Cresce procura por cursos não-presenciais no Brasil

En 01/04/08 00:46 .
Entenda porque empregadores ainda têm reservas quanto à Educação a Distância

O Censo da Educação Brasileira, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), revelou que a Educação a Distância (EAD) cresceu 1.867% no Brasil entre 2003 e 2006. Segundo o estudo, em 2003 havia 21.873 inscritos em cursos a distância; esse número subiu para 430.229 em 2006. O Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Frederic Michael Litto, atribui esse crescimento à boa aceitação que as pessoas passaram a ter pelos cursos não-presenciais. Para ele, essa aceitação aumentou por causa do maior volume de pessoas que querem estudar, mas não têm o tempo que um curso de graduação tradicional exige.

O Inep também comparou o desempenho dos alunos de cursos das modalidades tradicional e a distância no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enad). Em sete das 13 áreas pesquisadas houve melhor desempenho de alunos da EAD. Quando a análise é feita somente entre os primeiros anos dos cursos, os alunos de cursos a distância se saíram melhor em nove das 13 áreas. Segundo Litto, isso se dá porque os alunos de graduação a distância precisam ter um grau maior de disciplina para poder aprender. "O mercado de trabalho está atento ao bom desempenho que alunos de EAD conseguiram no Enade", diz ele.

Mas apesar do crescimento do setor, ainda há receio por parte das empresas em contratar essa mão-de-obra formada nos cursos a distância. Segundo a consultora da Career Center – empresa de consultoria de empregos, Marisa da Silva, o principal motivo que faz com que as companhias abdiquem de funcionários formados nos cursos a distância é o fato da modalidade ainda ser nova no Brasil. Além disso, Marisa afirma que outro fator importante nesse sentido é o de que muitos cursos são oferecidos por instituições que não têm grande reconhecimento no mercado. "As empresas ainda procuram alunos de cursos tradicionais. Mas se o candidato quiser fazer um curso a distância é preciso procurar uma universidade de nome reconhecido no mercado", aconselha.

Litto ressalta que o bom desempenho dos alunos de EAD no Enade ajudou a mudar a mentalidade de alguns gestores de empresas, que de acordo com ele, passaram a ver os benefícios de contratar alunos dos cursos não-presenciais. O presidente da Abed acredita que o aluno de EAD é mais disciplinado em comparação a alunos de ensino tradicional. "É preciso uma noção mais forte de disciplina para conseguir aprender em cursos a distância. Por isso, os alunos têm mais facilidade em lidar com prazos e tomam mais iniciativa", afirma Litto.

Relação com o mercado de trabalho

De acordo com o Pró-Reitor de Educação a Distância da Metodista da Universidade Metodista de São Paulo, Luciano Sathler, um aluno que faz um curso de EAD pode concorrer às mesmas vagas de estágio que concorrem alunos de cursos tradicionais. A universidade firma convênios com as empresas para garantir que seus alunos sejam absorvidos pelo mercado de trabalho. "A Metodista tem pólos de apoio presencial espalhados por todo o país. Esses pólos indicam quais são os maiores empregadores da região e então a universidade os procura para firmar o convênio", explica Sathler.

O aluno do curso de Administração a Distância, Maviael Correa da Silva, diz que escolheu a EAD por não precisar gastar tempo no trânsito. "Estudei na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e gastava quase duas horas para chegar à universidade. Agora posso estudar em casa e não perco tempo na viagem", afirma Silva. Ele conta que há empresas que já procuram alunos de ensino a distância por entenderem que a mobilidade deles é maior. "O funcionário tem uma flexibilidade de horário maior. Para estudar só é preciso ter um computador com acesso à internet", diz Silva.

A assessora pedagógica da Newton Paiva (Centro Universitário Newton Paiva), Kelly Cristina Santana, diz que hoje o mercado de trabalho está aberto e que os alunos dos cursos a distância conseguem estágios. "O mercado não tem mais repulsa pelos alunos de EAD. As empresas têm consciência de que os cursos oferecidos são de qualidade e formam profissionais prontos para o mercado de trabalho", acredita ela.

A Diretora Administrativa Financeira do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, interior de Santa Catarina, Rute Michels Meneghel, é graduada no curso a distância em Gestão Estratégica em Organizações Empresariais com Foco em Gestão Financeira. Na opinião dela, o que importa para as empresas é o conteúdo que o aluno tem. "É indiferente a forma como a pessoa estuda, o que importa é o conhecimento adquirido no curso", acredita Rute.

