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“As Ciências Humanas e as Artes têm respostas para dar”

Em 15/06/20 21:50.

Painel do Simpósio Ciência, Arte e Educação reuniu pesquisadores da(s) humanidade(s) para pensar o cenário da pandemia

Caroline Pires

 

A penúltima noite do Simpósio Ciência, Arte e Educação, realizada ontem, 15/6, levantou uma série de questões sobre o papel da Arte nas diversas humanidades brasileiras durante e no pós pandemia da Covid-19. Os palestrantes ressaltaram a necessidade de um novo olhar para a cultura brasileira, em suas várias vertentes, se apropriando da arte como agente transformador do Brasil, marcado em sua história por tantas desigualdades. As discussões do painel “Arte, cultura e humanidade(s): reflexões da pandemia”  foram moderadas pelo reitor do IFG, Jerônimo Rodrigues e contou com a contribuição de psicanalista e jornalista, Maria Rita Kehl, o músico e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Hashimoto, o artista e professor da UFG, Dalton Paula e a professora Carol Costa Bernardo, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Ao final os palestrantes responderam a questionamentos dos participantes da live, fomentando o debate permanente e estimulando novas reflexões.

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Iniciando as falas da noite, Maria Rita Kehl lembrou da tendência em desvalorizar o papel das culturas na história mundial. “É interessante falar de cultura e humanidades porque não há nada de humano que não seja cultura. A cultura é o nosso ecossistema”, iniciou a sua fala. Pensando na realidade brasileira, a jornalista lembrou que a cultura foi formada por herança europeia, africana e indígena. Maria Rita Kehl destacou que os africanos trouxeram para a história do Brasil uma cultura muito rica a com presença de duas marcas importantes: o samba e o candomblé. “Parafraseando Virgínia Woolf, pelo menos hoje, apesar de tudo que estamos vivendo, ainda temos nossos livros na prateleira”, concluiu.

Já o professor Fernando Hashimoto (Unicamp) ressaltou o momento difícil que o país tem vivido, não só do ponto de vista da saúde como do político. “Vivemos uma desorientação política e um momento de ataque muito grande à cultura. Não só a artista mas a cultura como representação do humano”, afirmou. Observando o cenário atual da cultura do país, o professor lembra que hoje artistas, trabalhadores e trabalhadoras das artes somam  5 milhões de pessoas e que eles são responsáveis por cerca 5% do PIB nacional. Neste sentido, ele defendeu a importância de que os artistas nacionais pensem também por este aspecto. 

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Segundo o professor, as universidades devem se perguntar qual o papel que devem desempenhar nesse momento e a contribuição que podem dar para o Brasil como um todo. “Vivemos um sofrimento social em diversas áreas e é importante que nós, enquanto instituições públicas, possamos colaborar quanto a isto e não só no que se refere a cultura”, frisou. Para isso, ele citou quatro ações da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) voltadas para movimentações artísticas que são realizadas a distância e que convidam toda a sociedade a participar. 

 

“Quanto mais você dá a Arte, mais ela te retorna”

Compartilhando a sua experiência recente fora do país durante a pandemia, o artista visual Dalton Paula destacou a necessidade de pensar a potencialidade artística e poética em meio ao isolamento social. “Precisamos perceber o quanto a arte pode ser poderosa para enfrentarmos o desafio de superar tudo o que estamos vivendo”, considerou. Colaborando para as discussões, ele levantou questionamentos que devem estar em pauta na sociedade. “Qual os corpos estão mais vulneráveis na pandemia? Como podemos discutir as assimetrias quanto a isto?”, indagou. 

Destacando a manifestação da arte na humanidade, Dalton Paula defendeu o papel fundamental das suas manifestações. “De alguma forma podemos usar a arte como uma arma muito poderosa pela seu poder transformador e de mudança e eu estou cada vez mais certo disto. Quanto mais você dá para a arte mais ela te retorna e eu fico pensando no desafio disto para o futuro”. Por fim, ele destacou que hoje os brasileiros estão entre o medo político e o da ciência. “A resposta que precisamos virá da ciência, da arte e das universidades públicas como um todo”, concluiu. 

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“A pandemia está mudando a vida. Mas de quem?”

Partindo de provocações sobre as humanidades em sua fala, a professora Carol Costa Bernardo (Unilab) iniciou sua discussão lembrando Raul Seixas com sua frase “Todo jornal que eu leio me diz que a gente já era”. Tendo isto em mente, a pesquisadora questionou os participantes sobre qual humanidade está sendo hoje construída. “Não podemos universalizar as humanidades pois elas são plurais. E o que não está sendo dito nos jornais?”. Partindo deste ponto, o enfrentamento da pandemia provocou o estranhamento dos brasileiros. “Nossa casa está cheia de danos em sua trajetória e estrutura e nesse momento podemos mais uma vez encarar certos conceitos e categorias como racismo, machismo, colonialismo entre outros”, considerou. 

Ela afirma ainda  que essas categorizações afetam diretamente a todos os brasileiros. “A pandemia está mudando a vida. Mas de quem? Como estão as vidas das pessoas negras, indígenas, de quem está batendo panela, de quem está com conforto e de quem não está? Que humanidade estamos pautando para pensar os impactos da pandemia. É preciso chamar o Eu a se posicionar”, considerou. A professora seguiu sua fala destacando a necessidade de se olhar o impacto da pandemia nas suas particularidades. “Se não olharmos para as diferentes humanidades, pouca coisa mudará. É preciso questionar tudo isso caminhando sempre das margens para o centro”, considerou.  

Durante o debate final, a professora destacou que a ciência tem sido muito valorizada neste momento de pandemia, mas que infelizmente muito se fala da colaboração nas áreas da Saúde e Tecnologia, mas que as Ciências Humanas tem sido deixada de lado. “Nós também temos respostas para dar”, concluiu.

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“O processo que estamos vivendo nos coloca uns contra os outros sem promover uma desalienação”

Fonte: Secom/UFG

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