Semana de aniversário da UFG resgata história do jornal 4º Poder
1º veículo da Universidade foi criado por Colemar Natal e Silva e contava com grandes escritores
Texto: Versanna Carvalho
Fotos: Júlia Barros
A semana de aniversário de 62 anos da Universidade Federal de Goiás (UFG) foi iniciada com o lançamento da exposição “Jornal 4o Poder 60 Anos”. O jornal foi um marco na história da imprensa universitária goiana e da própria Universidade, pois foi idealizada desde o início da UFG e criada quando a Universidade contava com apenas dois anos de existência. A data oficial de fundação do veículo de comunicação é 17 de dezembro de 1962. Veja aqui as fotos do evento.
Uma das hipóteses apontadas para a escolha do nome do periódico é de que teria vindo do sociólogo Darcy Ribeiro em referência à influência exercida pela imprensa na sociedade, como se fosse um quarto poder junto aos outros três Poderes oficiais do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário.
A publicação começou em consonância com a proposta da UFG, mostrando-se analítica, combativa e com o intuito de servir à comunidade da qual fazia parte. O jornal dedicava-se à discussão de temas pertinentes a toda a sociedade e não apenas da UFG. As edições abordavam temas políticos e econômicos do País e os reflexos de algum acontecimento ocorrido em outros países no Brasil. Também tratavam de cultura popular, transporte público, movimento sindical e reforma agrária. Até a ditadura militar foi objeto de análise pelo jornal, embora tenha sido tratada como “revolução”. O jornal deixou de circular cerca de dois anos depois da sua criação com a publicação da edição número 74, cerca de um mês depois do início da ditadura militar.
Mesa-redonda
Durante a mesa-redonda sobre o 4º Poder realizada na segunda-feira (12/12), no Centro Cultural UFG (CCUFG), no Câmpus Colemar Natal e Silva, em Goiânia, os convidados falaram sobre a conjuntura sócio-política da época e de como foi o processo do resgate da história do jornal. O ex-deputado federal e advogado Aldo Arantes relatou sua vivência, quando era estudante universitário na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), nos anos 1960.
Para Aldo, que é goiano de Anápolis, está hoje com 83 anos, o 4º Poder é uma referência ao papel do movimento estudantil naquela época. Ele lembra que nos anos de criação da Universidade Federal de Goiás havia uma movimentação pela reforma universitária, com participação ativa dos estudantes. Algumas das reivindicações era adaptar os currículos à realidade brasileira e a troca do poder da cátedra vitalícia pela criação de um sistema de carreira para a universidade. "A luta pela reforma universitária teve início em Córdoba na Argentina ganha a América Latina e tem expressão no Brasil".
Artigos publicados
O Professor Emérito da UFG, geógrafo, historiador e escritor Horieste Gomes, 89 anos, era um docente recém-contratado pelo Centro de Estudos Brasileiros (CEB) da UFG como professor de Geografia. Como ele mesmo disse, teve a oportunidade de participar de alguns marcos civilizatórios na construção da Universidade.
Modesto, Horieste comenta ter tido "a sorte de pertencer a esse centro e de produzir meus trabalhos iniciais ligados à Geografia enquanto saber aberto que oferece possibilidades para que o homem possa transformar uma determinada realidade a nível social e histórico". Com a imprensa universitária, contribuiu com a publicação de aproximadamente 25 artigos dentro da temática da Geografia no 4º Poder.
O escritor afirma que "o 4º Poder propiciou essa abertura de poder se expressar de uma maneira mais livre. Era um jornal aberto às ideias. Não era um jornal preso a uma única linha, mas tinha essa missão de abrir para que as pessoas pudessem participar".
TCC
Todo esse reencontro em torno da história do 4º Poder foi possível graças à iniciativa de uma então estudante de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC UFG), Luisa Guimarães, que decidiu pesquisar, resgatar e contar a história do periódico no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O trabalho frutificou, resultando em um projeto de digitalização do acervo, na doação para a UFG dos exemplares que conseguiu obter durante a pesquisa e agora na exposição "Jornal 4º Poder 60 Anos".
"Quando eu estava terminando a faculdade de Jornalismo, aqui na UFG, por um mero acaso eu fiquei sabendo que houve um jornal que foi publicado nos primeiros anos da Universidade e que foi o primeiro veículo [de comunicação] da UFG e que tinha como notáveis colaboradores nomes como Bernardo Élis, Marieta Telles Machado, Zoroastro Artiaga, Horieste Gomes, Gilberto Mendonça Teles", relata.
Durante a pesquisa, Luisa também descobriu que o avô, Élbio de Brito Guimarães, "estava envolvido diretamente não só na publicação como no processo de estruturação da imprensa universitária".
Defesa
O professor do curso de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), Pablo Lisboa, é o curador da exposição juntamente com a pró-reitora de Extensão e Cultura (Proec) da Universidade, Luana Ribeiro. "É muito importante resgatar a história da nossa Instituição para a defesa da Universidade. Em uma sociedade efêmera como é a capitalista, projetos e ações de resgate da memória são importantes atos políticos revolucionários", diz o curador.
A mostra, que é para ser contemplada e experienciada, conta com 7 das 73 capas do 4º Poder expostas em banners. Há também uma banca com cópias da última edição do jornal, que podem ser lidas e levadas pelo visitante.
Segundo a reitora da UFG e orientadora do TCC sobre o 4º Poder, Angelita Pereira de Lima, o vice-reitor, Jesiel Freitas Carvalho, foi um dos grandes entusiastas com a realização da exposição. Ela também destacou que esta é uma data histórica pela abertura da semana de comemoração ao aniversário da UFG e por trazer à tona esse importante capítulo da história da Instituição.
Durante a sua fala, Angelita leu a mensagem do primeiro reitor da UFG, Colemar Natal e Silva, publicada no jornal em dezembro de 1963, época do terceiro aniversário da Universidade e do primeiro do 4º Poder. Em um trecho do texto, Colemar afirmou que o 4º Poder estava cumprindo sua destinação histórica e que não se apartaria das classes populares, "pois sintetiza a manifestação límpida da juventude".
O editorial diz que o jornal buscava sempre ter em vista o futuro, "aliando a contribuição informativa, o princípio da doutrinação científica, como veículo que interpreta de forma clara e precisa, o avanço da UFG sobre o seu tempo". Na última parte, o fundador da UFG deseja que a "Universidade possa continuar a cumprir o relevante papel a que foi destinada no panorama do Estado e do País, sintonizando-se, cada vez mais, com o sofrimento do povo e com a necessidade de recuperação da pátria".
O vice-reitor da UFG, Jesiel, comenta que é difícil não se emocionar com o resgate propiciado pela exposição. Segundo o gestor, ao acompanhar a história de todo o processo de criação do 4º Poder e o da própria Instituição, tona-se "fácil entender como a Universidade chegou aonde está atualmente, entre as 10% melhores do mundo. Estamos assentados em bases muito sólidas", conclui.
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资源: Secom UFG