Corpos em movimento inauguram curso de Dança

 Patrícia da Veiga

Fotos: Carlos Siqueira

Arte, educação e sensibilidade são alguns dos elementos que compõem a Licenciatura em Dança, a mais nova graduação da UFG. Isto ficou evidente na manhã desta segunda-feira, 28 de fevereiro, durante a aula inaugural do curso, marcada por uma forte entrega emocional entre todos os que estavam presentes no Cine UFG. Na ocasião, dançarinas e professoras pioneiras em Goiás receberam flores e tiveram suas trajetórias rememoradas.

As homenageadas Lenir Miguel de Lima, Maria Zita Ferreira, Conceição Vianna, Cristina Bonetti e Jandernaide Lemos retribuíram o carinho dançando. A performance envolveu a plateia que, de mãos dadas, também movimentou-se, sobretudo, depois que Cristina propôs a reprodução de um ritual indígena “para ouvir o coração”.

Aula inaugural do curso de Dança movimentou toda a plateia, integrando várias gerações de dançarinos

“É por isso que Goiás agradece dançando”, comentou a professora Luciana Ribeiro, do Instituto Federal Tecnológico de Goiás (IFG), convidada para ministrar a aula inaugural. Com base no tema de sua tese de doutoramento, a história da dança cênica em Goiânia, ela destacou os caminhos percorridos pelas homenageadas e também por outros bailarinos e professores que, profissionais ou não, transformaram um “vazio” em “invenção”.

A Licenciatura em Dança é resultado de um longo debate dentro e fora da Faculdade de Educação Física (FEF), sua sede a partir de 2011. A coordenadora do curso, professora Marlini Dorneles de Lima, mencionou os desafios de se criar uma graduação pautada na cultura do Centro-Oeste e, ao mesmo tempo, aberta às linguagens contemporâneas. “Pretendemos formar professores sensíveis e preparados para intervir, dialogar, estabelecer poéticas com a sociedade”, discursou.

Marcus Fraga Vieira, diretor da FEF, emocionou-se com as homenagens e com os discursos, agradecendo os esforços de todos para a “realização de um sonho”. Também estiveram presentes à aula inaugural o reitor Edward Madureira Brasil e a pró-reitora de Graduação, Sandramara Matias, que deram boas-vindas aos calouros.

Breve histórico – Apesar de a Licenciatura em Dança ser inédita em Goiás, a primeira iniciativa similar surgiu na garagem da casa de Silene de Andrade, filha de musicistas, que ensinava balé para crianças, ainda na década de 1940. Nos anos seguintes, a atividade cresceu, mas esteve restrita às moças da alta sociedade goianiense que, ao receberem instruções de postura e boas maneiras, também se dedicavam ao balé. Quem narrou essa história foi a palestrante da aula inaugural, Luciana Ribeiro.

Da década de 1970 em diante, o intercâmbio entre estudantes e professores foi intensificado. Foi o tempo em que nomes como Lenir Miguel trouxeram dos cursos que realizaram em outros estados uma série de métodos oriundos da dança moderna. A fundação de novas escolas e até um forte investimento dos governos goianos na formação de dançarinos profissionais também contribuíram para a consolidação de um cenário diferenciado e propício à futura produção artística.

De acordo com Luciana, é de 1960 para 1980 a criação da disciplina de Dança no curso de Educação Física da Esefego, o surgimento do Grupo de Dança Univérsica (posteriormente também chamado de Dançarte), o envolvimento da escola Músika com o balé Royal de Londres e a formação do corpo de baile do Teatro Goiânia, entre outros fatos.

Luciana Ribeiro, professora do IFG, ministrou a palestra: "Entre olhares: histórias da dança cênica em Goiânia"

No entanto, foi no período de 1982 a 1986 que Goiânia viu crescer um trabalho criativo, “explosivo” e, de fato, artístico sobre o corpo. Luciana estudou especificamente essa fase, tentando compreender o que fez consolidar em Goiânia o forte e atual vínculo com as performances contemporâneas. Segundo ela, nem os próprios bailarinos da época tinham a clareza do quanto eram inovadores. “Foi, realmente, uma explosão de bons espetáculos”. A Quasar Cia de Dança é uma das “sementes” germinadas após esse momento.

Ao finalizar sua palestra, a convidada comparou o passado com as possibilidades do futuro, deixando uma mensagem animadora aos estudantes da Licenciatura em Dança da UFG.