UFG concede título de professor emérito a Romildo da Silva Pina
Filha representa docente do Instituto de Matemática e Estatística que faleceu em 2023
Texto: Luiz Felipe Fernandes
Fotos: Carlos Siqueira
A Universidade Federal de Goiás (UFG) outorgou, em sessão extraordinária do Conselho Universitário (Consuni) realizada na última terça-feira (8/10), o título de professor emérito a Romildo da Silva Pina, do Instituto de Matemática e Estatística (IME). O título foi entregue à sua filha, Ana Flávia da Silva Pina, em memória do docente, que faleceu em maio de 2023.
Compuseram a mesa a reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, o pró-reitor adjunto de Gestão de Pessoas e ex-diretor do IME, Maurício Donizetti Pieterzack, e o atual diretor do IME, João Carlos da Rocha Medrado. A filha do homenageado foi conduzida à mesa pela professora emérita do IME Gisele de Araújo Prateado Gusmão.
Em seu discurso de saudação, Maurício Pieterzack destacou a trajetória do professor emérito. Goiano de Caturaí e morador da zona rural do município, Romildo ingressou na UFG em 1985 para cursar a graduação no Departamento de Matemática do então Instituto de Matemática e Física (IMF). Por causa do falecimento de seu pai, precisou interromper os estudos logo no primeiro ano, retornando em 1987.
"Quem o conhecia sabia que ele era um professor nato", ressaltou o pró-reitor adjunto. Maurício leu um trecho do memorial que Romildo apresentou para obter a promoção à classe de professor titular: "Ao final do primeiro ano, eu já tinha me decidido que escolheria o bacharelado, pois queria fazer o mestrado imediatamente após a graduação, o que me possibilitaria fazer um concurso para trabalhar no Instituto de Matemática e Física".
O mestrado e o doutorado foram cursados na Universidade de Brasília (UnB), sob orientação da professora Keti Tenenblat, com quem firmou uma expressiva parceria acadêmica. Os planos de docência se concretizaram ainda durante o mestrado, com a aprovação no concurso do Departamento de Matemática do IMF.
Além da competência acadêmica, a docência era a expressão da humanidade do professor. O ex-diretor do IME destacou a habilidade conciliadora de Romildo e a empatia com a qual exercia sua profissão. "Foi sempre um grande incentivador, buscava estar perto dos estudantes, procurando compreender suas deficiências e dificuldades, sempre disposto a acolher aqueles que o procuravam, contribuindo para combater a evasão", enumerou Maurício.
Esse comprometimento ficou registrado em uma das anotações de Romildo para a elaboração de uma palestra, encontrada em meio a seus pertences: "Antes do conteúdo, eu tento criar um ambiente de amizade com a turma, porque o ser humano precede o conteúdo; incentivar os alunos a perguntar qualquer coisa, aí ele vai crescendo e começa a andar sozinho. Eu chamo isso de autonomia de pensamento. Ninguém resiste a um bom tratamento", finaliza a anotação.
Educação transformadora
Emocionada, Ana Flávia da Silva Pina também destacou a trajetória humilde do pai e as dificuldades em morar na zona rural e estudar na cidade. "Seus pais viram na educação uma oportunidade para que os filhos alcançassem melhor qualidade de vida", disse.
E foi assim que, segundo Ana Flávia, Romildo guiou sua vida profissional, acreditando na força da educação para transformar a vida das pessoas. "Meu pai era apaixonado por ser professor. Para ele, não existia aluno 'perdido'. Desde que ele percebesse que havia esforço e vontade de aprender, ele estava à disposição para ensinar quantas vezes fosse necessário".
Da mesma forma, Romildo compreendia que docência e pesquisa caminham juntas, devendo ser feitas com prazer, de forma orgânica. "Com o meu pai aprendi que o difícil é o desconhecido; que o que move a vida é o sonho; e que hoje estou melhor do que ontem, apesar da saudade", finalizou Ana Flávia.
Desafios
Para o atual diretor do IME, são pessoas como Romildo que constroem a UFG. Sua trajetória, segundo João Medrado, mostra que o desafio não é apenas o de ser bons pesquisadores, mas sobretudo bons professores. "Precisamos a cada dia de mais Romildos, com olhar atento e escuta sempre aberta", enfatizou o professor.
O diretor lembrou que a trajetória do professor emérito se confundia com a própria evolução do IME. Ele citou que a unidade tem hoje 100 professores – todos com doutorado completo até março do ano que vem. Outros pontos destacados foram a força da pós-graduação, a produção científica de relevância nacional e internacional, e a expansão do ensino, como, por exemplo, a implantação dos cursos de Estatística e de Matemática Aplicada e Computacional.
Honraria
A reitora da UFG lembrou que o título de professor emérito é a maior honraria dedicada pela UFG a um docente. "Representa tudo o que a Universidade, neste momento, pode devolver ao professor Romildo por tudo o que ele deu a esta instituição", afirmou Angelita Pereira.
A reitora prestou sua solidariedade à família de Romildo, para que a homenagem pudesse ajudar a "transformar a insanável dor da ausência em alegria". "Aqueles que fazem a diferença na vida de outras pessoas semeiam principalmente a esperança, e não há nada de que necessitemos mais neste momento que esperança: na vida, nas pessoas, na humanidade".
Angelita finalizou dizendo que a tarefa da UFG ao outorgar um título de professor emérito é assumir para si o legado desse servidor. "Assim, a UFG fica mais comprometida com uma educação que transforma, porque esse foi o grande legado do professor Romildo".
Fuente: Secom UFG