Ela afirma que procurou o curso a distância porque não poderia freqüentar as aulas diariamente. "O curso a distância me deu a oportunidade de estudar sem comprometer minha presença nas aulas. Tenho muitas reuniões do meu trabalho no período da noite e não teria como freqüentar uma aula presencial", conta Rute.

Segundo o professor da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), João Vianney, os alunos que buscam uma formação em cursos a distância geralmente já possuem conhecimento na área e buscam o diploma. "A educação a distância é usada para confirmar o poder prático que o aluno já detém, mas não tem uma certificação daquele saber", diz.

Vianney avalia que os alunos de cursos de graduação a distância desenvolvem mais autonomia e disciplina no estudo. "Essas são competências que muitas vezes um aluno de ensino tradicional não precisa desenvolver". Mesmo que Marisa da Silva, consultora da Career Center, afirme que há reserva por parte de setores empresariais em relação aos alunos dos cursos não-presenciais, o professor diz que o mercado já não olha mais com preconceito para esse aprendizado. "Há dez anos não havia parâmetros para avaliar a qualidade desses cursos, hoje os cursos têm mais qualidade, como pudemos ver pelo Enade", afirma Vianney.

É o caso de Rute, que diz que não tinha um curso superior e fez a graduação a distância para se aperfeiçoar no conhecimento que já possuía e usava no trabalho. "Procurei o ensino a distância porque gosto de estudar e queria ter um diploma, vivenciar o aprendizado", conta ela.

Apesar de ser considerado satisfatório pelos alunos, o presidente da Abed acredita que deveria haver uma melhora na qualidade do material didático dado ao aluno. "No exterior, os alunos de graduação a distância recebem livros profundos e completos sobre as matérias estudadas. No Brasil, para não terem de pagar direitos autorais às editoras, as universidades dão aos alunos apostilas feitas pelos professores", explica.

A opinião do mercado

Para a gerente técnica de estágios do CIEE, Sylvana Rocha, os alunos de educação a distância ainda sofrem preconceito por parte do empresariado. "O empresariado ainda é muito conservador. A freqüência em sala de aula é muito apontada como um fator importante", diz Sylvana. Ela estudou o tema a fundo quando realizou a pesquisa "A percepção de gestores educacionais e empresariais sobre o ingresso de estudantes de graduação a distância em programas de estágio" para sua defesa de tese de Mestrado.

"O candidato deve fazer a diferença em uma entrevista para emprego, não a modalidade de seu curso", afirma Sylvana, que conta também que muitos alunos de cursos superiores a distância acreditam que quando não são aprovados em um processo seletivo acham que o motivo seria porque a empresa preferiu um aluno de graduação tradicional. "Isso se dá porque o empresariado brasileiro considera que a aprendizagem só ocorre quando o ensino é presencial", diz ela.

Sylvana ressalta que, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, não são só os alunos mais maduros e já inseridos no mercado de trabalho que procuram a EAD. "Há jovens vão direto do ensino médio para a graduação a distância", afirma Sylvana. A EAD permite que jovens que moram longe das faculdades tenham acesso ao Ensino Superior. "É possível ter um estudante que more e trabalhe em São Paulo, faça o curso de graduação cuja universidade tenha sua sede no Paraná", explica.

Segundo Sylvana, por causa do preconceito, os empresários não vêem os benefícios que um empregado que curse uma graduação à distância pode oferecer. "O aluno de EAD tem um perfil com autodisciplina, maturidade e autonomia. Esse é o perfil que os empresários buscam", diz Sylvana. "Eles oferecem também uma facilidade de negociação de horários com o meio empresarial", acrescenta ela.

A proposta de Sylvana para que empresários passem a ser mais abertos em relação aos alunos de ensino a distância é a disseminação da modalidade. "A divulgação dos cursos seria a melhor maneira de fazer os empresários conhecerem a EAD", diz. "O desafio que temos é de conscientizar as pessoas que essa também é uma Educação Superior. A diferença é a forma que o conhecimento chega ao aluno", afirma ela. Em sua tese, Sylvana constatou ainda que os órgãos públicos são mais abertos à contratação de alunos de EAD do que empresas privadas.

 

Fuente: Universia

Categorías: Educação a distância