Pesquisa Qualitativa e suas potencialidades é tema de palestra
Palestra contou com participação da professora Efigênia Ferreira e Ferreira (UFMG) que tratou sobre o preconceito que a investigação qualitativa sofreu
Texto: Gustavo Motta
Fotos: Carlos Siqueira
Com o objetivo de promover e ampliar os debates sobre o fortalecimento das produções em pesquisa, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da Universidade Federal de Goiás (PRPI/UFG) realizou, na última sexta-feira (19/10), a Palestra “Pesquisa Qualitativa: porque, quando e como”. O assunto foi ministrado pela palestrante Efigênia Ferreira e Ferreira, docente e membro do programa de pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e contou com a participação de professores, estudantes e pesquisadores, reunidos no Auditório da Biblioteca Central (BC/UFG) no Campus Samambaia.
“Espero profundamente que a comunidade acadêmica da UFG tenha um bom proveito dessa iniciativa”, afirmou a professora, que avaliou positivamente a iniciativa da Universidade, por meio da Agência UFG de Inovação. A convidada destacou que, por muito tempo, a pesquisa qualitativa sofreu com o descrédito da comunidade científica, devido à origem positivista da pesquisa atual. “No mais, a investigação qualitativa não atende às métricas, ou aos mesmos rigores das pesquisas quantitativas - por isso, sofreu com o preconceito no passado”.
Professora Efigênia Ferreira (UFMG) destacou a importância dos métodos de pesquisa qualitativos
Sem métricas
A convidada destacou que o conteúdo ministrado foi desenvolvido conjuntamente com a professora Andréa Maria Duarte Vargas (UFMG), especialista em Epidemiologia. Como forma de introduzir a importância da pesquisa qualitativa, a acadêmica destacou que, enquanto a pesquisa quantitativa apresenta dados numéricos, expostos em escalas ou métricas, o método abordado se debruça sobre objetos que não podem ser quantificados, pois estão associados à subjetividades, percepções e impressões de grupos e indivíduos.
“Nesse sentido, os métodos qualitativos não podem ser entendidos sob os parâmetros dos métodos quantitativos, pois ambos atendem a princípios diferentes”, ressaltou. Ao buscar a experiência no seu campo de atuação, Efigênia Ferreira lembrou que muitas pesquisas dessa natureza foram desenvolvidas na área da Enfermagem, enquanto os médicos com quem conviveu, por muito tempo, encaravam negativamente as pesquisas dessa natureza. Contudo, a palestrante acredita que, sob um contexto de aumento da produtividade científica, a especialização segmentou pensamentos, em uma realidade na qual muitos fenômenos ainda carecem de atenção.
“O que percebemos é que a pesquisa quantitativa não dá conta de estudar a subjetividade das pessoas, daí a necessidade de se realizar pesquisas qualitativas - como eu vou medir a alegria, a satisfação, e os valores de alguém?”. Portanto, com o objetivo de ilustrar alguns dos métodos mais utilizados de pesquisa qualitativa, a palestrante destacou três - o Estudo de Caso, Estudo Etnográfico e História de Vida, diante de uma plateia formada, especialmente, por estudantes de graduação e pós-graduação, que devem conhecer e aplicar métodos de pesquisa em trabalhos, com fim de concluir as respectivas formações acadêmicas.
Estudo de Caso
“O Estudo de Caso é um dos mais utilizados, e tem sua origem dos estudos clínicos na área da saúde”, aponta. A palestrante destacou que esse método tende a ser empregado com frequência, especialmente pela sua viabilidade de tempo. “Ele visa ajudar o pesquisador no entendimento do ‘como’ e do ‘porquê’ da ocorrência de eventos ou fenômenos”. Efigênia Ferreira afirma que o Estudo de Caso pode contar com a realização de questionários, entrevistas, análises de documentos, formação de grupos focais, e a observação do meio no qual ocorre o fenômeno estudado.
Com objetivo de discorrer sobre o bom emprego desse método, a professora convidada destacou cinco componentes importantes que precisam constar no projeto de pesquisa: as questões do estudo, especialmente com objetivo de encontrar um motivo e uma explicação para a ocorrência do objeto sobre o qual se debruça; as proposições, ou seja, pressupostos que podem ser comprovados ou refutados ao fim do processo de investigação; as unidades de análise; a lógica que une as proposições; e os critérios para a interpretação das descobertas, possibilitadas pela investigação.
Etnografia
“Historicamente, essa foi a primeira experiência de pesquisa com objetivo de estudar objetos que não poderiam ser quantificados”, pontuou. Também conhecido como Estudo Etnográfico, esse método tem origem na antropologia e na observação de comunidades, grupos, coletivos, e seus cotidianos. Contudo, foi ressaltado que a Etnografia exige muito tempo para ser aplicada e cobra, do pesquisador, um conhecimento sobre o contexto histórico-cultural no qual se insere o meio estudado.
Entre os métodos citados, a palestrante destacou que, além da disponibilidade de tempo, a Etnografia exige uma disposição física (o deslocamento e a imersão no meio analisado) e material para ser realizada. “O pesquisador que se apropria desse método precisa ter condições para se deslocar até o espaço onde está o objeto de estudo, sendo que as informações colhidas precisam ser registradas em diário”.
No mais, o conhecimento prévio da cultura local é extremamente válido para se compreender o sentido dos signos de um povo, comunidade, ou grupo estudado. “O antropólogo Clifford Geertz, por exemplo, destacou tal necessidade ao exemplificar um caso de piscadelas, que poderiam ser entendidas, ora como tique nervoso, ora como uma forma de comunicação coletiva”, exemplificou, citando a chamada “Piscadela de Geertz” para expor a necessidade do pesquisador interpretar, de modo apropriado, as várias facetas daquilo que estuda.
História de Vida
A palestrante ressalta que esse método visa evocar e transmitir uma memória, vivida por alguma fonte de informação. “Portanto, o que importa é a obtenção de um ponto de vista do sujeito, contado pela oralidade ao pesquisador, a respeito de algo”. Nesse sentido, Efigênia Ferreira destacou a necessidade de se estabelecer um vínculo entre o pesquisador e a fonte, com uma aproximação que possa deixar a pessoa confortável para expressar o que viveu.
“É um método, acima de tudo, muito emocionante - no entanto, tende a ser desgastante”, alerta. A palestrante alega que, nem sempre, o pesquisador está preparado ou disposto a ouvir um relato, o que é obrigatório para o bom desempenho da pesquisa que necessite de tal atividade. Outro ponto levantado pela professora diz respeito à entrada e saída que o investigador precisa realizar em relação ao meio de atividade, uma vez que o mau desempenho do contato e despedida pode deixar uma percepção de rompimento entre quem recolhe as informações e a quem pertence a vivência, mesmo que essa tenha sido compartilhada.
“Esse cuidado com a pessoa precisa ocorrer a todo momento, inclusive na transcrição da entrevista, respeitando espaços de tempo, suspiros, soluços, choros, e outros elementos que possam surgir na linha temporal da conversa”. Outra atenção que precisa ser redobrada quando se realiza a pesquisa com História de Vida diz respeito à atenção para não mudar o sentido das falas. “A leitura precisa ser muito cuidadosa - por isso, é necessário que a interpretação ocorra sob critérios científicos”, concluiu.
Palestra contou com participação de professores, estudantes e pesquisadores, reunidos no Auditório da Biblioteca Central (BC/UFG)
Source: Secom/UFG
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