Conferência discute monitoramento de surtos de protozoários no Brasil
por Raniê Solarevisky
O contágio de doenças causadas por protozoários pode ser evitado com medidas simples de saneamento, mas pode levar uma pessoa à morte com a mesma facilidade; sobretudo se ela estiver inclusa no grupo de risco formado por idosos e crianças, por exemplo. Sobre o assunto, a professora Regina Maura Bueno Franco, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou a experiência da instituição no combate a essas doenças. Ela ministrou a conferência “Monitoramento de Surtos de Protozoários Patogênicos de Veiculação Hídrica no Brasil” durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que termina hoje, no Câmpus Samambaia da UFG.
Regina Maura Franco (Unicamp)
O Laboratório de Protozoologia da Unicamp tem auxiliado o Ministério da Saúde a investigar surtos de protozooses (doenças causadas por protozoários) desde 2001. A pesquisadora apresentou vários casos em que a atuação do laboratório foi decisiva para um diagnóstico da situação e também fez reflexões quanto à situação do Brasil no trato dos problemas com esse tipo de parasita.
A investigação das razões que levaram ao surto – os meios de contaminação, geralmente ligados à água ou ao solo, onde se deposita o material contendo os “ovos” dos animais – levaram a casos sem conclusão, identificação do problema e até surpresas. Um dos casos relatados foi o do município de Itatiaia, no Rio de Janeiro, em 2002, onde foi detectado o que se pensava sem um surto de gastroenterite causado pelo protozoário Cryptosporidium Gastroenteritis.
Foram detectados 615 casos de diarreia próximos a um reservatório público no local. Depois de analisada a água que abastecia o reservatório, bem como o lodo formado neste, concluiu-se que os astrovírus encontrados eram os responsáveis pelo problema. “Foi muito difícil realizar a pesquisa; dos 615 casos diagnosticados, recebemos apenas 8 amostras para trabalhar”, revela a professora.
Outro caso ocorreu no estado do Tocantins, no município de Araguatins, em 2006. Um surto de granulomas (espécie de membrana formada em torno de uma infecção) começou a acometer os moradores, que ficavam cegos depois de um tempo. O grupo que sofria com o problema era formado principalmente por pessoas que haviam se banhado no rio Araguaia, que passa pela região.
A análise da água do rio e do solo às margens dele, detectou a presença de parasitas nematoides, sobretudo do gênero Ascaris (os trabalhadores e animais da região contaminaram o solo próximo com fezes). Contudo, uma pesquisa de um outro grupo de estudiosos conseguiu descobrir que os granulomas não se formavam pela presença dos nematoides, mas de esponjas de água doce. Esse tipo de organismo vive nas árvores da região e, durante as cheias, liberava pequenos fragmentos de sílica que se depositavam nos olhos e causavam infecções, que aumentavam à medida que as pessoas esfregavam os olhos.
Ao final do encontro, a professora destacou algumas dificuldades encontradas pela equipe para investigar os surtos e prevenir esse tipo de enfermidade. “Pelo menos dois casos ficaram inconclusos porque os donos de caixas d'água contaminadas, quando notificados pela vigilância sanitária, esvaziaram os reservatórios”, afirmou. Ela ainda apresentou algumas soluções para o lodo encontrado em estações de tratamento; “depois de secar por 90 dias, o material, rico em nitrogênio e fósforo, pode ser usado como adubo”.
“Ainda não há pesquisas no Brasil sobre contaminação em águas de recreação, como em parques aquáticos. Também precisamos aprimorar as técnicas moleculares para detectar esses organismos de forma mais eficiente e impedir que absurdos ocorram, como abortos e infecções de feto em gestantes que aguardavam o resultado de exames”, defendeu.
Fonte: Ascom/UFG
Categorias: Saúde Pública