noticia9403.jpg

Uma tentativa de superar o consumismo

En 20/12/12 00:11 .
Para adquirir novas mercadorias, participantes da Primeira Feira de Troca da UFG dispensaram a moeda e apostaram na socialização

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Carlos Siqueira

Seria uma confraternização entre os bolsistas da Incubadora Social, em substituição ao tradicional amigo secreto de fim de ano. No entanto, os estudantes tiveram uma ideia melhor: realizar uma feira de troca e convidar toda a universidade. A proposta era evitar as compras desnecessárias e dar um novo sentido ao consumo. Assim, qualquer pessoa interessada poderia trazer seus apetrechos de casa e “investir” em escambo, interação e diálogo.

O resultado foi, no mínimo, interessante. Na sexta-feira, 14/12, data em que se comemorou o 52° aniversário da UFG, o pátio dos Institutos de Química (IQ) e Ciências Biológicas (ICB) abrigou, ao longo de todo o dia, a diversidade. Roupas, brincos, colares, bolsas, pulseiras, câmera fotográfica, livros, vitrola, estantes construídas com caixotes de madeira, vasos de plantas feitos com garrafas PET, abóbora orgânica, mouse pad, capas para notebook, instrumentos musicais, controle de videogame, bateria de celular e demais adereços compuseram o cenário da feira.

 

Produtos em exposição foram dos mais diversos

 

As pessoas, apenas curiosas ou definitivamente interessadas, circularam no ambiente, se reconheceram e aproveitaram para reforçar laços sociais. Houve também apresentações musicais e uma inusitada roda de samba formada por estudantes de Música e Artes Cênicas, que entoaram o ritmo do samba de roda. “A feira de troca é pautada, acima de tudo, na sociabilidade. É uma tentativa de que o mercado seja reinventado e aconteça sem que o dinheiro seja a principal ferramenta”, afirmou Gabriel Teles Viana, estudante do 5° período de Ciências Sociais e bolsista da Incubadora Social.

Para que a negociação fosse garantida, foi criada uma moeda própria para o dia do evento. Nomeado como “escambic”, esse papel poderia ser substituído pela mercadoria, caso os envolvidos não quisessem ou pudessem realizar a negociação direta. “Quem tem coisas para trocar e não pode passar o dia na feira, deixa a mercadoria e pega os escambics. Quando voltar, converte novamente a moeda em outro objeto”, explicou Gabriel.

O ritmo do samba de roda, embalado por estudantes de Música e Artes Cênicas, foi uma das atrações da feira

 

Mercado Paralelo – O violino de Vitor de Melo Amorim, do 6° período de Filosofia e um dos coordenadores do evento, foi o objeto mais disputado da feira. Houve várias ofertas, mas ele acabou trocando pelas obras O Capital, de Karl Marx, e A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm, além de um instrumento musical andino conhecido como Pau de Chuva. “Trabalho com Educação Ambiental e uso vários instrumentos de percussão. Me interessei por esse Pau de Chuva por ser feito de uma palmeira rara e apropriada”, justificou Vitor.

 

Livros foram os objetos mais trocados durante a feira. No entanto, boa parte das tentativas de negociação foi para levar o violino, uma oferta de Vitor Amorim

 

Ian Caetano de Oliveira, estudante do 2° período de Ciências Sociais, ficou sabendo da realização da feira pelas redes sociais e assim trouxe vários livros, dos mais antigos aos ainda embalados. Ele reuniu desde exemplares que tinha em duplicidade até aqueles que já havia "devorado". Nessa lista estava A revolução dos bichos, de George Orwell. “Quero trocar esse porque adquiri um exemplar original, em inglês”, explicou.

Rayane Bueno, do 2° período de Design Gráfico, se interessou pela obra de Orwell, ofereceu os livros que tinha e também cadernos artesanais. No entanto, isso não foi o suficiente para Ian. “Meu critério é meu interesse em ler coisas novas. Porém, os livros que ela me apresentou eu já conhecia”, explicou. Ao final da feira, Ian havia trocado boa parte de sua coleção por uma vitrola. “Para que o som funcione, me disseram que é só comprar uma agulha nova. Achei um bom negócio”, afirmou.

 

Ian, de verde, e Rayane, de preto, também se interessaram pelos livros

 

Houve também quem oferecesse seus serviços em busca de interação com as pessoas e, quiçá, novos objetos. Caso dos estudantes do 8° período de Artes Cênicas André Moura e Rose Pimentel. Eles realizaram uma oficina de bricolagem com garrafas de vidro, pedaços de pano e cola. Entusiasmado, André ensinou muitas pessoas a transformar o que seria descartado em objeto de decoração. Assim, ele aproveitou para observar como foi a dinâmica de trocas. “Muitas pessoas chegaram na feira com vergonha de mostrar o que tinham. No entanto, quando tiraram os objetos da sacola, fizeram sucesso. Isso, na minha opinião, revela que o valor das coisas muda para cada um e tudo pode ser reaproveitado”, analisou.

A iniciativa dos bolsistas será retomada em 2013, como forma de fortalecer as redes de atuação que desejam ser independentes. “Uma das práticas da economia solidária é justamente a feira de troca”, finalizou Vitor Amorim.

 

Bolsistas da Incubadora Social foram os responsáveis pela Primeira Feira de Troca da UFG. Eles garantiram: em 2013 tem mais!

Fuente: Ascom/UFG

Categorías: Escambo