
Conpeex 2018: a quem serve a ciência?
Na conferência de abertura, secretário do MCTIC, Álvaro Prata, abordou a importância do conhecimento científico para a redução das desigualdades
Texto: Luiz Felipe Fernandes
Fotos: Carlos Siqueira
A quem servem as descobertas e os avanços científicos? Em tese, deveriam beneficiar toda a população, embora não seja isso que se observa na prática. Diante dessa realidade, a conferência de abertura do 15º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Goiás (Conpeex/UFG) abordou o tema Ciência para a Redução das Desigualdades, que orienta as discussões do evento este ano.
A conferência, coordenada pelo reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, foi proferida na manhã desta segunda-feira (15/10) pelo secretário nacional de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Álvaro Prata. Professor de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ele falou sobre a importância de refletir e discutir sobre como a tecnologia e a inovação precisam estar a serviço da sociedade.
O tema foi abordado pelo secretário em três perspectivas: a importância da ciência; o futuro em ciência, tecnologia e inovação; e a ciência para a redução das desigualdades. Para Álvaro Prata, a ciência é um patrimônio cultural e civilizatório, responsável por um salto de conhecimento da pré-história até os dias atuais. "A ciência é a maior aventura intelectual da raça humana, é o triunfo da razão e da imaginação", afirmou.
Para o futuro, a expectativa, segundo o conferencista, é de que esse conhecimento seja ainda mais importante. "O mundo inorgânico se aproximará do mundo orgânico. O conceito de vida, do ponto de vista científico, ficará cada vez mais tênue e vamos ter dificuldade de definir essas coisas com propriedade". Mas os avanços, como a tecnologia da informação, a nanotecnologia e a bio-engenharia, tornarão a ciência ainda mais desigualmente perigosa.
O risco, conforme explicou Álvaro Prata, está nos usos que a humanidade faz dos avanços científicos. "Será que o uso que fazemos dessa tecnologia só traz benefícios para as pessoas? Precisamos nos preocupar com o mau uso que fazemos dessas tecnologias. Avançar cientificamente sem se preocupar com a condição humana não vai nos levar a lugar nenhum", atestou.
Redução das desigualdades
Para demonstrar como a ciência pode atuar na redução das desigualdades, o secretário apresentou algumas iniciativas positivas. Próteses tecnológicas, por exemplo, conferem a pessoas com deficiência uma mobilidade até melhor que os membros orgânicos. No Brasil, próteses cranianas desenvolvidas pela Unicamp devolvem a qualidade de vida a pacientes e se tornam referência mundial em inovação médica.
E não para por aí. Álvaro Prata citou diversas áreas em que a ciência pode contribuir: doenças degenerativas, manejo florestal sustentável, poluição marinha, produção de energias alternativas, rejeitos urbanos, crise hídrica, tecnologias para habitações populares, além de uma diversidade de aparelhos e dispositivos com tecnologia assistiva. Embora algumas dessas inovações pareçam ser grandiosas e caras, muitas delas são soluções simples e práticas, como o soro caseiro, o piso tátil e as cadeiras de roda adaptativas.
Mas infelizmente, segundo o secretário, a inovação não tem diminuído a desigualdade, porque os benefícios atingem poucas pessoas. "A mesma tecnologia que nos ajuda, pode nos prejudicar, daí a necessidade de tratar o conhecimento científico e tecnológico de maneira mais ampliada. Para que todos os atores da sociedade se beneficiem, as inovações devem ser difundidas", finalizou.
Fonte: Secom/UFG