noticia8859.JPG

Participar efetivamente da cadeia produtiva do biodiesel ainda é um desafio para a agricultura familiar

In 20/06/12 05:33 .
Durante seminário promovido pela Agro Centro-Oeste Familiar, os entraves e a importância da articulação dos camponeses no setor do biodiesel foram discutidos

Por Michele Martins

Fotos: Wéber Félix

 

De acordo com Sandra de Faria, trabalhadora rural assentada em Silvânia-GO, o setor da agricultura familiar é responsável por 70% da produção agrícola que abastece as mesas das famílias brasileiras. Mas, como destacou o representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg), João Batista de Oliveira, “A agricultura familiar gera muita riqueza mas não se apropria dela. Esse é o grande desafio a ser superado”, lamentou.

Uma estratégia para promover alternativas mais rentáveis para os agricultores familiares foi a inclusão desse setor nas propostas do Programa Nacional de Biocombustíveis, criado pelo governo federal com o objetivo de implementar de forma sustentável, tanto técnica, como econômica, a produção e uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda. No entanto, muitos entraves impostos pelos interesses econômicos das grandes empresas que atuam no setor têm prejudicado a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Atingir todas as promessas estipuladas pelo programa nacional ainda é um desafio que a sociedade deve encarar. Essa foi a principal conclusão dos agricultores e estudantes que acompanharam um dos cinco seminários que marcaram a programação da Agro Centro-Oeste Familiar na tarde dessa sexta-feira, dia 15 de junho.

No início do seminário "A agricultura familiar e o Biodiesel", o representante da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado de Goiás (Fetaeg), João Batista de Oliveira, traçou um breve histórico das ações do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) nas negociações para a participação da agricultura familiar no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. De acordo com ele, o MSTTR é o maior movimento do segmento na América do Sul e 4º maior do mundo com 4.800 representantes municipais em todos os estado da federação e no Distrito Federal. João Batista destacou que entre as ações promovidas pelo movimento estão a Marcha das Margaridas e o Grito da Terra Brasil, que apresenta uma pauta de reivindicações junto ao governo federal e negocia os interesses rurais entre os representantes tanto dos trabalhadores quanto do governo. Um dos principais temas que não sai da pauta é a defesa da participação dos trabalhadores rurais na cadeia produtiva do biodiesel.

 

Durante seminário da Agro Centro-Oeste Familiar, João Batista de Oliveira, da Fetaeg, defende inclusão do agricultor familiar na cadeia produtiva do biodiesel

 

Destacando o cenário mundial de crise do modelo energético convencional baseado no consumo do petróleo, o assessor de políticas agrária da Confederação Nacional dos trabalhadores na agricultura (Contag), Arnaldo Brito, relatou que a inclusão da cadeia de agricultores rurais no programa derivou de muita luta e representou uma conquista para o meio rural. “A agricultura familiar tenta oferecer uma alternativa nesse cenário de crise trabalhando de forma diversificada. Se não tivermos pautando a importância da agricultura familiar para o setor de biodiesel ficamos em uma situação complicada”, informou. Ele destacou que uma das questões mais problemáticas para os trabalhadores rurais são os contratos firmados com a as empresas de beneficiamento do biodiesel.

A questão dos contratos hoje é um problema. Arnaldo Brito informou que hoje as contags e fetags negociam e anuem mais de 90% dos contratos com as empresas produtoras do biodiesel. “Temos sérias críticas quanto à postura do Ministério de Desenvolvimento Agrário e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na elaboração desses contratos”, disse. Outro desafio apontado por Arnaldo Brito será organizar a agricultura familiar para a produção , beneficiamento e comercialização de oleaginosas para o biodiesel. “Não estamos organizados o suficiente para mantermos a produção primeiro no mercado local, ainda não temos como sair dessa situação.”

Joselito da Silva, integrante do Movimento Popular Terra Livre, fez duras críticas ao modo como têm sido conduzidas as políticas de inserção da agricultura familiar no setor do biodiesel. “Não temos escolha para por em prática alternativas ao que é imposto nos contratos de compra firmados entre os produtores e as empresas de beneficiamento de biodiesel. Há muito incentivo para que voltemos nossa produção para a monocultura de soja e isso a longo prazo é muito problemático. Devemos lembrar que existem outras culturas mais rentáveis economicamente que os produtores devem apostar na diversificação dos produtos plantados em suas propriedades. O que falta é vontade política para impor medidas que realmente beneficiem os interesses dos agricultores familiares e não das grandes empresas”, concluiu o agricultor.

 

Fonte: Ascom / UFG

Categorie: Setor energético