
Jovens pesquisadores discutem direitos e deveres
Condições de trabalho, assistência estudantil, cobrança por produtividade e problemas de saúde mental são pontos que preocupam pós-graduandos da UFG
Texto: Patrícia da Veiga
Foto: Ana Fortunato
Boa parte da produção científica do país está atrelada à formação de jovens pesquisadores nos Programas de Pós-Graduação. Sendo assim, os cortes orçamentários aplicados a diversas áreas, inclusive Educação, Ciência e Tecnologia, afetam diretamente as condições de trabalho de uma legião de profissionais que se enveredam pelo caminho da pesquisa todos os anos. Preocupados com um presente já afetado pela política de desmonte em curso e com um futuro incerto, mestrandos e doutorandos vinculados aos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e Sociologia têm buscado se mobilizar. Para tanto, eles convidaram representantes da Associação de Pós-Graduandos da UFG (APG – Gestão Rizoma) para uma conversa na sexta-feira (6/10).
Na ocasião, foram discutidos temas como assistência estudantil, luta por direitos e possibilidades de organização. O presidente da APG, Carlos Klein, fez uma breve explanação sobre a trajetória da luta política no âmbito da Pós-Graduação e destacou os desafios de representar uma categoria que, apesar de crescente no Brasil, tem em si uma “ambiguidade”. Segundo ele, isso faz com que questões básicas ainda precisem ser defendidas, tais como remuneração, férias e licença maternidade/paternidade. “O direito ao salário, por exemplo, é algo que ainda é motivo de luta, uma vez que muitos pós-graduandos em todo o país não conseguem bolsa. Isso tem a ver com uma questão que perpassa a nossa condição: somos estudantes ou trabalhadores?”, instigou Klein, que é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia.
O advogado Daniel Oliveira, que cursa Mestrado em Direito Agrário e também integra a APG, apresentou um panorama dos marcos legais da Pós-Graduação no Brasil e destacou a necessidade de “provocar a universidade” no sentido de promover mais debates acerca dos direitos e dos deveres dos jovens pesquisadores. “Em Goiás, somos cerca de duas mil pessoas. Número pequeno se comparado a São Paulo. Mas, não somos irrelevantes. Cerca de 90% da produção científica brasileira passa diretamente pela Pós-Graduação. Então, por que não temos garantidos certos direitos e alguns deveres não estão limitados? Muitas vezes somos muito cobrados e não temos uma contrapartida”, defendeu. Para qualificar a discussão, ele sugeriu que todo pós-graduando esteja ciente do que está escrito no Plano Nacional da Pós-Graduação e tenha em mãos o manual organizado pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Mais questões
Outro aspecto levantado nesse encontro foi o risco de descredenciamento do Doutorado em Sociologia, que perdeu pontos na última avaliação do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A UFG ainda pode recorrer do resultado, mas os discentes já demonstram preocupação e questionam os critérios desse cálculo de desempenho. “O sistema de financiamento e avaliação que existe hoje no país é quantitativo e meritocrático. A ANPG não tem acordo. Não faz sentido você dar menos incentivo a Programas que têm notas menores”, afirmou Carlos Klein.
A proteção à saúde mental também fez parte dos pontos de pauta. A antropóloga Rosana Schmidt lembrou dos casos de depressão, síndrome do pânico e crise de ansiedade que rondam o trabalho do pós-graduando. Sua sugestão foi que um seminário somente sobre o tema fosse organizado no âmbito da APG. “Precisamos pensar em formas de acolher nossos colegas”, considerou.
Até o fim deste ano, outras atividades com a mesma natureza serão organizadas. Os pós-graduandos em Sociologia e Antropologia sugeriram promover, além do seminário sobre saúde mental, um debate acerca das relações entre cortes de verbas e conjuntura política atual. E a APG anunciou a realização de dois seminários: um sobre os cem anos do químico russo Ilya Prigogine e sua concepção de ciência; outro sobre o futuro de mestres e doutores em um cenário global de desemprego.
资源: Ascom/UFG