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A história humana sob a ótica do filósofo alemão Jörn Rüsen

En 29/11/10 01:13 .
Em temporada pelas universidades brasileiras, o historiador ministrou conferências na UFG

Patrícia da Veiga

Fotos: Jaqueline Telis


Nestas quinta e sexta-feira, dias 7 e 8 de outubro, os estudantes de graduação e pós-graduação em História, assim como outros interessados, tiveram a oportunidade de ouvir um dos pensadores ainda vivos mais importantes para a compreensão da Filosofia da História: Jörn Rüsen. Diante do auditório Lauro Vasconcelos (localizado na Faculdade de História) lotado, ele ministrou duas conferências: “Humanismo e pensamento histórico” e “O que é meta-história?”. Nossa reportagem acompanhou os dois dias do evento, buscando apreender algo sobre os temas.

No primeiro dia, um atraso de vinte minutos em razão de problemas com o computador e o projetor de imagens levou Rüsen a improvisar um momento de descontração com a plateia: “vivemos um combate sem quartel entre humanos e máquinas, em que nos fazem crer que a máquina está acima dos humanos; ela sempre vence”. Na verdade, suas palavras serviriam para uma defesa em contrário, que ele faria até o fim, de que a cultura e a história do mundo ainda são elaboradas pelos seres humanos e não por alguma forma de ser que os superou – conforme defende o pensamento pós-humanista.

Este ponto de partida serviu para explicar o que é a corrente humanista (cujas bases advêm da modernidade e da formação do pensamento iluminista), suas características e seu desenvolvimento ao longo dos últimos séculos. Para Rüsen, o grande desafio da História seria estudar, observar e enfrentar as “desumanidades”, sem, no entanto, desconsiderar que os seres humanos são os protagonistas dos fatos.

Para tanto, o professor destacou como necessário considerar as fragilidades humanas, além de lançar um olhar antropológico e universal para as realidades que se mostram, muitas vezes, como fragmentadas.

Diante de um mundo globalizado e que está sempre às voltas com a padronização dos comportamentos, ele defendeu um olhar universal para a História dos seres humanos. Tal princípio teria, segundo ele, um olhar oposto ao etnocêntrico. Sua proposta, então, foi de reformulação do humanismo clássico com base no diálogo intercultural.

 

 

Estudantes lotaram o auditório Lauro Vasconcelos na expectativa de conhecer pessoalmente um dos mais importantes estudiosos da Filosofia da História da atualidade

 

 

E o que fundamentaria o estudo da História? No segundo dia, o professor comentou as bases epistemológicas da História enquanto campo de produção científica, respondendo sobre o que viria a ser a meta-história. Ele discorreu sobre as formas de se desenvolverem as teorias e os métodos que levam os estudiosos até os processos históricos, enquanto a plateia direcionou-lhe perguntas sobre o “fazer” do pesquisador da História.

Para o professor Rüsen, quando se trata de estudo da História, não é possível realizar somente investigação apurada ou uma bela narrativa; mas, sim, de propor um trabalho minucioso, dividido em etapas que iriam desde a seleção das fontes para a investigação dos fatos até a forma de interpretar e apresentar esses fatos.

Ao final, Rüsen retomou o humanismo e defendeu que os estudos acadêmicos fossem cuidadosamente apresentados à grande comunidade do planeta de forma a contribuir para uma historiografia humana e universal.

Ambas as palestras foram mediadas pelo professor Estevão Chaves de Rezende Martins, titular e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), responsável pela tradução da obra de Rüsen para a língua portuguesa. Martins tem sido o cicerone do pensador alemão no país, acompanhando-o por uma temporada de visitas às universidades brasileiras.

Antes de Goiânia, Rüsen passou por Brasília. Agora seguirá para o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Mais adiante, percorrerá países latino-americanos, como Peru e Colômbia. A iniciativa das viagens tem apoio da Associação Nacional de História (ANPUH) e, em Goiás, contou com o esforço da Faculdade de História, do professor Luiz Sérgio Duarte e do programa de pós-graduação em História.

 

Professor Estevão Martins, da UnB, tradutor das obras de Rüsen, mediou as conferências

Fuente: Ascom/UFG

Categorías: Teoria