Seminário discute relações entre temporalidade e trabalho
Evento contou com presença da Professora Andrea Delfino, da Argentina
Texto: Gustavo Motta
Fotos: Carlos Siqueira
Com objetivo de discutir as relações do mundo laboral e do desemprego com o tempo de vida das pessoas, o Núcleo de Estudos sobre o Trabalho da Faculdade de Ciências Sociais (NEST/FCS) realizou, na última quinta-feira (16), a 51ª Edição do Seminário NEST, com o tema “Trabalho e Temporalidade Social: um olhar para dois grupos instalados na precariedade”. A professora e pesquisadora Andrea Delfino (Universidad Nacional del Litoral - Argentina) conduziu uma palestra sobre o assunto.
A palestra é resultado do Programa “Escala Docente”, da Associação de Universidades do Grupo del Litoral (Montevidéu). “Tanto a minha instituição, quanto a UFG, fazem parte dessa associação, que promove o intercâmbio entre alunos, professores e pesquisadores”, destacou a convidada. A coordenadora do NEST, Professora Tânia Ludmila Dias Tosta, avalia que a estada da palestrante foi produtiva e que se pretende continuar o esforço para ampliação do intercâmbio entre as pesquisas produzidas no Brasil, com o conhecimento acadêmico nos demais países da América Latina.
Palestra
As discussão destacou que a privação involuntária do trabalho produz consequências no tempo vivido pelas pessoas, permitindo uma desestabilização desse, enquanto referencial de vida. Sendo assim, a palestra buscou tratar das experiências temporais vinculadas, tanto ao trabalho, quanto à ausência do mesmo. “Foi apresentada uma pesquisa, resultante da observação de dois grupos - um primeiro, de trabalhadores em estado de subcontratação; e um segundo, de desocupados, que contam com assistência do governo argentino”, destacou Andrea Delfino.
No primeiro grupo, foi possível observar que as relações laborais são definidas pela disponibilidade de tempo, e pela intensificação dos ritmos de trabalho. “Enquanto isso, nos grupos de desocupados, foi percebida a ocorrência de uma fragmentação temporal, em jornadas múltiplas, simultâneas ou fragmentadas”. A especialista destaca que as relações ocupacionais e temporais têm se transformado, desde a década de 1970, com o advento de práticas mercadológicas neoliberais, e tecnologicamente atreladas à globalização, e ao compartilhamento remoto de informações.
“O trabalho em casa, por exemplo, é uma possibilidade das novas tecnologias, e dilui o tempo produtivo no tempo de vida doméstica do indivíduo”, pontua. Sendo assim, buscou-se discorrer sobre as novas tendências no mundo ocupacional, e sobre como elas repercutem na vida dos indivíduos observados, em ambos os grupos. “O trabalho impõe condições, inclusive de tempo, e faz com que o indivíduo se adapte às novas tendências”. Entretanto, as transformações não repercutem apenas nos indivíduos - as instituições também precisam se adaptar às demandas mercadológicas.

Professora Andrea Delfino conduziu palestra sobre temporalidade e trabalho
Tendência
“O Estado, por exemplo, precisou migrar de uma tendência de ‘Bem-Estar Social’ para a implementação de políticas neoliberais, que maximizam a produtividade laboral; ao mesmo tempo que precisa dar assistência aos desocupados, via programas de transferência de renda”. Foi destacado que a experiência de projetos de governo, executados nessa perspectiva, tanto no Brasil, quanto na Argentina, possuem históricos paralelos, ora semelhantes, ora diferentes. “Tivemos programas assim na década de 1990, mas ao final da Era Kirchner, por volta de 2007, nos aproximamos mais de políticas ao molde do ‘Bolsa Família’”.
Contudo, a palestrante diferencia as iniciativas de ambos os países, pois a experiência argentina exigia uma contrapartida, de retribuição ao benefício, por meio de trabalhos sociais - enquanto no Brasil, as famílias beneficiárias precisam manter as crianças vacinadas e comparecendo às escolas”. Ao destacar que as pessoas, muitas delas em situação de vulnerabilidade social (tais como aquelas que são beneficiárias de estratégias sociais de governo), buscam emprego para suprir, acima de tudo, as suas necessidades materiais, a informalidade pode se mostrar como uma tendência marcante nas relações laborais.
No âmbito dessas tendências, ao mesmo tempo em que o Estado visa prestar assistências aos indivíduos em situações de vulnerabilidade social, também passa por um processo de discussões sobre a flexibilização das leis trabalhistas, em um contexto neoliberal. “A desregulamentação das relações trabalhistas já era discutida na Argentina, ainda na década de 1990 - mas tem sido um assunto muito tratado na atualidade”. Como exemplo das tendências de mercado, a pesquisadora destaca que a individualização de carreiras e atividades provoca uma ruptura com o coletivismo fordista, no sentido de atribuir, individualmente, retribuições e promoções ao trabalhador mais produtivo ou motivado.

Evento contou com presença de professores, estudantes e pesquisadores, com interesse nos debates sobre as relações ocupacionais
NEST/UFG
O Núcleo de Estudos sobre o Trabalho (NEST/UFG) foi instituído em novembro de 2006, com a finalidade de conferir caráter institucional às atividades executadas em pesquisa, ensino e extensão, voltadas à temática do trabalho. A coordenadora do NEST, Professora Tânia Ludmila Dias Tosta, ressalta que, entre os objetivos específicos do projeto, estão “promover a integração de segmentos sociais vinculados ao mundo do trabalho, e realizar palestras, simpósios, conferências e outros eventos relacionados às investigações nas linhas de pesquisa sobre as relações de trabalho”.
Entre as programações promovidas, os seminários são realizados mensalmente ou, ainda, excepcionalmente, quando “recebemos algum pesquisador ou docente convidado para outras atividades - geralmente acadêmicos com atuação destacada em campos de estudo sobre as derivações do trabalho, tais como ocupações, profissões, políticas de emprego, questões de trabalho e gênero, entre outros”. A professora pontua que atividades como essa são positivas, pois enriquecem o debates e as pesquisas desenvolvidas no contexto ocupacional.
Fuente: Secom/UFG
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