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Pela humanização da vida também no trabalho

在 27/03/19 11:52 上。

Gestores da UFG participaram de palestras para entender melhor as diversas facetas do Assédio Moral e como enfrentar esse problema cotidiano e cultural

Texto: Caroline Pires

Fotos: Giovana Paula Correia

 

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Uma mesa composta exclusivamente por mulheres conduziu a palestra da manhã desta quarta-feira, 27/3, Assédio Moral: aspectos legais, institucionais e pedagógicos. O auditório ficou repleto de gestores da Universidade Federal de Goiás com o objetivo de entender melhor as várias frentes desse tema. Os discursos reforçaram o momento político e social brasileiro que está na contramão de tudo o que se espera para a superação do Assédio Moral. Foram lembradas especialmente as consequências possíveis  da aprovação da reforma na previdência no formato apresentado ao Congresso Nacional. As palestrantes destacaram que é notório o adoecimento coletivo na sociedade brasileira no ambiente de trabalho, mas também no escolar.

A vice-reitora da UFG, Sandramara Matias Chaves, destacou o grande numero de inscritos para os eventos, o que demonstra o quanto a universidade tem avançado com relação a questão do Assédio Moral. Ela lembrou a aprovação da resolução do Assédio Moral na UFG e o impacto que a sua implementação no dia a dia da universidade, por meio do acompanhamento de perto dos processos instaurados. “A partir da aprovação da resolução temos visto um aumento das denúncias, o que reflete que a Universidade se preocupa não só com as questões que são inerentes a sua atividade fim, mas está preocupada com a vida da sua comunidade", afirmou. Segundo ela, a expectativa é que as discussões sobre assédio moral e sexual sejam levadas para todos os espaços da UFG, criando um ambiente que prime pelo diálogo e  o respeito. Por fim, ela agradeceu ao Sint-ifesgo e a Adufg pela parceira na realização do evento.

Ao final das palestra, os gestores tiveram oportunidade de apresentar suas dúvidas e pedir melhor esclarecimento de determinados temas relacionados ao Assédio Moral.

As faces do Assédio Moral

A professora Suzana Tolfo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iniciou sua fala falando que o trabalho é estruturante da vida dos indivíduos e o assédio moral no ambiente profissional uma violência psicológica,  o que por si só é algo difícil de caracterizar e comprovar. Ela ainda lembrou que o assédio pode ser tanto do superior para o seu subordinado, mas também do subordinado para com o chefe e ainda entre os colegas de trabalho. A professora afirmou que existe uma cultura de assédio moral também de forma organizacional. “Em muitas instituições há uma competição por metas e exigências desumanas que  se tornam erradamente justificáveis, especialmente quando se vive um momento de crise no país”, ressaltou.

Ela trouxe práticas de algumas instituições que são formas de assédio disfarçadas,  como enviar investigadores disfarçados para verificar se os trabalhadores afastados por motivo de saúde estão realmente doentes. Citando pesquisa realizada na UFSC, Suzana Tolfo apresentou as principais disparidades. “Nas universidades tem sido comum identificar a incoerência entre os valores discursados, como a democracia e a liberdade, que na prática do cotidiano não são adotados. Assim como a diferenciação entre a categoria de técnico-administrativos e docentes no trato profissional", afirmou.

Segundo a professora, as consequências de ambientes de assédio moral são tanto para o indivíduo, quanto para a organização e a sociedade em geral. “Ansiedade, dores generalizadas, isolamento, depressão e abandono das relações pessoais são as consequências mais comuns que refletem esse adoecimento mental", ressaltou. Ela lembrou que não é por acaso que tem sido estudado com muito mais força ultimamente o suicídio relacionados ao trabalho. “O assédio moral é um risco psicossocial permanente e deve ser sempre pensado em termos culturais", concluiu.

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A professora Suzana Tolfo iniciou a atividade apresentando as diferentes formas de assédio moral

 

“Quem quer ser humano jamais será o melhor funcionário”

O silêncio tomou conta do auditório quando a juíza do Trabalho da 4ª Região, Valdete Souto, abriu sua fala quebrando o paradigma que o assédio moral é algo recente ou que pode ser resolvido simplesmente por legislação. Ela explicou que há  leis hoje que determinam indenizações baseadas no salário do assediado. “É ridículo perceber que esse tipo de situação ainda aconteça, porque está provado que punição não resolve nada. A história do Brasil prova isso. Nosso problema é claramente cultural", destacou. A juíza ainda lembrou que não é necessário a repetição para que seja caracterizado o assédio moral.  “Colocar o tema em caixinhas obscurece a real raiz do problema. Escolhemos viver em uma sociedade onde ou se trabalha ou se morre de fome. Não há escolha e nesse ponto já está um potencial assediador pressuposto", explicou. Segundo ela, isso não acontece porque o chefe é cruel ou ruim, mas porque está implícito no sistema capitalista.

A juíza trabalhista reforçou que a falta de garantia de trabalho é um completo absurdo e isso vale também para os servidores públicos. “Há um esquema  em curso de desmanche do serviço público e há sim possibilidade de perder o emprego público”, afirmou. Inclusive, ela disse estar se tornado comum também serviço público a convocação em trabalhar por metas e baseada em números. “Cada vez mais se esquece que são humanos no ambiente de trabalho. Quem quer ser humano jamais será o funcionário do mês”, afirmou. Ela frisou que se tem tratado as pessoas no ambiente de trabalho como máquinas, e isso se comprova por expressões  como “desligamento" ou "porteira fechada".

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A juíza do Trabalho da 4ª Região, Valdete Souto, lembrou que o Brasil tem uma cultura escravocrata ainda presente

 

Exemplos

Complementando as falas, a procuradora do Instituto Federal Ceará (IFCE), Diana Azin, lembrou a barbaridade cotidiana de uma cultura machista que permeia o Brasil. Segundo ela, tem sido muito forte o assédio de servidores que não se sujeitam a chefias nas universidades. Especificamente no IFCE,  tem sido comum os casos de professores que se negam a ministrarem aula nos campi do interior, mesmo quando são concursados para isso.

“A normalização do machismo é algo absurdo e temos vivenciado muita situações de assédio sexual nas instituições de ensino", afirmou. Para ela, a situação se complica ainda mais quando se está lidando com estudantes que tem 14 anos quando ingressam nos institutos federais. A procuradora se disse horrorizada ainda com a dificuldade  dos assediadores se entenderem como abusadores, tamanha a força do machismo na cultura brasileira. Ela contou ainda o agravante da vulnerabilidade social dos estudantes no interior do Ceará.

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Gestores da UFG participaram da atividade durante toda a manhã

资源: Secom/UFG

类别: notícias