Mesa-redonda debate a sustentabilidade da produção no Cerrado

Em 13/07/11 00:35.
Espécies do bioma e tecnologias de produção sustentáveis ainda são desconhecidas e subutilizadas

O tema principal da 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para a Ciência (SBPC)  é o Cerrado e dentro do assunto, ocorreu ontem a mesa-redonda “Compreendendo o Cerrado: Fauna, Flora e interação com outros biomas”. Coordenada pelo professor e ex-prefeito Pedro Wilson (PUC-GO), a mesa debateu formas de conciliar o desenvolvimento da região central do Brasil com a preservação do bioma Cerrado e suas espécies.

 

Pedro Wilson abriu a conferência lembrando que nossa Constituição Federal (1988) não prevê o Cerrado como uma área que deve ser preservada tal qual a Amazônia, por exemplo. Ele também ressaltou a trajetória de mais de 15 anos de tramitação da chamada PEC do Cerrado, projeto de emenda à  Constituição que garantiria a proteção devida ao bioma.

 

Segundo ele, já não é possível operar a exploração dos recursos com ideias do ciclo passado de produção (1950-1990), onde a principal preocupação era “aliviar a fome”. “Temos tecnologia e conhecimento suficiente para produzir com foco na melhoria da saúde, nutrição e subsistência, gerando crescimento econômico e, ainda, garantindo a sustentabilidade social e ambiental”, explicou o agrônomo. “Oferecer crédito agrícola e assistência técnica, bem como tornar públicas as tecnologias disponíveis, organizando para o produtor uma cesta de soluções que garantam a sustentabilidade do processo, é o caminho para um manejo adequado dos recursos”, afirmou.

 

O representante ainda falou sobre o papel de empreendedores e consumidores na apreciação dos recursos que o bioma oferece; o que estimula sua conservação e disciplina a cultura de uma espécie. O baru é um exemplo de produto nativo que vem encontrando espaço no mercado na forma de consumo direto de sua amêndoa ou na produção de biocombustível, por exemplo.

 

Paulo de Marco Júnior, ecologista da UFG, defendeu que as políticas públicas devem reconhecer que o mundo muda. “Não podemos continuar com essa ideia errônea de preservar uma espécie; devemos garantir a capacidade evolutiva dela”, afirmou. Procurar por espécies naturais de nosso bioma (endêmicas) também pode ajudar a melhorar a proteção do bioma; uma grande quantidade de espécies de anuros e insetos só existe aqui.

 

“Precisamos conhecer quais são e onde estão as espécies, já que as unidades de conservação foram demarcadas de forma aleatória e estão nos locais errados”, ressaltou o professor. “Outro dia, uma aluna encontrou uma espécie de libélula e decidiu examiná-la: era a primeira ocorrência da espécie no Cerrado. Fatos como esse provam que sabemos muito pouco sobre este bioma”, relatou.

 

O bioma também tem grandes áreas de transição; manchas isoladas de diversos outros biomas convivem com as formas tradicionais de Cerrado. O professor Arnildo Pott (UFMS) declarou que muitas vezes a dificuldade de um técnico ambiental para orientar a preservação de uma área é justamente lidar com diversos biomas. “E o problema é maior porque muitas formações ainda desconhecidas estão desprotegidas, segundo a lei. No Mato Grosso do Sul, temos o 'Chaco', que é parecido com a Caatinga, mas sequer é reconhecido como um bioma no Brasil”, comentou o professor.

 

Durante as intervenções da platéia, um estudante do município de Altamira, do Pará, visivelmente emocionado, fez um comentário sobre a situação da usina de Belo Monte. “A maior parte da população de Altamira é contra a usina. Mas o governo não parece respeitar nada além do seu compromisso com o capitalismo. Vocês acham possível conviver de forma sadia com o meio ambiente e com o próximo num sistema como esse?”. O prof. Paulo respondeu: “Sim. É absolutamente possível. Porque é isso que tem sido feito em países como Alemanha e Suíça. Mas a pergunta não é essa. O que devemos nos perguntar é se vamos fazer como eles, que assistiram à morte de seus ecossistemas para depois descobrirem que precisavam deles”, concluiu.

 

 

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Fonte: Ascom UFG

Categorias: Meio Ambiente