Angelita Pereira de Lima

Reitora da UFG fala à comunidade universitária

On 06/07/24 09:23 .

Gestora destaca indicadores da Universidade, desafios e a importância do diálogo

Texto: Ana Paula Vieira, Luana Borges e Márcia Araújo

Imagem: reprodução YouTube

“Nós estimamos que, para modernizar ou resolver todos os problemas de infraestrutura, nós precisamos de mais ou menos R$ 200 milhões em investimentos”. Foi o que informou a reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Pereira de Lima, em entrevista concedida ao canal UFG Oficial no YouTube. A reitora explicou, em termos das destinações orçamentárias, a realidade atual no ensino superior brasileiro e os desafios da UFG neste contexto. 

Segundo ela, apesar das recentes melhorias – em 2023 houve uma suplementação orçamentária para a UFG de cerca de R$ 20 milhões – , a realidade ainda é desafiadora. Isso porque, no último governo, houve um longo período sem quaisquer investimentos nas universidades públicas, o que gerou uma defasagem ainda persistente.   

Apesar disso, a reitora é enfática ao dizer que o momento é de retomada, uma vez que os acréscimos orçamentários, embora ainda baixos diante do gargalo,  vêm ocorrendo. “Não é correto fazer o discurso de terra arrasada nas universidades. Isso não corresponde aos fatos e, pior ainda, faz coro ao discurso dos verdadeiros adversários da educação e das universidades no Brasil, que são os negacionistas, os que desprezam o conhecimento científico, aqueles que cultivam o discurso de ódio”. 

Angelita Lima frisou também a importância de que as tensões e as disputas –  em um momento de forte e necessária mobilização da comunidade acadêmica – sejam estabelecidas com base no respeito e na reciprocidade. “Estamos abertos ao diálogo”. A gestão vem se reunindo com a coordenação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e com o comando de greve dos servidores técnicos-administrativos. Além disso, vem cumprindo o rito necessário para que a retomada do calendário acadêmico, após o fim da greve docente, possa se dar considerando as diversidades e complexidades de toda a comunidade.  

 

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Angelita: "tensões e as disputas devem ser estabelecidas com base no respeito e na reciprocidade"

 

Professora, as mobilizações dos docentes, dos técnicos administrativos e dos estudantes apontaram alguns problemas das universidades brasileiras. Como está a situação aqui na UFG? 

É sabido por todos que as universidades brasileiras passaram por um período longo de restrições orçamentárias e, obviamente, isso impactou e gerou vários problemas. Por exemplo, a UFG tem, em média, 350 mil metros quadrados de área construída. Nós estimamos que, para modernizar ou resolver todos os problemas de infraestrutura, nós precisamos de mais ou menos R$ 200 milhões em investimentos. Nesse sentido, nós temos uma outra questão importantíssima: os laboratórios de ensino de graduação ficaram, nesse período todo, sem recursos orçamentários para atualização e modernização, enquanto a tecnologia avançou muito rapidamente. E a universidade continua crescendo – nós precisamos de investimentos, construção de novas instalações e não há recurso para isso. Esses são problemas evidentes gerados por uma falta, durante um período longo, de uma dotação orçamentária adequada ao tamanho da UFG. Já  no campo administrativo –  e eu acho muito importante abordar isso – , nós enfrentamos um problema sério que é a necessidade da valorização da carreira dos servidores das universidades, com destaque aos servidores técnicos-administrativos, que têm uma carreira mais defasada e uma necessidade urgente de recomposição salarial. Esses problemas, obviamente, têm um impacto importante sobre a Universidade.

Esses problemas impactaram, de alguma forma, o funcionamento e o rendimento da UFG?

Sem dúvida. Nós temos problemas, demandas acumuladas e a falta de uma destinação orçamentária nos anos correntes. Ficamos reféns, até 2022, do déficit e dos cortes de orçamento. Com isso [até aquele ano] gastamos a nossa energia para pagar as contas e viramos o ano sempre com déficit. Isso com certeza faz com que a gestão tenha mais trabalho e mais dificuldades para resolver os problemas efetivos.

Agora, não é correto fazer o discurso de terra arrasada nas universidades. Isso não corresponde aos fatos e, pior ainda, faz coro ao discurso dos verdadeiros adversários da educação e das universidades no Brasil, que são os negacionistas, os que desprezam o conhecimento científico, aqueles que cultivam o discurso de ódio.

E por que nós não podemos fazer o discurso de terra arrasada? Porque os indicadores da UFG mostram, por exemplo, que, mesmo com todas as restrições orçamentárias, a nossa comunidade acadêmica continuou aumentando a sua produção científica. Nosso relatório de 2023 apresenta mais de 4.500 artigos científicos publicados. Por causa da sua produção acadêmica, cultural e artística, a UFG está ranqueada entre as mil e 1.200 melhores do mundo no ano de 2023. Isso significa que, apesar das restrições, a Instituição continuou crescendo. Continuou forte.

