Professores apontam contradição na representação do Cerrado pela mídia

En 19/07/11 08:03 .
Especialistas afirmam que os veículos de comunicação promovem os discursos da preservação e também do avanço do agronegócio

por Gilmara Roberto


Pesquisadores debateram na tarde desta sexta-feira, 15/07, as significações do Cerrado na mídia brasileira em mesa-redonda que compunha a programação da 63ª Reunião Anual da SBPC. Os professores evidenciaram que a mídia brasileira, ao mesmo tempo em que denuncia a degradação do bioma, promove o discurso do desenvolvimento do agronegócio no Cerrado.


A professora da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb) da UFG Rosana Borges destacou que a mídia é responsável por produzir sentidos e significados sobre o que é o Cerrado, o que acaba por interferir no modo como ele é ocupado. “O Cerrado é disputado, não só no que diz respeito ao seu território, mas no que se refere à produção de significados”, enfatizou a professora. Ela evidenciou ainda que a lógica do desenvolvimento capitalista não permite que a contradição sobre a representação do Cerrado (denúncia da degradação e elogio à lógica desenvolvimentista) seja desfeita.

Da esquerda para a direita Rosana Borges (UFG), Yuji Gushiken (UFMT), Marlene Colesanti (UFU), e Uelinton Rodrigues (UFG)


O professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Yuji Gushiken caracterizou o discurso sobre o Cerrado feito pela mídia como sendo marcado por ideias de uma terra sem lei, naturalmente improdutiva, onde a natureza é objeto de consumo e o espaço, um eldolrado econômico. Ele destacou ainda o modo como muitos agropecuaristas são retratados na mídia nacional como a figura que desbrava o interior em busca do progresso econômico.


O professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG Uelinton Barbosa Rodriques destacou que a complexidade das questões do avanço do agronegócio no Cerrado se encontra no fato de que a questão é tratada antes pelo aspecto político e só depois pela sua problemática ambiental. Ele lembrou ainda que a devastação do Cerrado, que pelo imaginário popular não é visto como uma floresta graças à construção feita pela mídia, preservou a Amazônia quando se teve que escolher por onde o agronegócio deveria avançar.

Fuente: Ascom/UFG