Parceria busca garantir permanência de indígenas
Encontro entre a universidade e a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi organizado pelo Programa UFGInclui
Texto: Carolina Melo
Fotos: Carlos Siqueira
“Os direitos conquistados não estão assegurados. Nosso cenário atual é de luta pela garantia dos direitos já conquistados”. A afirmação foi realizada pelo coordenador geral de Processos Educativos da Fundação Nacional do Índio (Funai), André Ramos, que participou de uma reunião do Programa UFGInclui realizada nesta quarta-feira (09). O encontro visou futuras parcerias entre a Universidade e a Fundação para a divulgação do programa e para os processos de inclusão e permanência dos candidatos indígenas.
As formas de seleção, a inclusão e, especialmente, a permanência do estudante indígena na universidade nortearam a conversa, que buscou encontrar estratégias para enfrentar o cenário de redução e cortes de orçamentos. A vice-reitora Sandramara Chaves, durante o encontro, relembrou a construção do Programa UFGInclui, que se antecipou à Lei de Cotas, e garantiu vagas a mais para estudantes indígenas e quilombolas. Também destacou o atual desafio de permanência do acadêmico na instituição. “Um grande desafio é a permanência. Sabemos que a evasão está relacionada a inúmeros fatores. Outro desafio é trazer para a universidade mais estudantes das comunidades indígenas, quilombolas e de escolas públicas. Nosso objetivo é que a Funai nos ajude nesse processo de divulgação do programa. E precisamos nos unir para garantir condições de permanência desses acadêmicos”, afirmou.

Ercivaldo Xerente, do povo Akwé, ressaltou a importância da parceria entre universidade, Funai e indígenas
O doutorando em Antropologia Social, Ercivaldo Damsõkekwa Xerente, do povo Akwé de Tocantins, elogiou a iniciativa de parceria com a Funai e destacou a importância de uma política de permanência tanto para os indígenas quanto para os quilombolas. “Aquele estudante indígena e quilombola que sai da sua comunidade para cursar a universidade é um guerreiro, pois a cidade é um contexto muito diferente do que se vive nas comunidades. A gente vem de tão longe e nos deparamos com o abandono. Eu mesmo, se não tivesse uma rede de apoio de amigos e professores, não teria conseguido me manter e não sei se vou continuar no próximo semestre, caso não consiga um auxílio”, afirmou.
A reestruturação da Funai sem a devida consulta pública e a redução orçamentária foram destacadas pelo coordenador da Funai, André Ramos, para ilustrar o cenário político de enfrentamento em relação às garantias de direitos. Segundo ele, entre as estratégias de ações, a Educação deve ser pauta prioritária tanto da Fundação quanto do movimento indígena. “A estratégia é que essa pauta e suas demandas, como a Bolsa MEC, tem que sair do mérito da coordenação e ser uma pauta da direção da Funai e do movimento indígena. O movimento deve levar a pauta da Educação como prioridade. Os direitos conquistados não estão assegurados”. De acordo com André Ramos, os estudantes indígenas estão ficando desamparados nas universidades e o número de evasão vem crescendo.
Durante o encontro, a coordenadora de Ações Afirmativas (CAAF) da UFG, Marlini Dorneles de Lima, a coordenadora da Coordenação de Inclusão e Permanência, Suzane de Alencar Vieira, e a diretora de Atenção Estudantil, Camila Cardoso, fizeram a apresentação do recente levantamento de dados do UFGInclui. Conforme informado, contando com o curso de Educação Intercultural, a UFG tem 384 estudantes indígenas ativos na graduação, sendo 258 homens e 126 mulheres. Especificamente do programa UFGInclui são 107 estudantes da regional Goiânia, 19 de Jataí, cinco de Catalão e cinco da Cidade de Goiás. Ao todo, 350 acadêmicos têm alimentação isenta nos Restaurantes Universitários, seis têm isenção parcial, 16 recebem Bolsa Moradia e 44 estão nas moradias universitárias. “Os cortes nos preocupam, mas nossa perspectiva é alcançar o maior número de estudantes”, afirmou Suzane de Alencar, da Coordenação de Inclusão e Permanência.
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