito mais moderno e humano que as tradicionais?”.

Ginástica e alongamento fizeram parte da programação do evento "Liberdade sim, manicômio não!", realizado no último sábado (16/2)
A ideia partiu dos estudantes da UFG e prontamente foi encampada pela equipe do Caps Novo Mundo. Para Consuelo Guilardi, supervisora técnica da unidade de saúde, “muitas pessoas têm vergonha de dizer que são usuárias do Caps”, o que pode dificultar o tratamento. Por isso, ela considerou o evento uma forma de integrar as pessoas e desenvolver a autoestima de quem sofre com transtornos mentais. “O trabalho do professor de Educação Física é importante para a saúde mental, pois contribui para que os usuários estabeleçam relação entre corpo e mente. Também porque a proposta terapêutica não segue uma fórmula, é individualizada, de acordo com o que cada pessoa necessita”, opinou.
Usuários e equipe multiprofissional do Caps Novo Mundo na praça de esportes da Vila Pedroso
Humberto Alves dos Santos, 46 anos, usuário do Caps Novo Mundo, disse ter se divertido com a confraternização, mas revelou que no dia a dia sente falta de mais atividades físicas. “A reforma no Caps está demorando a terminar, já tem mais de dois anos. Assim, não temos espaço”, explicou. A unidade de saúde funciona provisoriamente na Vila Concórdia, enquanto sua sede antiga, situada no Jardim Novo Mundo, segue sem previsão de ter as obras finalizadas.
Humberto falou com nossa reportagem sobre suas percepções da realidade, as lições que aprende e ensina, as relações humanas. “Muita gente pensa que sou doido. Mas, na verdade, sou muito inteligente. O preconceito existe, mas sei que somos todos um pelo outro. Nessa vida aprendi, temos que ser rápidos ao ouvir e vagarosos no falar”, recomendou. O usuário do Caps Novo Mundo também aproveitou para mandar um recado à equipe da TV UFG, emissora de seu apreço: “gostaria que passassem programas que falam sobre o planeta Terra, a natureza e os animais”.

Com a bola no pé, Humberto Alves dos Santos, usuário do Caps Novo Mundo
Formação – Criado há dez anos, o Caps Novo Mundo atende pessoas com transtornos mentais de moderados a graves. Foi a primeira tentativa do município de humanizar a saúde mental. A proposta é substituir os antigos métodos de tratamento, tais como o uso abusivo de medicamentos e o encarceramento, pela arte e pelo convívio social. Com 500 usuários cadastrados, a unidade possui uma equipe composta por diversos profissionais, tais como fisioterapeutas, musicoterapeutas, psicólogos, enfermeiros e professores de Educação Física. De acordo com o professor da Faculdade de Educação Física (FEF), Tadeu Baptista, o local é um importante campo de estágio para os discentes. “É um lugar de formação não somente profissional, mas humana”, considerou. "É um trabalho bem singelo", arrematou a estudante Priscila Nunes, do 6° período.

Professor Tadeu Baptista, ao centro, com os estudantes do bacharelado em Educação Física: "um trabalho singelo"
Fuente: Ascom/UFG
Categorías: Intervenção