Outro indicador importante é que nós atuamos diretamente para garantir o ingresso de estudantes na UFG: somos uma universidade que preencheu cerca de 90% de suas vagas Sisu [Sistema de Seleção Unificado] no ano, no momento do ingresso. Nós saímos de 75% para um número superior a 90%. São indicadores que revelam que, apesar dos problemas que são reais, a universidade continua cumprindo seu papel fundamental como instituição de ensino, de pesquisa e de extensão. Continuamos cumprindo nosso papel de formação de pessoas, com uma forte colaboração com as instituições para resolver demandas e problemas da sociedade goiana e da sociedade brasileira.

E em relação a esses problemas, professora, como a UFG trabalha para solucioná-los? Em termos nacionais, aqui a situação é mais grave?

Eu não diria que é mais ou menos grave. Eu diria que a nossa gestão enfrenta os problemas tal como a administração deve enfrentar: diagnosticar, priorizar, planejar, fazer uma execução das ações de forma integrada. Isso é o que nós temos feito, modernizando, inclusive, a forma de gerir – dialogando, criando espaços de diálogo.

E aí eu acho que é importante voltar [à questão do orçamento]. Há, em 2023, uma sinalização importante do atual governo de inversão da situação: antes, nós vivíamos os cortes, mas, em 2023, nós tivemos mais de R$ 20 milhões de suplementação orçamentária, tanto para custeio quanto para capital. Em 2024, nós já tivemos uma suplementação da ordem de R$ 3,5 milhões. É claro, não é suficiente, mas isso é uma sinalização de que há uma inversão na prática, na política pública de educação e na destinação de recursos para as universidades. É óbvio, [após] tantos anos de restrição nesse sentido, não há como termos a solução de todos os problemas ao mesmo tempo, e de forma imediata. Por isso, o enfrentamento tem de ser nessa linha que eu disse – diagnosticar, priorizar os problemas mais urgentes e mais emergentes e fazer uma implementação integrada.

E qual é o resultado disso para nós hoje? Nós estamos com 18 obras contratadas e em andamento – algumas já finalizando em 2024 para as situações mais urgentes e emergentes da Universidade Federal de Goiás. Nós implementamos, neste ano, a última etapa da nossa usina de produção de energia fotovoltaica e a UFG hoje já produz 50% da energia que consome. Isso, sem dúvida, tem um impacto no orçamento importante, uma redução da ordem de mais de R$ 7 milhões de gastos com energia. E é óbvio que essa economia vai ser destinada, com o planejamento, para as outras urgências e emergências da Universidade. Essas definições não ocorrem da noite para o dia. Isso é resultado de planejamento, de trabalho de equipe, de gestão integrada e de uma comunidade acadêmica engajada em sua tarefa, em sua missão na Universidade.

Falando na comunidade acadêmica, após o encerramento da greve dos docentes, em 27 de maio, como está o retorno às aulas na UFG?

Nós estamos em processo de retorno e a saída de uma greve é sempre complexa. Não há uma solução imediata nem linear. Nós temos que viver esses processos. A retomada das aulas está se dando exatamente do ponto em que foram paralisadas. Isso significa que cada unidade acadêmica, cada curso, está tendo a oportunidade de se reorganizar e os professores retomarem as aulas conforme o seu plano de ensino, tanto na graduação como na pós-graduação.

De nossa parte, estamos atuando conforme o rito necessário, encaminhando a adequação do calendário acadêmico. A Comissão do Calendário Acadêmico está se reunindo e vai apresentar a proposta à Câmara de Graduação, que a levará ao Cepec [Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura]. Esse encaminhamento é importante para atender a toda a comunidade acadêmica nas suas diversidades e complexidades.

Reitora, e qual a mensagem que a senhora gostaria de deixar para a comunidade universitária neste momento?

Nós vivemos um momento intenso de mobilizações dos estudantes, dos servidores técnicos-administrativos que ainda permanecem em greve e dos docentes que encerraram sua paralisação. Nesse cenário, é importante dizer que nós, da gestão, estamos mantendo os espaços de diálogo necessários, demandados. Por exemplo, nós estamos nos reunindo com a coordenação do DCE [Diretório Central dos Estudantes da UFG], a partir da pauta apresentada pela entidade. Também temos uma comissão se reunindo com o comando de greve dos servidores técnicos-administrativos.

Então a mensagem que eu deixo é a seguinte: em um momento como esse – de forte mobilização – há tensões e disputas. A nossa tarefa é passar por tudo isso, ao retomarmos a atividade plena na Universidade, sem gerar rupturas ou dissensões que depois sejam insuperáveis no âmbito da convivência da comunidade acadêmica. Esta é uma comunidade forte e engajada. A Universidade Federal de Goiás é uma instituição reconhecida, que estabelece colaborações importantes com diversos agentes, incluindo governos federal, estadual e municipais, no campo da ciência, da tecnologia e da inovação. Nós podemos internamente viver esses processos, que são de tensões e eventualmente de disputas, reconhecendo as diferenças, mas garantindo que a convivência seja adequada para o ambiente de trabalho.

Confira o vídeo da entrevista, concedida por Angelita Pereira de Lima ao canal UFG Oficial no Youtube:

Source: Reitoria Digital/Canal UFG Oficial (YouTube)/Secom UFG

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