Qual a relação entre a bancada ruralista e as mudanças climáticas?
Documentário Sem Clima, produzido pelo observatório De Olho Nos Ruralistas, incitou debates sobre questão agrária e jornalismo contra-hegemônico
Foto: Ana Fortunato
Qual a relação entre a bancada ruralista e as mudanças climáticas? O Brasil seria capaz de cumprir o acordo do clima firmado por 195 países em 2015, em Paris? Esses foram alguns dos questionamentos provocados pelo documentário "Sem Clima - uma República controlada pelo Agronegócio", exibido nesta quarta-feira (17/5) no Cine UFG. Uma produção do observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com a TV Drone e a Escola de Ativismo, o filme apresenta como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a maior "bancada" do Congresso Nacional, se organiza e se articula para defender os interesses do agronegócio e, consequentemente, para responder às pautas do meio ambiente. No desenrolar da narrativa, uma equipe de jornalistas acessa uma reunião da FPA, faz questionamentos sobre o tema das mudanças climáticas e acaba sendo expulsa do local. Essa situação provoca tensão na trama tecida e também no expectador.
Na manhã desta terça, o documentário serviu como ponto de partida para um debate sobre questão agrária e jornalismo contra-hegemônico. Participaram dessa roda de conversa a professora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Luciene Dias, o professor do Instituto Estudos Socioambientais (Iesa), Adriano Oliveira, o professor visitante da Universidade Intercultural de Chiapas, Augustín Ávila, e a representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Jeane Bellini.
A professora Luciene Dias lembrou que a cidadania pressupões direitos e deveres e um dos deveres é sermos agentes construtores da própria cidadania. Assim, segundo ela, a exibição do documentário, oferece aberturas para que a opinião pública seja formada de maneira saudável. Da perspectiva jornalística, a professora explicou que vozes dissonantes da mídia hegemônica são essenciais. "Com esse trabalho, o cidadão comum pode perceber minimamente as entrelinhas dessa grande e complexa bancada ruralista", afirmou. Para Luciene, a pluralidade de vozes precisa ser considerada na elaboração de políticas públicas. "Mais do que nunca precisamos colocar nossas vozes nas ruas e fugir desse discurso único. Senão entramos num ciclo vicioso em que o agronegócio se fortalece e sempre trabalha para se fortalecer", completou.
Jeane Belini lembrou os conflitos no campo que afetam comunidades tradicionais e originárias e desejou que projetos como o documentário ajudem na formação de uma voz crítica. Adriano Oliveira destacou que a mídia legitima e vende um campo brasileiro desprovido de conflitos, onde os movimentos sociais são tratados como empecilho para barrar o desenvolvimento. "Precisamos nos perguntar sobre o que é o agronegócio e questionar quem é que realmente produz comida no Brasil", provocou. O professor do Iesa lembrou que não há consenso do ponto de vista acadêmico sobre o aquecimento global, observando que o agronegócio apropria-se desse fato a favor dos interesses do capital.
Já para o professor Augustín Ávila, "o aquecimento global é real". Segundo ele, a discussão sobre o agronegócio é necessária e urgente porque vivemos um contexto grave e complexo. O professor afirmou que projeções mostram um aumento da temperatura global e é necessário que adotemos um pensamento intergeracional. "Que mundo vamos deixar para os nossos netos?", questionou, lembrando ainda que o agronegócio não produz comida, mas sim commodities para exportação.
Sem Clima estreou em São Paulo no dia 30 de março e desde então vem sendo exibido em algumas cidades brasileiras. A ideia é provocar debates e, também, divulgar a Campanha De Olho nos Mil Parceiros. Interessados em levar o filme para a sua instituição podem acessar este link.
Convidados e públicos refletiram sobre questões relacionadas ao documentário
Fuente: Ascom UFG
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