Pesquisador da Embrapa aborda atividade agrícola no Cerrado

“Discutir Cerrado e não discutir solo não tem fundamento”. Com essa frase, o professor Flávio Camargo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentou o palestrante da manhã desta quinta feira, 14, parte da programação da 63ª Reunião Anual da SBPC, em Goiânia. “Solo: Recurso Fundamental para o Desenvolvimento Agrícola Sustentável do Cerrado”, foi o tema da discussão na sala 2 do Centro de Cultura e Eventos Ricardo Freua Bufáiçal da UFG.

O pesquisador da Embrapa Cerrados, Wenceslau Goedert, destacou a importância do Cerrado, sua biodiversidade e seu papel como “celeiro do mundo”. Entretanto, ressaltou que é preciso discutir o solo, seus recursos e seu uso sustentável uma vez que a atividade na região depende desse elemento e de suas propriedades.

Desde a década de 1970, quando houve a expansão agrícola no Cerrado, a preocupação com a correção dos solos é uma constante. Os fatores favoráveis à produção na região – condições climáticas, extensão de terras cultiváveis, facilidade de mecanização – foram essenciais para o sucesso da atividade. Porém o fato de existir calcário e fosfato – elementos de correção da acidez do solo – ajudou ainda mais a atividade agrícola a atingir o status que hoje ela detém. “Os solos do Cerrado são excelentes do ponto de vista físico, mas do químico deixam a desejar. Por isso, temos que procurar corrigir essas 'imperfeições' da natureza”, explicou o pesquisador.

Para corrigir o que a natureza deixou deficiente, diversas tecnologias foram desenvolvidas em busca de um manejo mais adequado e uso sustentável. “O solo é pobre de nutrientes. O primeiro limitante é o fósforo, o segundo é o calcário. Com a aplicação correta desses dois minerais, já é possível ver grandes avanços na produção”, afirmou Wenceslau Goedert.

A tecnologia agrícola no país evoluiu muito nos últimos anos, o que culminou em significativo aumento da produtividade. Apesar de grande parte do Cerrado já ter sido desmatada, tem se buscado aumentar a produção nessas áreas sem que novos desmatamentos sejam feitos. Segundo o pesquisador, as médias de produção do Cerrado são iguais ou superiores às médias do Brasil, com destaque para a produção de algodão no bioma, responsável por quase 90% da produção nacional.

No cenário atual de produção, tem se buscado fazer um uso sustentável do solo através da correção da acidez, adubação correta, rotação de culturas e adoção de práticas conservacionistas. Isso porque, de acordo com Wencelsau Goedert, o uso inadequado pode gerar degradação do solo e problemas como erosão. “Quando há, por exemplo, supercalagem ou monocultura sem buscar conservação, há desgaste do solo, o que acarreta em perdas ambientais e econômicas, pois a recuperação é cara”, alertou o pesquisador.

Práticas de produção mais sustentáveis têm ganhado espaço na produção agropecuária, com destaque para plantio direto, cultivo orgânico, sistema agroflorestal e integração entre lavoura e pecuária. “Os solos tropicais têm alto potencial agrícola, mas são frágeis e a atividade agrícola é muito complexa. Apesar dos avanços que tivemos, ainda restam muitos desafios para as próximas gerações. O ser humano deve entender que é parte da natureza e tem o dever de melhorá-lo para as futuras gerações”, conclui o Wenceslau Goedert.