Geógrafos debatem o cultivo da cana-de-açúcar no estado de Goiás
Os professores Nildo Viana (Faculdade de Ciências Sociais) e Selma Simões (IESA), o representante da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), Robson de Moraes, e o militante do Movimento Terra Livre, Zelito Ferreira, discutiram ontem à tarde o tema “Agronegócio – Expansão da Cana de Açúcar sobre o Cerrado Goiano: impactos socioeconômicos e ambientais”. No auditório do Instituto de Estudos SocioAmbientais (IESA), os debatedores explicaram o funcionamento do agronegócio, apresentaram o processo de instalação de usinas de cana-de-açúcar em Goiás e as consequências da expansão do cultivo de cana-de-açúcar no estado.
Selma Simões demonstrou porque nosso estado é visto como o “paraíso do etanol”, em virtude da produção açucareira. Segundo a professora, está prevista a instalação de 120 usinas para a produção de álcool combustível. Ela destacou que, em pouco tempo, o território goiano deixou de ser visto como impróprio para a cana, para se tornar o ambiente ideal para o cultivo dessa cultura. A justificativa apontada foi o avanço tecnológico.
Um dos pontos de concordância dos debatedores foi a invasão da cultura de cana em espaços destinados à produção de alimentos. “A economia não é pautada pela necessidade humana e sim, pela necessidade do mercado”, afirmou o militante Zelito. Nesse sentido, a professora Selma ressaltou o estudo que investigou o processo de instalação de usinas açucareiras no município de Quirinópolis. “A região era predominantemente área pecuária e não é mais. Tinha uma parte de setor hortifrutigranjeiro e que agora está muito deficitário. Cerca de dois terços do município já foi transformado em área de cana”, explicou a professora.
Outro problema apontado foram as consequências ambientais. Além do desmatamento para novas áreas de plantio, o despejo de vinhaça (resíduo da produção do álcool) nos rios e as queimadas são as principais causas de desequilíbrios ecológicos com o cultivo canavieiro. Quanto ao cerrado, segundo a professora Selma, a preocupação se agrava, pois não há uma legislação que realmente proteja o ecossistema. “A legislação permite que as pessoas usem 80% do cerrado”, afirmou.
O professor Nildo Viana relacionou os problemas ambientais com os sociais. “Se a relação do homem com a natureza gera esses problemas ambientais, então esses problemas são sociais, que na verdade é o ambiente onde o homem vive”, explicou Nildo. Já Robson de Moraes definiu o conceito de agronegócio e explicou como ele foi inserido na lógica goiana. De acordo com ele, a cana chegou ao estado a partir do anúncio de que os Estados Unidos iriam misturar o etanol à gasolina, a fim de diminuir a quantidade de dióxido de carbono lançado na atmosfera.
Para solucionar os problemas ambientais gerados pela lógica do agronegócio, os debatedores concordaram que seria necessária a construção de uma nova forma de sociedade, pautada por novos meios de produção. “A proposta da Calourada era trazer para os calouros a visão de que a universidade tem que ser um ambiente fértil de contraposição de ideias e no vislumbramento de um mundo melhor. Para Goiás e para a UFG a expansão da cana é um assunto importante, tanto para organização da sociedade, quanto para a dinâmica da economia, a estrutura fundiária e as questões ambientais”, comentou a estudante e integrante do Centro Acadêmico de Geografia, Bruna Cristina Venceslau.
Fonte: Ascom/UFG
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