Nós por Nós discute trajetória de cotas na UFG
A pesquisadora Mariza Fernandes conduziu o primeiro dia do Seminário que é parte da acolhida de estudantes cotistas na Universidade
Texto e Foto: Amanda Costa
No primeiro dia de matrícula dos ingressantes 2018.1 na UFG, Mariza Fernandes esteve presente na nova atuação da Comissão de Verificação de Autodeclaração, iniciativa da universidade que agora também passa a verificar as características fenotípicas de estudantes cotistas que se autodeclararam negros ou indígenas na candidatura de vagas na Universidade.
Um dos inúmeros estudantes que no ato da matrícula tiveram que passar pela Comissão foi chamado e encaminhado para a banca que Mariza compunha. Entre outras perguntas, o estudante foi questionado desde quando ele se reconhece como negro. Ele, então, respondeu que desde quando uma professora de sua escola pública em Aparecida de Goiânia promoveu discussões em sala de aula que superavam a visão do ser negro, cotidianamente vinculada à contextos de pobreza e violência.
Essa situação foi exposta no primeiro dia do Seminário Nós por Nós, que teve início na última sexta-feira (23) e busca socializar histórias de vidas e trajetórias acadêmicas para pensar ações afirmativas na caminhada universitária. Mariza Fernandes, mulher, negra, estudante e pesquisadora conduziu a palestra inaugural que teve como tema principal "Trajetória das cotas na UFG".
Para Mariza, o acontecimento do primeiro dia de atuação da Comissão se mostrou como um resultado positivo de luta no que diz respeito ao reconhecimento da negritude. Além disso, também considerou a ocorrência de um ciclo poderoso, já que a mesma professora citada pelo estudante é mestra em antropologia pela UFG, trabalha com o tema de relações raciais, já foi sua colega de trabalho no Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-raciais e Espacialidades (LaGENTE) e atualmente é professora na escola em que seus irmãos estudaram, em Aparecida de Goiânia.
Trajetórias históricas
Durante o Seminário, a pesquisadora se dedicou a lembrar dos processos históricos - e árduos - que levaram à adoção de cotas na UFG e também ações que refletem nos avanços referentes principalmente às relações raciais. Para ela, é preciso considerar contextos, trajetórias e personagens passados que tornaram possíveis o acesso à política publica de cotas e, ao mesmo tempo, a ampliação de seu debate em variados espaços.
Mariza lembrou algumas datas marcantes no processo de adoção de cotas âmbito da UFG, que se inicia em 2000 com a inserção do Movimento Negro Acadêmico na universidade e ganha força nos anos seguintes com a criação do Coletivo de Estudantes Negros Beatriz Nascimento (CANBENAS) e do Núcleo de Estudos Africanos e Afrodescendentes (NEAD).
Todos os esforços do coletivo e núcleo culminaram na elaboração de um pré-projeto de Ações Afirmativas em 2006, o qual propunha a reserva de 20% do total de vagas em todos os cursos para negros/as, a oferta de disciplinas sobre relações étnico-raciais e também mudanças no acervo da biblioteca. Apesar de o pré-projeto não ter sido aprovado, em 2008, a universidade adotou a reserva de vagas por meio do programa UFGInclui e passou a colaborar na ampliação das ações afirmativas, inclusive para estudantes de escolas públicas.
Por fim, Mariza expôs a atual das Ações Afirmativas da UFG, que em 2014 e 2015 criou a Coordenação de Inclusão e Permanência e a Coordenadoria de Ações Afirmativas, respectivamente. Também em 2015, a universidade aprovou a adoção de nome social e se tornou a primeira universidade do Brasil a adotar cotas raciais em todos os programas de pós-graduação. Recentemente, em 2018, a UFG passou a adotar cotas para pessoas com deficiência e realizar procedimento de verificação da autodeclaração.
Para a pesquisadora, todas essas conquistas são resultado de lutas coletivas que tiveram personagens dedicados ao enfrentamento de desafios. Hoje, a universidade caminha, mas Mariza enfatiza que não se pode esquecer que, assim como dizia Jurema Werneck, "Nossos passos vêm de longe".
Fonte: Secom/UFG
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