Mestranda da UFG tem trabalho duplamente premiado em evento
Pôster sugere uso de células-tronco em testes como alternativa ao uso de animais
Texto: William Correia
Fotos: Arquivo Tox In/UFG
O I Congresso Brasileiro de Métodos Alternativos ao Uso de Animais na Pesquisa e no Ensino (I CBMAlt), sediado no Rio de Janeiro entre os dias 6 e 9 de novembro, terminou com uma aluna da Universidade Federal de Goiás (UFG) entre os destaques. A mestranda Lauren Dalat, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF/UFG), teve sua pesquisa premiada pelo caráter inovador e promissor em duas categorias diferentes do mesmo evento.
Lauren fez parte da delegação goiana de 12 pesquisadores que apresentaram 15 resumos nesta primeira edição do congresso no País. O trabalho premiado é parte da dissertação que ela está construindo e sugere a utilização de células-tronco humanas oriundas do dente para o desenvolvimento de modelos in vitro que poderão substituir, no futuro, testes com animais na avaliação da toxicidade de cosméticos e medicamentos.
O diferencial está no fato de as células-tronco adultas em questão serem obtidas pelo aproveitamento de material de descarte captado de forma pouco invasiva. "Nesse caso, o dilema ético se restringe somente a uma doação consentida de forma livre e esclarecida", afirma Lauren, que teve seu pôster duplamente premiado dentre mais de 150 oriundos de todo o Brasil nas categorias "Prêmio de melhores trabalhos: métodos alternativos e sustentabilidade" (2º lugar), do Boticário, e também na "Premiação Natura: novos métodos sem modelos em animais" (sem classificação).
Outro ponto de destaque dessa nova abordagem metodológica (NAM) diz respeito às vantagens que ela apresenta no contexto da teratogenicidade – relativo à substância ou agente capaz de provocar malformações congênitas em um embrião ou feto em desenvolvimento –, como alternativa ao teste padrão-ouro para avaliação de toxicidade desenvolvimental, o TG 414 (OCDE) realizado em modelos animais. Nele, roedores ou não roedores (ratos e coelhos, por exemplo) são expostos à substância-teste para verificação de efeitos do composto no desenvolvimento do feto.
Apesar de amplamente utilizado, este ensaio, segundo Lauren Dalat, possui uma série de pontos criticáveis, sendo eticamente questionável, trabalhoso, caro e incapaz de reproduzir com precisão as respostas humanas. "Por isso, se faz necessário o desenvolvimento de novas abordagens metodológicas, que reduzam ou substituam a utilização de animais, e que também aumentem a capacidade preditiva do in vitro/in vivo para que não se repita a tragédia da talidomida", explica. Além disso, tal metodologia perdeu a utilidade na avaliação de cosméticos devido à restrição do uso de animais para este fim, tornando a falta de um teste in vitro em potencial fator limitante da inovação nesta indústria.
A "tragédia da talidomida" a que Lauren se refere é um evento marcante na regulação de medicamentos e trata da prescrição indiscriminada do fármaco, usado no tratamento de lúpus e hanseníase, para aliviar as náuseas em mulheres gestantes no decorrer da década de 1950. Anos depois, descobriu-se que a talidomida é teratogênica, podendo afetar o embrião ou o feto e gerar malformações, mas o estrago já estava feito. Estima-se que mais de 10 mil pessoas tenham sido vítimas do medicamento ao redor do mundo.
Perspectivas futuras
A pesquisa utilizou dois compostos de natureza diferentes, um conhecidamente teratogênico (5-fluorouracil) e um não teratogênico (ácido fólico), e os próximos passos para se chegar a uma metodologia consolidada devem ser dados no doutorado. "Pretendo avaliar a modulação de biomarcadores com períodos de exposição diferentes, e quem sabe, futuramente, diferenciar estas células-tronco dentárias para algum tecido e avaliar parâmetros após a exposição", relata.
Todo o trabalho foi concebido e desenvolvido no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro (Tox In/UFG), no Centro de Pesquisas Life, localizado dentro do Parque Tecnológico Samambaia (PTS/UFG), sob a orientação da professora Marize Campos Valadares, que compôs mesa-redonda e ministrou uma palestra no I CBMAlt. Ela também é a autora correspondente do trabalho juntamente com a equipe de pesquisadores do Tox In/UFG.
Quando perguntada sobre o futuro, Lauren, que se interessou pela área da Farmácia ainda no ensino médio e se apaixonou por toxicologia nos primeiros períodos da faculdade, não descarta nenhuma possibilidade, mas diz que a pesquisa é sua paixão. "Em um primeiro momento, quero continuar trabalhando na busca do desenvolvimento de um modelo que seja aplicado para avaliação de possíveis teratógenos in vitro e sonhar com uma validação desse modelo”, conclui.
Source: PRPI UFG