Camponesas ocupam a universidade
Patrícia da Veiga
Fotos: Mário Braz
A Jornada de Lutas das Mulheres Camponesas 2012, que ocorre desde segunda-feira (5/3) em todo o Brasil, veio parar na UFG. Nesta quarta-feira (7/3), centenas de agricultoras, oriundas de acampamentos e assentamentos de diversos municípios goianos, caminharam até o prédio da Reitoria, no Câmpus Samambaia, para uma audiência com o reitor, Edward Madureira Brasil. Até então, elas estavam acampadas na unidade Arroz e Feijão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), localizada em Goiânia.
O motivo da ocupação temporária do prédio da Reitoria foi a tentativa de garantir que turmas especiais, de cursos como Pedagogia e Direito, voltadas aos beneficiários da reforma agrária, continuem sendo oferecidas pela universidade. A primeira turma especial do curso de Pedagogia, denominada Pedagogia da Terra, graduou-se em 2011. Já a turma especial do curso de Direito, Câmpus Cidade de Goiás, tem formatura prevista para 2012.

Centenas de integrantes de movimentos camponeses ocuparam a UFG na manhã de 7/3, por garantias de educação de qualidade para a juventude rural
Edward Madureira explicou às mulheres camponesas que a decisão de dar continuidade às turmas especiais depende, primeiramente, da estrutura das unidades acadêmicas e, em segundo lugar, de recursos para contratação de professores e para cobertura de demais necessidades de manutenção. Para tanto, sugeriu ao grupo que fossem realizadas reuniões específicas com a direção da Faculdade de Educação e do curso de Direito da Cidade de Goiás.
Sobre a turma especial do curso de Direito, o reitor lembrou da disputa travada com a opinião pública para que o projeto fosse concretizado, mas reforçou que a UFG está aberta à sua continuidade. “Não vejo na universidade um ambiente hostil a essas turmas especiais, mas precisamos averiguar algumas questões legais e formais”, salientou.
As pessoas presentes na reunião lembraram-se do exemplo dos estudantes aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de serem graduados. “Isso nos dá respaldo e prova que os cursos regulares não perderam em qualidade”, destacou Waldir Misnerovicz, integrante da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que acompanhou a audiência.
Agronomia – As mulheres camponesas também reivindicaram a criação de uma turma especial no curso de Agronomia. O objetivo da turma especial seria “para tratar da agricultura familiar e de uma proposta alternativa ao projeto hegemônico do agronegócio. Nossos jovens estão na terra e precisam se qualificar para produzir”, definiu a coordenadora da Via Campesina em Goiás, Rosana Fernandes. O reitor da UFG listou os grupos da Escola de Agronomia que trabalham nessa perspectiva e, mais uma vez, sugeriu que os acordos partissem da unidade. Ao longo da reunião, foi aventada ainda a possibilidade de uma parceria concreta com a Embrapa e com outras entidades para a criação de um programa de pesquisa e de formação dedicado à agroecologia e à agricultura familiar.

Mulheres camponesas reúnem-se na Reitoria para solicitar a continuidade das turmas especiais de Pedagogia e de Direito, além da criação de uma turma no curso de Agronomia
Reivindicações nacionais – A Jornada de Lutas das Mulheres Camponesas 2012 integra militantes da Via Campesina, do MST, da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), além de entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Na pauta nacional, estão tópicos como: a defesa da reforma agrária, a busca pelo desenvolvimento de políticas públicas que garantam a permanência das famílias agricultoras assentadas no campo, a denúncia do uso de agrotóxico nas lavouras, o questionamento da legitimidade do Projeto de Lei do Senado n° 222/08, que prevê a abertura da Embrapa para o capital estrangeiro e, por fim, a busca por educação pública e de qualidade.
Assim que deixaram a UFG, na tarde desta quarta-feira, as mulheres camponesas seguiram para a sede do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no setor Santa Genoveva. “Finalizaremos nossa jornada neste 8/3 com a participação na marcha que as companheiras do Fórum Goiano de Mulheres estão organizando. Faremos uma unificação campo e cidade, principalmente, para defender a educação pública e de qualidade. Prestaremos nossa solidariedade às trabalhadoras e aos trabalhadores da rede estadual de Educação que, em greve, vêm sofrendo na pele, e de fato fisicamente, a repressão de uma máquina estatal burguesa e truculenta, representada pelo governo de Goiás”, finalizou Rosana Fernandes.
资源: Ascom/UFG
类别: Política
