Pequi pode melhorar qualidade de vida de pacientes crônicos
No último dia de programação da 63º reunião anual da SBPC, palestras e mesas redondas fecham as discussões sobre Cerrado – água, alimento e energia. O professor da Universidade de Brasília (UnB), César Koppe Grisolia, não poderia ter feito uma escolha melhor ao trazer, para o público da reunião, uma palestra sobre o pequi. As pesquisas realizadas com o fruto, tão conhecido da região, foram o tema da conferência na manhã desta sexta feira (15/07). O objetivo da pesquisa, segundo o professor, foi tentar agregar um valor ao produto, mas não um valor econômico, e sim algo que pudesse valorizá-lo como parte da biodiversidade do Cerrado.
O pequi é muito conhecido na culinária regional do Centro-Oeste, e para a medicina popular, tem um grande valor medicinal no tratamento de doenças bronco-respiratórias, além de ser considerado afrodisíaco e fortificante. A polpa do pequi é rica em ácidos graxos, vitaminas A e E, minerais e substâncias anti-oxidantes, que ajudam a combater os radicais livres.
César Grisolia trabalhou com cerca de 500 quilos de polpa de pequi. Para conseguir essa quantidade, aproximadamente 3.000 frutos foram utilizados. Os estudos, que buscavam comprovar a eficácia do pequi na prevenção aos danos ao material genético e combate aos radicais livres, foram realizados em camundongos, em células in vitro e, na última fase, em seres humanos. “Retiramos a polpa do pequi, analisamos sua composição qualitativa e quantitativa, verificamos sua capacidade antioxidante e avaliamos sua relação com a toxicidade celular e capacidade de causar alterações nas células”, explicou o pesquisador.
Como resultados dos experimentos, camundongos que receberam o extrato de pequi e, posteriormente, medicações que causam alterações celulares, não tiveram seus materiais genéticos alterados, ao contrário daqueles que não receberam o pequi. O mesmo resultado foi obtido com o estudo nas células que, tendo recebido a polpa do fruto, apresentaram uma menor quebra dos cromossomos quando submetidas às medicações.
Para comprovar a ação anti-oxidante do extrato aquoso do pequi, 126 maratonistas de Brasília foram selecionados para participar do estudo. “A atividade física, especialmente essas que beiram o limite, causa estresse no organismo e libera radicais livres. Por isso optamos por esse grupo como forma de avaliar a ação do pequi no combate a essas substâncias”, explicou Cesar Grisolia. Um grupo recebeu as cápsulas rígidas de extrato de pequi dias antes de realizar a atividade e outro grupo não. Cerca de 150 exames foram realizados nessas pessoas e ficou comprovado que houve redução nos índices de dano no DNA, redução nas lesões musculares e nas injúrias celulares.
Expectativas
Com o resultado em mãos, a equipe do professor Cesar Grisolia, acredita que a atuação anti-oxidante do extrato do pequi foi comprovada e agora buscam meios para produzir em escala industrial esse medicamento natural, que poderá ser utilizado por pacientes de doenças que tenham concentrações elevadas de radicais livres no organismo, como diabéticos e portadores de Lúpus. “Estamos com uma fase da pesquisa em andamento no Hospital Universitário da UnB com portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico, fazendo as mesmas análises que fizemos com maratonistas para avaliar a atuação do pequi”, explicou o professor.
Cesar Grisolia acredita, no entanto, que um dos melhores resultados desse estudo foi conseguir atribuir ao pequizeiro funções importantes na medicina e, com isso, estimular propostas conservacionistas de produção do fruto. “Com a criação desses medicamentos, muitas famílias poderão obter uma renda extra com a venda do extrato do pequi e será promovido o uso sustentável do Cerrado. É preciso enxergar que o pequi tem mais valor em pé do que dentro de um saco de carvão”, afirmou o professor.
Source: Ascom / UFG
