
UFG celebra trajetória de pioneiro da Emac
Docente e compositor Estércio Marquez Cunha recebeu o título de professor emérito

Texto: Luiz Felipe Fernandes
Fotos: Júlia Barros
As quase três décadas de dedicação de Estércio Marquez Cunha ao ensino e sua contribuição à música e à cultura brasileiras foram reconhecidas na última segunda-feira (2/6) com a outorga do título de professor emérito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). O docente atuou na UFG de 1967 a 1995 e foi um dos pioneiros da unidade acadêmica que hoje é a Escola de Música e Artes Cênicas (Emac).
A solenidade, realizada no Centro Cultural UFG, no Câmpus Colemar Natal e Silva, teve início com um recital de piano e música de câmara. Os músicos Robervaldo Linhares (piano), Jhonson Machado (clarinete) e Rose Dália Carlos (canto) apresentaram obras de Estércio. O professor homenageado foi conduzido à mesa diretiva ao som do quinteto Metais do Cerrado e recebeu a outorga do vice-reitor da UFG, Jesiel Freitas Carvalho. A cerimônia foi acompanhada por familiares de Estércio, incluindo sua esposa Maria Lúcia Ferreira Marquez Cunha.
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“Tenho muito orgulho de pertencer a Goiânia, de pertencer ao Cerrado: goiano do pé rachado, roedor de pequi e gueiroba”, disse Estércio em seu discurso. Natural de Goiatuba, se mudou com a família para a capital goiana ainda criança, onde iniciou sua jornada musical. Na década de 1960, foi para o Rio de Janeiro e se tornou bacharel em piano, composição e regência pelo Conservatório Brasileiro de Música. Retornou a Goiânia em 1967 como professor da UFG.
“Estércio nos ensina, com seu exemplo e sua presença, que o verdadeiro aprendizado não se dá apenas com palavras, mas com o tempo e seus silêncios, nos gestos do corpo inteiro, na escuta atenta da vida”, celebrou o professor da Emac Robervaldo Linhares. “Sua capacidade única de extrair o melhor de cada aluno, aliada a uma personalidade criativa, curiosa e de rara inteligência, deixou uma marca profunda em todos aqueles que tiveram o privilégio de aprender com ele, continuando a impactar vidas até hoje”, completou.
Dentre as inúmeras qualificações do homenageado estão o mestrado e o doutorado realizados em Oklahoma, nos Estados Unidos. Robervaldo lembrou que Estércio foi um dos primeiros doutores em música do Brasil, tendo papel fundamental na criação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Anppom).
Além da docência, Estércio foi homenageado pela sua importância na composição musical de Goiás e na cultura musical brasileira. Dono de uma vasta produção composicional que abrange obras para piano, música de câmara, orquestra, teatro musical e ópera, sua obra tem sido reproduzida e estudada por músicos de todo o mundo. “Estércio Marquez Cunha é um símbolo de dedicação e excelência, cuja trajetória como músico, compositor, pesquisador e educador transcendeu barreiras geográficas e institucionais”, finalizou Robervaldo.

Arte na escola
O compromisso de Estércio com a educação ficou evidente em seu discurso, que provocou o público presente à solenidade a refletir sobre “o tipo de arte que queremos na escola”. Para ele, a arte de comunicação e expressão precisa instigar as percepções e respeitar os indivíduos, de modo a formar cidadãos críticos e criativos.
“Digo isso porque vivemos hoje em uma sociedade das coisas prontas. É uma sociedade que tem a informação imediata e contínua, mas não há momento para a reflexão. Nessa sociedade, as artes são dominadas por uma entidade chamada indústria cultural, que dita os gostos e as ações das pessoas. Ela vive de objetos que se repetem sempre, que são fáceis e vendáveis”, afirmou.
Para Estércio, a indústria cultural leva à dominação pela inércia psicológica. Além disso, propôs uma reflexão sobre a chamada “cultura de massa”. “Não existe massa! A sociedade é feita de indivíduos. É preciso respeitar cada indivíduo como ele é. Cada indivíduo é um espírito”. Nesse sentido, a educação deve considerar a fala como ato criativo e o silêncio como escuta do outro.

Legado
O diretor da Emac, Eduardo Meirinhos, ressaltou a contribuição de Estércio para o desenvolvimento e consolidação da unidade acadêmica “que está no DNA da UFG”. Isso porque, conforme também lembrou o vice-reitor Jesiel Freitas Carvalho, a UFG foi formada a partir da junção do Conservatório de Música, da Faculdade de Direito, da Escola de Engenharia e das unidades ligadas à área da saúde (Medicina, Odontologia e Farmácia).
“A Emac é resultado deste legado, construído por visionários e apaixonados pela arte e pela música, e Estércio é, sem dúvida, um dos principais arquitetos dessa história. Se hoje temos uma instituição vibrante, pulsante, responsável e respeitada, devemos muito ao compromisso de pessoas como você, que sempre caminharam ao encontro dos anseios da comunidade musical de Goiânia, de Goiás, do Brasil e do mundo”, disse o diretor.
O vice-reitor lembrou que, este ano, a UFG alcançou pela primeira vez a faixa de excelência no Índice Geral de Cursos (IGC) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o que, em parte, é resultado dessa “origem sofisticada” da Universidade.
“Em nome desta instituição, além de parabenizá-lo, gostaria de agradecer o seu trabalho, o seu esforço, que, ao lado de tantos outros, tiveram um papel distintivo na construção desta Universidade”, finalizou Jesiel.
Fonte: Secom UFG