Conferência apresenta influência da língua na cultura e modo de vida indígenas

在 13/07/11 05:41 上。
Impactos ambientais e interferência política prejudicam a sobrevivência da língua e das tradições xerentes

Trabalhando há mais de 20 anos com os xerente Akwén, a professora Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio, da Faculdade de Letras da UFG, realizou hoje uma conferência apresentando seu grupo de pesquisa em língua e cultura indígena. A conferência “As relações entre língua e cultura: o meio ambiente na construção das línguas indígenas”, ocorreu na manhã de hoje durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que segue até sexta-feira (15), no Câmpus Samambaia da UFG.

 

O grupo coordenado pela profª Sílvia estuda o clã Airê, situado numa reserva próxima ao município de Tocantínia, a 75 km de Palmas, no estado do Tocantins. A reserva, que antes era formada por 6 aldeias, hoje conta com 56 num espaço ainda menor. Mais de 3 mil indígenas residem na região, que começou a sofrer com a escassez de água e dispersão de venenos agrícolas.

 

“A terra é quem nos cria. Ela sempre nos deu tudo, mas agora diminuiu muito sua oferta. A barragem e o veneno do branco que chega em nossa aldeia fez diminuir muito a quantidade de peixes, e também trouxe doenças que matam o nosso povo. Na última semana, perdemos mais um amigo”, relata o xerente Bonfim, referindo-se a um ancião de sua aldeia que era responsável pela biblioteca local e profundo conhecedor da cultura e das tradições do clã. “Perdi a minha biblioteca”, afirmou o indígena.

 

Segundo o xerente, uma das grandes preocupações com a preservação da cultura e do modo de vida do grupo é a mistura da língua xerente com o português. “Muitos pais, por não acreditarem que seus filhos receberão uma boa educação nas aldeias, os mandam para a cidade, onde são alfabetizados somente com o português. Dessa forma, há empréstimos linguísticos diretos, como no caso da palavra 'papel'; os mais velhos pronunciam 'haisuka', os que já tiveram contato com o português, 'hesuka', enquanto os mais novos usam 'papé'”, explica a professora Sílvia.

 

Ela ressaltou que a degradação do ambiente onde essas comunidades vivem interfere de forma direta nas classificações feitas pela língua e, consequentemente, na cultura desses povos. “Em determinado ritual, por exemplo, os homens devem imitar a voz da piranha; caso esse animal deixe de existir, todo um sistema de significação também desaparece, extinguindo um ritual e colocando em risco a sobrevivência de tradições seculares”, ressaltou a conferencista.

 

Outro grande problema é a perda do sentimento de coletividade, segundo a professora. “A alfabetização gerou brigas e discórdias entre caciques, fonte da multiplicação de muitas aldeias”, comenta. “Os políticos fizeram os akwén se dividirem”, completa Bonfim. Os nomes na cultura xerente também têm ligação íntima com o ambiente da aldeia. Além de serem nomeados com base em animais que lembram suas características pessoais, também há ligação com a função que cada um desempenha na comunidade. “Dessa forma, alguém responsável pela pesca pode receber o nome de um peixe”, explicou Sinval Martins, membro do grupo de pesquisa e autor do livro “Aspectos Morfosintáticos da Língua Xerente”.

 

Rodrigo Mesquita, que também participa das pesquisas do grupo, diz que a absorção de expressões e palavras de outras línguas é comum em qualquer cultura que já tenha existido. “O problema é a forma acelerada como todos esses empréstimos têm ocorrido; eles não estão sendo incorporados de forma gradual”, esclarece.

 

 

Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio (UFG) aborda a relação da cultura indígena, o meio ambiente e as diferentes línguas.


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资源: ASCOM/UFG

类别: Cultura Indígena