Calourada Unificada realiza debate sobre Universidade Popular

On 09/03/12 02:04 .
Os debatedores denunciaram os rumos tomados pela universidade pública, formatada pela lógica de mercado, e distante das classes populares

Tiago Gebrim

Fotos: Mário Braz

Na noite desta quarta-feira, 7/3, foi realizado no Câmpus Samambaia da UFG o debate “Ciência para quem? O debate da Universidade Popular”, como parte da programação da Calourada Unificada do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFG. O evento ocorreu no miniauditório da Faculdade de Educação e contou com a presença dos professores Jamesson Buarque, vice-diretor da Faculdade de Letras (FL/UFG), e Wladimir Nunes, do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Os debatedores apresentaram uma visão crítica do modelo vigente de universidade.

O primeiro a tomar a palavra, Jamesson Buarque iniciou sua exposição tratando das dificuldades de se trabalhar na universidade questões que fogem ao interesse hegemônico. Ele, informou que os fundamentos da universidade popular são discutidos na FL desde meados de 2009. O professor lamentou o  desinteresse, segundo ele, da "grande maioria" dos colegas docentes pelo assunto.

 

 

Professor Jamesson Buarque, vice-diretor da Faculdade de Letras da UFG

 

“Entre 2008 e 2009, implantamos uma ação na UFG com os estudantes de Letras, reunindo um grupo de discentes interessados em poesia, para levá-la até as escolas. Apoio? Nenhum”, relata. E emenda com um episódio que chamou-lhe a atenção: “Nós fomos a uma escola no Finsocial levar esse projeto. Chegando lá, não fomos recebidos da maneira que esperávamos, a direção da escola não nos permitiu fazer a apresentação dentro da sala de aula. Até aí tudo bem, fomos para debaixo de umas árvores, no pátio, e começamos a apresentação. Quando perguntamos quem deles conhecia a Universidade Federal de Goiás, ninguém sabia o que era universidade, nem onde ficava. Um dos estudantes comentou que sabia, por alto, por conta de ver escrito na linha do ônibus. Bem, o bairro Finsocial é vizinho do Câmpus Samambaia da UFG”, arremata ele.

O professor Jamesson provoca: “Onde está a universidade, o que a universidade está fazendo em prol da sociedade, efetivamente? Essas são perguntas que eu tenho de fazer aos meus alunos, mas na verdade eu gostaria que eles me inquirissem”. Para o docente, a universidade está, sim, disposta a realizar seminários e outros eventos de extensão, mas são eventos destinados a quem tem vida acadêmica. Não há questionamento dos estudantes acerca da função dos trabalhos da universidade na sociedade. Ele faz outra pergunta: “E a ciência, está isenta de tecnologia? Se você pegar os editais de pesquisa vai ver que não”, e legitima sua posição, afirmando que a maioria das verbas dos editais são destinadas à realização de pesquisas que beneficiam empresas, beneficiam os interesses do mercado.

Jamesson propõe, como ação inicial e pontual, a criação de vários grupos de trabalho na universidade, ainda que com poucas pessoas, mas que discutam a universidade popular em todos os âmbitos e setores. “Muitas ações surgem de uma conversa informal no corredor”, ilustra ele, e reforça que, primeiramente, é preciso viabilizar pequenos grupos de discussão para que, posteriormente, haja uma integração.

O professor Wladimir Nunes apresenta-se como professor universitário e também médico atuante, por questão de necessidade de sobrevivência. Ele faz um histórico dos problemas enfrentados na universidade e no seu plantão médico aos finais de semana, e de como procurou teorias que lhe dessem base teórica para compreender os problemas da nossa realidade. Com base nisso, discorre acerca da evolução das universidades e dos seus variados tipos, para chegar ao nosso modelo atual: “Nós estamos em um modelo de universidade que precariza o trabalhador; em que se agrava a falta de estrutura; que forma para o mercado; que é legitimada pela lógica do capital. As pessoas que estão à frente da universidade fazem dela instrumento para alimentar o capitalismo”, denuncia Wladimir. Ele continua, dizendo que, hoje, as ações das universidade públicas atendem ao interesse dos editais e não a um “bem fazer” universitário legítimo.

 

 

Professor Wladimir Nunes, da Universidade Federal da Paraíba


O médico inquire o porquê de adjetivar a universidade de popular: “Na América Latina o 'popular' está inserido em todos os movimentos contestatórios. 'Popular' porque buscamos uma universidade que não atenda mais aos interesses da classe dominante, mas, sim, à classe popular”. Ele afirma que, apesar de todas as dificuldades, o processo de mudança existe e está em curso. Mas salienta que não adianta discutir a transformação social sem discutir a transformação da nossa própria realidade: “Discutir universidade popular é discutir as ações dentro da universidade em que estamos inseridos”. Ele finaliza sua fala com a inserção de termos-chave: “Dentro da universidade nós discutimos o quê, como e para quê se ensina”. Ele complementa dizendo que a resposta do para quê é "o mercado" e continua: “Mas não se pergunta por quê e para quem se ensina”. Pensar essas questões incomoda.

Após a exposição dos dois professores, ocorreu a apresentação dos responsáveis pela organização do evento, seguida de debate.

 

 

Quelle: Ascom UFG

Kategorien: Debate