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Pint of Science Goiânia conecta ciência, arte e descontração

Em 17/05/24 17:18.

Apresentações em bar no Setor Marista atraíram mais público do que a média para os dias da semana

Texto: Márcia Araújo

 

No Pint of Science Goiânia, o conceito de trazer a ciência para o clima descontraído do botequim e de misturar temas bem diferentes rendeu, no Public 36 Rock Bar, de 13 a 15 de maio, um evento que combinou pesquisa sobre o gado curraleiro, informações científicas sobre whey protein, soluções científicas e tecnológicas a partir do aproveitamento de resíduos e a história dos pianeiros acompanhada pelas músicas por eles imortalizadas. Ciência séria com muito bom humor, clima de bar e clássicos da música ao piano. Foi assim que a Universidade Federal de Goiás organizou essa programação e surpreendeu o público.
A coordenação local foi da professora Daniela Melo, do Instituto de Ciências Biológicas da UFG. A organização geral foi da Secretaria de Comunicação, por meio da Diretoria de Difusão da Produção Acadêmica, e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação. A recepção de quem esteve por lá mostra a aprovação desse formato de evento. O público deu boas risadas, participou de quizz, tentou responder às perguntas dos pesquisadores e também bebeu, beliscou e aproveitou a noite. O movimento do bar para esses dias foi maior do que o normal e o chef Júnior Pimenta, proprietário, afirmou ter gostado muito da experiência. “As portas estão abertas para vocês”.


Muita história, muito sabor
No primeiro dia do festival no Public 36, a proposta foi abordar duas proteínas bem diferentes. Para falar da picanha do gado curraleiro ao whey protein, foram convidadas as professoras Maria Clorinda Soares Fioravanti, da Escola de Veterinária e Zootecnia, e Cristiane Cominetti, da Faculdade de Nutrição da UFG. De um lado, a proteína mais in natura, a picanha do slow food, de outro, a proteína da moda, proveniente da indústria de laticínios, pronta para um lanche rápido pré ou pós-treino.
Para falar dos curraleiros, Clorinda primeiro explicou que raças locais brasileiras são aquelas que estão tempo suficiente em um país de forma que se adaptaram a um ou mais sistemas de produção tradicional ou ecossistemas. Esse é o caso do Curraleiro pé duro, cujos antepassados foram trazidos pelos europeus há 500 anos, e que hoje vive no Cerrado e na Caatinga, nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, e foi reconhecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária como raça local brasileira.
O curraleiro ganhou esse nome aqui, no Centro-Oeste, porque esses bovinos eram os animais que viviam nos currais. No Nordeste, era chamado de pé duro por conta das pedras e do fato de ter um casco resistente. O nome Curraleiro pé duro é resultado da junção dos dois nomes regionais – isso depois de anos de muita discussão. “Agora quero deixar claro o que o Curraleiro tem de bom. Quando eu comecei a estudá-lo, o que mais ouvi foi: professora, isso não presta para nada. Então, o que temos após 20 anos de trabalho?” A lista enumerada pela pesquisadora rende outro parágrafo.
Ela salientou a ampla variedade genética e o potencial tanto para produção de carne quanto de leite. “O curraleiro tem uma carne saborosa que é entremeada de gordura e tão boa quanto a carne Angus. Ele é dócil, tem rusticidade, faz parte da nossa história, tem baixo custo de manejo, é adequado para criação em sistemas orgânicos de produção, é resistente a enfermidades e ao calor intenso, é super adaptável, é um sobrevivente, ou seja, é totalmente brasileiro.” A pesquisadora também defende que esse animal pode ser criado em alguns parques de preservação sem degradar o ambiente, inclusive ajudando a prevenir incêndios. Além disso, ela explicou que a maioria dos curraleiros tem genes para A2A2,ou seja, com melhoramento genético, é possível produzir leite A2A2 a partir desses animais.


Quem precisa de whey protein?

