Pesquisadores realizam reflexão sobre subalternidade e território
A partir desta quarta-feira, 16/11, a UFG vive uma jornada intensa de reflexões sobre “subalternidades, trânsitos e cenários”. Este é o tema do II Simpósio de Ciências Sociais, com programação de grupos de trabalho, mesas-redondas e minicursos seguindo até o dia 18/11. Na conferência de abertura, o antropólogo estadunidense Richard Price apresentou o caso da população quilombola Saramaka, de Suriname, em confronto permanente com o governo do país pelo reconhecimento de suas terras e seus direitos.
De acordo com o professor, há décadas esse povo tem suas terras invadidas por multinacionais mineradoras e madeireiras, que por concessões do Estado avançam em seus empreendimentos sem respeitar a relação que os moradores mais antigos da localidade têm com a natureza. A situação é emblemática quando associada aos projetos de desenvolvimento e globalização da economia empenhados, sobretudo, na América Latina, no Caribe e na África.
Nos últimos anos, lideranças Saramaka chegaram a recorrer aos organismos multilaterais para controlar a construção de uma ferrovia que cortaria seu território e destruiria parte das casas de 60 vilas organizadas. Foi uma das primeiras decisões judiciais favoráveis ao direito de um povo tribal de manter seu território intacto. “Pela primeira vez foi interpretado que se deveria proteger o lugar da sobrevivência como um lugar também de construção de identidade e cultura”, comentou.
Durante a conferência, Price enfatizou a questão dos direitos, que tende a ser desrespeitada por governos e instituições financeiras, ainda que há meio século existam documentos, normas e acordos para proteger os seres humanos e os povos tradicionais. O antropólogo declarou que os estudiosos deveriam acompanhar com atenção e divulgar atos de violação dos direitos humanos durante conflitos como o que envolveu os Saramaka, que englobam a posse da terra e a questão identitária, já que os povos tradicionais enfrentam o avanço da globalização econômica. Na plateia, os participantes consideraram semelhantes os exemplos da Bolívia e do Brasil, países também em conflito com seus povos tradicionais, em virtude da construção de uma rodovia e de usinas hidrelétricas, respectivamente.
Com graduação e doutorado pela Universidade de Harvard, Richard Price, de 69 anos, trabalhou com o antropólogo Claude Lévi-Strauss, em Paris. Centrou seus estudos na chamada "história etnográfica", e lecionou em várias universidades, como Yale, Stanford, Princeton e Columbia. No Brasil foi professor convidado da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Richard Price fala sobre o povo quilombola Saramaka, de Suriname, que luta por sua sobrevivência e em defesa de suas terras
A antropóloga Sally Price retomará o assunto na conferência de encerramento, a ser realizada na sexta-feira, às 20h, no Cine UFG. Com formação em Letras pela Sorbonne, em Paris, e Harvard, Sally é PhD em Antropologia Social pela Johns Hopkins University. Dedica-se às pesquisas acerca do lugar que a arte primitiva ocupa em “centros civilizados”, com especial destaque para o Museu du Quai Branly em Paris. Junto com Richard Price, publicou artigos e livros sobre direitos humanos e diversidade, tendo como foco os quilombolas do Suriname e da Guiana Francesa.
Os interessados em acompanhar o evento também poderão assistir a mesas-redondas com pesquisadores de universidades brasileiras (PUC-SP, UnB, USP, UFBA), participar de GTs, minicursos e oficinas, com temas como Violência e Segurança Pública, Diversidade, Trabalho, Direitos Humanos, Sociologia Política, Antropologia e Políticas Urbanas. Além disso, haverá mostra de Filmes Etnográficos.
Mais informações podem ser obtidas no sitio da Faculdade de Ciências Sociais: http://www.cienciassociais.ufg.br/
Fonte: Ascom/UFG
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