Mulheres de rua grávidas recebem atenção no atendimento obstetrício
Pesquisa propõe novo modelo assistencial a grupo social vulnerável e carente de políticas públicas efetivas
Mesmo com avanços na Política Nacional de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), que prevê amplo apoio médico ambulatorial à gestante, pesquisa realizada por profissionais da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG) constatou as dificuldades de mulheres em situação de rua no período de gestação, parto e pós-parto, como acesso à unidade de saúde, despreparo dos profissionais de saúde e falta de estratégias de apoio para oferecer atenção às particularidades dessas mulheres, que acabam não tendo o atendimento adequado.
O professor Marcos André de Matos coordenou pesquisa, em 2015, com um grupo de mulheres grávidas que passaram pelo período gravídico puerperal, tendo a rua como local de residência. O trabalho segue com o monitoramento de atendimentos públicos de saúde a esse segmento em três maternidades da Capital. A ação visa contribuir para o direito da assistência adequada à mulher gestante, por meio da melhoria dos protocolos de atendimento e da conscientização profissional.
O estudo revelou que a maioria das mulheres é jovem, negra ou parda e com baixa escolaridade. São excluídas da sociedade ainda na adolescência e o uso abusivo de substâncias ilícitas é comum. Quase a metade das 12 entrevistadas pela pesquisa, entre 18 e 36 anos, estava na quinta gestação, entre 18 e 32 meses. A metade referiu histórico de aborto e nove desconheciam a paternidade do filho. A totalidade delas apresentou maternidade prejudicada.
De acordo com o pesquisador, foi unânime o relato do despreparo dos profissionais de saúde no atendimento a essas mulheres, devido à falta de disciplinas durante sua formação acadêmica e profissional. Ainda, a totalidade desconhecia a Portaria 77/2014, da Secretaria Municipal de Saúde, que dispõe da equidade e o acesso universal das moradoras de rua de Goiânia no âmbito do SUS e ainda mantém o foco nas estratégias consideradas intervencionistas e invasivas, em detrimento às práticas mais humanizadas, que incluem o apoio emocional e social.
Protocolo específico
Um dos resultados da pesquisa foi a criação de um protocolo de atendimento às mulheres de rua, discutido e adotado pelo corpo médico e de enfermagem de maternidades goianas que o adotaram. Procedimento simples e barato, na consulta inicial, o protocolo já antecipa inúmeras intervenções preventivas e diagnósticas, minimiza abortos e malformações fetais, diagnostica doenças, vacina as mulheres contra doenças imunopreveníveis, possibilitando já tratar as que possuem agravos. “Agiliza o atendimento a esse grupo que, devido ao uso frequente de álcool e drogas, ao preconceito da sociedade e ao despreparo dos profissionais de saúde e de recepção das maternidades não procuram esses serviços”, completa o professor.
Em fase de implementação, o documento orientador foi aprovado pelo Movimento de Nacional da População em Situação de Rua de Goiás, pelo Hospital Materno Infantil e pelas maternidades Dona Íris e Nascer Cidadão. “O protocolo já possui várias avaliações positivas de todos os atores sociais envolvidos. Consideramos um instrumento de empoderamento da mulher em situação de rua e um resgate do seu direito enquanto cidadã”, afirma o professor.
Prêmio
O trabalho foi premiado no II Congresso Internacional de Enfermagem Obstétrica e Neonatal, em dezembro de 2015, e será publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.
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