Por falar em leite, é a porção aquosa desse alimento que se separa durante a fabricação do queijo que é utilizada para a produção do suplemento whey protein, como explicou a professora Cristiane Cominetti, responsável pela segunda parte do tema da noite. Whey significa soro do leite e protein, proteína. A pesquisadora chamou a atenção para a desinformação sobre esse suplemento – a começar pelas propagandas enganosas em que se afirma que essa é a mais “superior” das proteínas. “Quem precisa consumir whey protein? Geralmente, ninguém, se tiver uma alimentação balanceada”, afirmou a professora ao realizar uma dinâmica com o público, a partir de perguntas com respostas de múltipla escolha.
Se for consumir o suplemento, Cominetti explica que o melhor tipo de whey para cada pessoa depende das necessidades e das restrições alimentares de cada uma. Na comparação entre whey concentrada e isolada, esta 60% mais cara, a professora aponta que, tendo em vista essa grande diferença de preço entre ambas, a segunda provavelmente só vale a pena para quem tem intolerância à lactose, já que essa substância é removida nessa versão do suplemento.
A mesma coisa vale para a whey hidrolisada, três vezes mais cara do que a whey concentrada. A pesquisadora citou trecho de postagem do site Ciência Informa: “a hidrólise, ou pré-digestão, da whey protein faria com que sua absorção fosse mais rápida. Em teoria, essa maior velocidade de absorção resultaria em maiores efeitos sobre a síntese proteica muscular. Todavia, [...] a whey protein já é muitíssimo bem absorvida, mesmo sem ter passado por nenhum processo de hidrólise.” Ou seja, analisando cientificamente, alguns tipos de whey têm mais preço e propaganda do que benefícios.


Ciência para solucionar problemas

Se a alimentação é uma questão de alta relevância para a sociedade, há outros temas que demandam atenção imediata. O professor Nelson Antoniosi Filho, do Instituto de Química da UFG, começou a sua conversa no Pint of Science, no dia 14 de maio, afirmando que a ciência busca solucionar problemas. Ele perguntou ao público qual grande problema é vivido pelo Brasil atualmente e algumas pessoas citaram as inundações no Rio Grande do Sul. O pesquisador então mostrou que preparou sua fala justamente enumerando as soluções científicas e tecnológicas voltadas aos diversos desafios decorrentes dessa grave situação e que foram desenvolvidas no Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames-UFG), coordenado por ele.
Alguns dos problemas citados por Antoniosi foram a grande quantidade de lixo e de barro gerada pelas inundações e a necessidade de reconstrução de casas e edifícios. Ele então apresentou um vídeo sobre a fabricação de tijolos a partir de resíduos têxteis e rejeitos de mineração e outro sobre fabricação de tintas a partir de resíduos têxteis, óleo vegetal usado e glicerol, que é um rejeito da indústria. Outro desafio apontado pelo pesquisador é o transporte das doações. Como solução, ele apresentou pesquisa que possibilitou a produção de combustíveis, inclusive querosene de aviação, a partir de resíduos plásticos. Outra pesquisa desenvolvida no Lames é a que permitiu a obtenção de água potável por meio de filtração em borra de café. Por fim, Nelson Antoniosi falou sobre o desenvolvimento de exame para detecção de câncer a partir da cera de ouvido, cujos primeiros resultados foram divulgados há alguns anos, e informou que a pesquisa já permite o diagnóstico em estágios anteriores ao câncer.


Arte para se desligar dos problemas

Se na terça, a tônica foram as soluções da ciência para problemas bem sérios, na quarta, dia 15, a leveza do choro, a graça de Chaplin e o talento do pianista fizeram o público se divertir e voltar no tempo por meio da arte e da pesquisa. O professor Robervaldo Linhares Rosa, da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, falou sobre a origem do choro, a partir da polca interpretada e adaptada pelos brasileiros, e o surgimento dos pianeiros, que eram músicos profissionais que ajudaram a popularizar o piano, instrumento antes restrito à elite, que tocava por hobby.
Rosa destacou o papel de Chiquinha Gonzaga, que revolucionou a música tanto por tocar o choro, antes restrito à população mais pobre, quanto por popularizar o piano. Com o instrumento, ele tocou a música “Ó abre alas” da compositora, primeira marchinha brasileira de Carnaval. À época, ressaltou, tocava-se até ópera durante essa festa. Essa música, portanto, foi um marco para a identidade musical do Carnaval no Brasil.
A apresentação do professor mesclou destaques de sua pesquisa histórica e musical sobre os pianeiros e a execução de músicas ao piano, além de um quizz, ao final, que animou o público. Um dos momentos divertidos da noite foi quando Robervaldo Rosa apagou parte das luzes, exibiu o trecho do filme “O circo” de Charles Chaplin e tocou a trilha ao piano. O pesquisador explicou que era assim no começo do século XX: os filmes, sem som, eram exibidos enquanto os pianeiros tocavam a música ao vivo. O público entrou no clima e deu boas risadas. Por alguns minutos, foi possível trocar os problemas pelas notas musicais executadas pelo premiado pianista e pesquisador da UFG que, no Pint of Science, foi o pianeiro que garantiu a diversão da noite.

 

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Fonte: Secom/UFG

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