Evento discute encarceramento feminino
Motivações para o aumento do encarceramento e condições dos presídios foram temas do debate
Texto: Kharen Stecca
Fotos: Carlos Siqueira
Conforme números oficiais do relatório do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) do Ministério da Justiça, em um período de 16 anos (entre 2000 – 2016), o número de mulheres presas no país saltou de 5.800 para cerca de 42 mil, representando um aumento de 656%. A taxa de aprisionamento feminino que era de 6,5 encarceradas para cada grupo de 100 mil mulheres, passou, em 2016, para 40,6 mulheres presas em 100 mil. Apesar da discussão o tema ainda é pouco discutido na academia. Para tentar elucidar e trazer subsídios, a Faculdade de Ciências Sociais realizou nos dias 26 e 27 de junho o Seminário Mulheres Encarceradas.

Valéria Queiroz falou de sua pesquisa em presídios de Goiânia, Cuiabá e Barra do Garças
No primeiro dia do evento, três pesquisadoras apresentaram trabalhos relacionados às motivações que levam mulheres a entrarem no tráfico de drogas, que é o principal crime pelo qual são presas. Valéria Queiroz, doutoranda do Programa de Sociologia da UFG, iniciou o trabalho apresentando estudos realizados com presas de Goiânia, Barra do Garças e Cuiabá. Segundo ela, havia uma hipótese preliminar de que o envolvimento com os parceiros era a motivação para os crimes. No entanto, percebeu-se que essa não era a regra. “Apesar de existirem esses casos, a mulher muitas vezes é a protagonista da história”.
Como mostram pesquisadores da área, protagonismo e vitimização, escolha e necessidade andam juntos. Entre os motivos para as entrevistadas se envolverem com o tráfico estão amizades, dinheiro fácil e necessidades. Ela afirma ser necessário entender que não é a pobreza que leva a criminalidade, mas, sim, as desigualdades sociais. Outra questão é que há enorme reincidência no crime após sair da prisão. “A prisão não dá condições para buscar outros caminhos”, afirma Valéria.

Já Franciele Cardoso, da Faculdade de Direito apresentou algumas questões como a necessidade de ir além da análise jurídica para dar conta desse assunto. Sobre as motivações ela coloca que não há informação suficiente para as mulheres que traficam fazer escolhas racionais. Por último, a estudante de Direito Priscylla Kethellen Viana, falou um pouco sobre sua pesquisa com presas em Goiânia, que ainda está em fase preliminar. Ela destacou a relação do sistema capitalista e como ele desenha a guerra às drogas. Também colocou uma outra questão que é a dificuldade de conseguir informações e entrevistas com as presas, em se inserir nos presídios para realizar a pesquisa.
O segundo dia de evento foi um minicurso com representantes da Pastoral Carcerária que trouxeram também dados que serão lançados em breve sobre encarceramento no país. O curso foi ministrado por Luísa Cytrynowicz e irmã Petra Silva Pfaller, ambas da Pastoral Carcerária.
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