Mesa redonda da SBPC debate a maneira como o Cerrado é visto pela mídia

Em 14/07/11 06:29.
Pesquisadora acredita que é preciso mudar a concepção de jornalismo ambiental

A partir de um estudo de caso com pequenos agricultores, uma análise da cobertura jornalística de um grande jornal e um relato de experiência na busca por uma formação ambiental dos novos jornalistas, três palestrantes da mesa-redonda Comunicação, Ciência e Conservação do Cerrado, realizada nesta quarta-feira, 13, na SBPC, mostraram que há uma preocupação acerca da maneira com que o meio ambiente, em especial o Cerrado, é retratado na mídia. A discussão deixou claro o desejo por uma mudança de comportamento da sociedade e, principalmente, da imprensa.

Há uma diferença no trato do assunto por veículos da grande mídia e por veículos mais especializados, como ficou demonstrado na paletra da doutoranda da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Katarini Miguel, ou ainda nos estudos realizados no Mato Grosso do Sul pela professora Greicy Mara França (UFMS), que avaliou a presença do assunto ambiental nas mídias no estado.

Assim como a mídia se comporta de maneira diferente, agricultores e produtores são diferentes também. Walter José Rodrigues Matrangolo, pesquisador em agroecologia da Embrapa, relatou em seu estudo de caso com pequenos produtores no interior de Minas Gerais, que o conhecimento das gerações passadas sobre o uso da terra é substituído por tecnologias caras e ecologicamente incorretas. “Aproximadamente 88% dos produtores familiares de Minas Gerais são analfabetos ou possuem um mínimo de alfabetização. Porém, esses agricultores fazem um bom uso da terra, mostrando que a alfabetização ecológica está além da alfabetização escolar”, afirma Walter Matrangolo.

Walter José Rodrigues Matrangolo, pesquisador em agroecologia da Embrapa

A alfabetização ecológica, preconizada pelo físico Fritjof Capra, é o que se espera não apenas dos produtores, mas de jornalistas, responsáveis por divulgar à sociedade informações e formar opiniões. Em sua tese de mestrado, Katarini Miguel analisou um grande jornal diário do estado de São Paulo e constatou que, em dez meses, o meio ambiente esteve presente em oito matérias por mês, sendo que o Cerrado só apareceu em três delas. “As matérias sobre Cerrado costumam discutir os mesmos pontos, a destruição do bioma e o potencial agrícola, quando existe muito mais a ser divulgado”, explica Katarini.


Comunicação

Para Katarini Miguel, é preciso mudar a concepção de jornalismo ambiental, especialmente em matérias onde o Cerrado é considerado. Entre as soluções, a pesquisadora acredita que se deve divulgar a importância do bioma em sua biodiversidade, mostrando outros aspectos do Cerrado, como o potencial turístico e as manifestações culturais e artísticas dos povos destas regiões. “É preciso que isto atinja os grandes veículos e não apenas a mídia especializada, que já se ocupa de fazer uma divulgação diferenciada do Cerrado”, acrescenta Katarini Miguel.

A pesquisadora Grace acredita que a comunicação deveria conscientizar a população e com isso atuar como uma aliada na preservação dos biomas, com matérias que busquem a educação ambiental. “Como pesquisadores, devemos construir pautas para que estes assuntos sejam tratados na mídia com a devida importância e cheguem à população de forma correta”, afirma Grace.


Greicy Mara França (UFMS) e Katarini Miguel (UMESP)

Fonte: Ascom/UFG

Categorias: Cerrado e Mídia